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Uma homenagem às mães imperfeitas

Cobramos das mulheres que não errem no exercício da maternidade. Fazemos isso com os homens? Não, né.

11/05/2017 10:41

Quando eu me resolvi sexualmente, decidi que não queria viver dentro do armário. Namorar escondido foi uma das piores experiências da adolescência e depois de adulta, responsável e independente, não tinha porque passar por isso novamente. Então saí de Teresina rumo ao Mundo Novo, zona rural do sertão pernambucano, determinada a contar.

No último dia da viagem, aproveitei que painho e mainha estavam deitados na cama e me coloquei ali entre eles. A frase saiu gaguejante. “Sabe aquela amiga que veio pra festa da minha formatura? A gente está namorando”.

E é agora que eu começo a minha homenagem pelo Dia das Mães. Não aquela homenagem clichê, de que eu tenho a melhor mãe do mundo. Mas posso dizer que tenho a mais amorosa.

Nesse dia em que eu contei sobre a minha orientação sexual, a reação de mainha veio em um tom engraçado. “Valha, minha nossa senhora!”. Depois ela disse a frase que cortou um pouco meu coração. “Vou ficar com vergonha da minha família”. Não foi fácil ouvir isso, viu. Mas pra ela também não foi fácil ouvir o que eu tinha acabado de falar. 

Uma vez uma amiga me disse que as mães não são perfeitas. E ela tem rezão. Cobramos das mulheres que não errem no exercício da maternidade, que sejam sempre compreensivas, amorosas e atenciosas. Fazemos isso com os homens? Exigimos deles o mesmo cuidado com a paternidade? Não, né.

Portanto, nesse texto, eu quero homenagear as mães imperfeitas. A minha própria mãe, as minhas tias, as minhas amigas, a minha namorada, a minha colega de trabalho que teve depressão pós-parto e superou com terapia. A verdade é que não existe um modelo de maternidade. O que não pode faltar é o amor.

A minha mãe me ama incondicionalmente, mesmo com as imperfeições (de nós duas). Ela já me disse coisas que magoaram muito, mas abre mão de continuar falando quando percebe isso. “Eu já tinha dito que não ia mais falar nessa história”. Ela continua tendo vergonha por eu ser lésbica, mas nega até a morte. “Eu só me preocupo, minha filha”. Ela certamente queria netos, mas disfarça essa vontade com uma inquietação. “E quem vai cuidar de você quando tiver velha?”.

O meu lado militante não me deixa fechar os olhos para algum preconceito camuflado nessas frases, mas me digam se aí não tem mais amor do que qualquer outra coisa!

E quem precisa de perfeição, quando existe um sentimento tão nobre como esse? Um amor grande assim, minha gente, é coisa muito rara nesse mundo. 

Fonte: Nayara Felizardo
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