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Após Carne Fraca e delações, JBS entra em guerra de preço com rivais

Essa estratégia vem sendo aplicada sobretudo em sua principal linha de negócios, a de carnes e congelados

01/08/2017 08:26

A JBS, dona das marcas Friboi e Seara, decidiu reduzir suas margens e partir para a guerra de preço com os concorrentes. De acordo com quatro grandes redes de supermercados, essa estratégia vem sendo aplicada sobretudo em sua principal linha de negócios, a de carnes e congelados. A queda nos preços é um tentativa de segurar as vendas, afetadas pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, e pela delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da empresa. Por outro lado, os rivais aproveitam o momento de dificuldade da maior empresa de proteína animal do país para estimular essa competição e ganhar espaço nas gôndolas, com redução no custo para o varejo e propostas agressivas de promoção.

O executivo de uma das maiores redes do país ressalta que os preços das carnes dianteiras e traseiras da JBS estão se aproximando dos da concorrência. Ele explica que, antes da crise atual, o quilo da carne da companhia tinha uma valor entre R$ 2 e R$ 3 maior que os dos concorrentes. Hoje essa diferença caiu para algo entre R$ 0,50 e R$ 1. Essa fonte vai além: diz que a tendência é que os preços da companhia fiquem iguais aos do resto do setor.

"Carne sempre foi commodity. A JBS cobrava mais caro porque tinha uma marca. E hoje essa marca não vale tanto quanto antes. Por isso, a tendência é que os preços da companhia fiquem iguais aos do resto do mercado. O cliente está resistente, e o movimento é para baixo",  disse esse executivo, que pediu para não ser identificado.

Promoção de Laticínios 

Em alguns casos, as redes já cancelaram o fornecimento de alguns dos principais produtos da JBS. Uma dessas companhias cita o caso da carne moída, que passou a ser vendida na marca Do Chef. O produto, que já vem moído dos frigoríficos, é vendido em embalagens fechadas.

"Foi até engraçado, porque a carne moída mudou. No dia que cadastrei a marca entre os fornecedores, viralizou na internet que a empresa havia mudado o nome do produto. E não adiantou nada fazer essa mudança. Nessa semana, decidi suspender e substituir pela Best Beef. A carne moída dura 15 dias. O produto só estava vendendo com promoção, mas aí a margem é zero. Como a validade é relativamente curta ou era isso ou tinha que jogar fora. Passei, então, a olhar outros fornecedores, como Marfrig, Boi Brasil e Master Boi. Agora, já ouvi falar que a JBS vai investir na marca Swift", destacou o diretor de uma das redes.

Consultadas pelo GLOBO, outras redes confirmam o movimento de aproximação dos preços da JBS em relação à concorrência como forma de manter sua participação de mercado. Além disso, a companhia também enfrenta, assim como todo o setor, a crise econômica, que vem trazendo deflação ao segmento de carnes bovinas.

De acordo com o IBGE, a categoria carnes registrou, em junho, uma deflação de 1,23%, contra queda de 0,23% no índice geral e de 0,5% no segmento alimentos e bebidas. No acumulado do ano, o recuo das carnes é maior: de 2,68%. Nessa mesma base de comparação, a inflação do país acumula alta de 1,18%, e a de alimentos têm redução de 0,03%.

"Tem a crise econômica, a Operação Carne Fraca e as delações dos irmãos Batista. É muita notícia ruim, e tudo ajuda a derrubar as vendas. A JBS vem informando o varejo de que a ação da Polícia Federal afetou mais as vendas do que a delação de seus donos. Há uma preocupação em mostrar que a empresa segue uma vida normal. Com isso tudo, as vendas de suínos e derivados e os embutidos, como salsicha e presunto, tiveram queda de 25% a 30%. Em carne vermelha, os cortes mais nobres foram mais afetados. Alcatra e contrafilé tiveram recuo de 10% nas vendas nos últimos meses em relação ao período anterior", detalhou um executivo.

A Seara também vem sentindo os efeitos do momento atual. Segundo um desses varejistas, a rival BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, vem “atacando para pegar mercado”. O movimento, endossado por outras companhias, inclui propostas agressivas de promoção e ações de degustação nos pontos de venda. Uma dessas companhias lembrou que a redução dos preços das marcas da BRF varia de 5% a 8%.

"Existe uma agressividade. Isso vale para todos os congelados, como lasanhas e nuggets. A BRF está atacando para pegar mercado. É uma questão de sobrevivência. A empresa está vindo forte, até porque o momento atual é de queda nas vendas do setor. É um ano de angústia para todos. A Chapecó também vem avançando muito no Brasil inteiro. Os fornecedores regionais também estão com ampliação, como a Pif Paf, do Frigorífico Silva", destacou outro executivo.

Embora as marcas de carnes sejam as mais afetadas, o segmento de laticínios também vem sofrendo uma aversão por parte do consumidor, embora de forma “mais suave”. Segundo as redes, a companhia também vem promovendo promoções com seus produtos da Vigor e Itambé, como iogurtes. Em alguns casos, a redução no preço ao consumidor chega a R$ 0,60.

"O movimento de redução de preço é menor em relação a carnes e embutidos. Esse segmento vem sofrendo com a crise atual. A empresa que mais vem ganhando mercado é a Lactalis, dona da Batavo e Elegê", disse uma fonte.

 JBS conclui venda de operações à minerva

O professor de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV) Antonio Cesar Carvalho, sócio da Acomp Consultoria, diz que a agressividade do grupo JBS e das marcas que fazem parte da holding J&F tem como objetivo manter a geração de caixa da companhia.

"Houve uma reação de boicote dos consumidores. E isso gerou uma redução, que aumentou ainda mais com a crise da economia. Para os concorrentes, isso tudo gera uma oportunidade. E, com a mobilização dos concorrentes, eles têm que ser agressivos para continuar vendendo e gerar caixa. A empresa tem um acordo de leniência e precisa de dinheiro para honrar seu acordo", afirmou Carvalho.

“A JBS informa que o seu relacionamento com o varejo segue em ritmo normal, dentro do plano de negócios da Companhia. Os investimentos feitos pela empresa em suas marcas, assim como a política de precificação e volumes estão em conformidade com o orçamento projetado para o período”, afirmou a empresa. A BRF não quis se manifestar.

Ontem, a JBS comunicou ao mercado que concluiu a venda de suas operações de carne bovina em Argentina, Paraguai e Uruguai para unidades da rival brasileira Minerva. Ao todo, a empresa faturou US$ 300 milhões com a operação, dos quais US$ 280 milhões em dinheiro no fechamento da transação e o restante após a conclusão da due diligence (processo de auditoria).

Fonte: Extra
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