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Concurseiros apostam na "Pílula da Inteligência" para potencializar estudos

Em proporções cada vez maiores, medicamentos psiquiátricos são utilizados por pessoas saudáveis sem nenhuma prescrição médica

28/01/2017 08:55

Até conseguir conquistar o sonho de ter uma vaga no serviço público, estudantes passam por longos períodos de dedicação. São horas a fio dedicados a estudos em casa, biblioteca, na internet ou em cursinhos. Mas parece que apenas estudar não tem sido suficiente para a aproximação do almejado plano. Em proporções cada vez maiores, os jovens tem lançado mão do uso de medicamentos no intuito de ‘potencializar’ os estudos. Rotuladas como ‘pílulas da inteligência’, os medicamentos psiquiátricos são utilizados por pessoas saudáveis sem nenhuma prescrição médica. 

A concurseira Ana* é uma das jovens que aderiu ao uso de medicamentos. Após indicação do noivo, que também estudava para concursos, o uso do metilfenidato, princípio ativo do medicamento mais conhecido comercialmente como “Ritalina”, passou a ser parte da sua rotina durante cerca de seis meses – em proporções variáveis. 

Foto: Assis Fernandes/ODIA

O metilfenidato potencializa a ação dos neurotransmissores noradrenalina e dopamina, reduzindo o que é clinicamente chamado de déficit de atenção, o DAH. Isso faz com que o indivíduo hiperativo fique mais atento, concentrado. Essa ação da ritalina junto aos hiperativos leva muitos concurseiros a usarem o medicamento em busca de resultados semelhantes, no entanto, a droga pode causar uma falsa impressão. 

“Há um ano, usei diariamente a ritalina durante dois meses enquanto me preparava para um concurso. Como resultado vi que comecei a estudar por mais tempo sem perder a concentração, mas também senti a diminuição do sono. Estudava cerca de oito horas por dia, a noite ia para o cursinho, chegava em casa e só conseguia dormir depois de meia noite”, explica Ana. 

Sem prescrição médica, o medicamento era conseguido através da ajuda de um funcionário de um hospital. Após dois meses de uso contínuo da ritalina, Ana lembra que sentiu que o medicamento não surtia mais o efeito do início da administração. “Com o tempo, vai perdendo o efeito. Depois desses dois meses resolvi ir parando. Fiz o processo de redução aos poucos, se eu tomava um comprimido de 10mg por dia, passei a tomar apenas 5mg. Depois de um tempo, diminui a frequência dos dias e tomava só algumas vezes na semana e, assim, consegui parar após seis meses”, relata. 

Mesmo sem o uso diário, Ana confessa que ainda se utiliza do medicamento em dias de provas de concurso ou quando o cansaço pela rotina de estudos incomoda. “Não é mais todo dia e acredito que aprendi a administrar”, confessa. 

O que Ana relata é similar na vida de muitos outros concurseiros e universitários. Virgínia* fez uso do medicamento há quatro anos. Ela estudava para provas de concurso de cartórios e com o medicamento percebeu que a atenção que antes era dispersa, melhorar. 

No entanto, a jovem ressalta que o medicamento veio para responder a uma necessidade que ela nem sabia que tinha. “As pessoas falavam que melhorava na atenção e por isso busquei. Comecei a tomar sem indicação, mas depois de um tempo fiz exames e descobri que tinha Défict de Atenção, a partir de então passei a tomar sob prescrição médica”, relata. 

A droga, apesar de comum entre os estudantes, também se torna motivo de acirramento. Virgínia lembra que, quando um concurseiro sabe que alguém utiliza o medicamento, surge o indicativo de que aquilo é utilizado como uma forma de ‘jogo sujo’. “Nem todo mundo usa, ai quem não toma sempre fica achando que é uma concorrência desleal”, comenta. 

Apesar da fama que lhe rendeu o apelido de “pílula da inteligência” ou “droga dos concurseiros”–, uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que o medicamento não beneficia a atenção, a memória e as funções executivas (capacidade de planejar e executar tarefas) em jovens sem o transtorno de déficit de atenção. 
Por: Glenda Uchôa
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