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Uma crônica de amor na mesa de bar

(ou: Procura-se a menina de vestido meio roxo que enlouqueceu a pessoa anônima)

17/09/2016 21:26

O papel meio amassado estava grudado na parede ao lado do espelho que fica em cima das pias de lavar as mãos. Havia também uma cópia do mesmo desenho, e com os mesmos dizeres, grudado dentro do banheiro feminino, em um lugar estratégico. O recado, com um autorretrato desenhado cuidadosamente à mão, dizia assim:

“Procura-se esta garota. Estava aqui no Orelha na véspera de feriado (dia 06/09/2016), acompanhada de 3 amigas, vestia um vestido meio roxo, um colar grande, sandálias e usava os cabelos presos. Fofura demais!!! Pode ser que ela saiba quem eu sou pq eu ñ parava de olhar.

p. s.: se for comprometida eu espero!”

Sem telefone para contato. Sem identificação do anônimo apaixonado. Olhei o anúncio uma vez. Duas vezes. Na terceira, ainda não estava acreditando no que via. Tirei a a foto do desenho ainda comovida e não quis perguntar para ninguém do bar se esse recado foi motivado realmente por amor. Certas coisas merecer o ar do mistério.

Pelo desenho feito a mão, a garota que enfeitiçou (ainda se utiliza esse termo para falar de amor?) o autor ou a autora do recado, parecia ter um coração leve. Seus olhos deviam sorrir junto com sua boca, quando acabava uma música entediante e começava a sair Marisa Monte das caixas de som daquele bar. Pelo dia que foi o pivô de uma nova paixão, devia está em um happy hour.

Aposto que se sentava naquela mesa lá do canto, muito disputada. E que também interrompia a conversa com as amigas, já um pouco bêbada, para levantar o coro quando a música começava: “1,2,3.... Depois de sonhar tantos anos, de fazer tantos planos, de um futuro pra nós. Depois de tantos desenganos, nós nos abandonamos como tantos casais. Quero que você seja feliz. Hei de ser feliz também...”. E, como frequentadora assídua do bar, já sabia a playlist daquela noite decorada e esperava ansiosa para cantar: “Mal acostumaado você me deixooooou, mal acostumadoooo, com seu amoooor” e emendar, ela e as amigas, com a próxima da lista – agora com os celulares servindo como microfone –, “E nessa loucura de dizer que não te quero, vou negando as aparências, disfarçando as evidências, mas pra que viver fingindo, se eu não posso enganar meu coração?”.

Se o anônimo ou a anônima ainda estiver com o coração meio comovido com a beleza da garota-da-véspera-do-feriado, aí vai uma sugestão: se ela não tiver com as amigas na mesa do Orelha de Van Gogh, dê mais uns passos, no rumo do posto que ela deve está sentada no banquinho do Select, acendendo um cigarro e louca para acender também o coração.

p.s.: se o encontro acontecer e não acabar em um relacionamento duradouro, espero que pelo menos o sexo seja bom!

Boa sorte querido anônimo ou anônima apaixonado.

Para ouvir: É ela - Teatro Mágico 

Por: Aldenora Cavalcante
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