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Carbono pode se tornar moeda no mercado financeiro internacional

"˜Green bonds"™ têm potencial para movimentar US$ 100 tri

11/01/2016 08:55

O mundo financeiro se prepara para uma nova era econômica: a do clima. Bancos centrais e instituições incluíram a mudança do clima nas equações que medem os riscos para a estabilidade financeira global. O histórico acordo de combate ao aquecimento global firmado por 195 países no fim de 2015 em Paris abriu as portas para o que pode se tornar um Bretton Woods verde, com permissão para que o carbono se torne moeda de troca num futuro próximo. Esta é uma das interpretações do artigo 117, que fala no “valor social e econômico das ações de mitigação”. Bretton Woods é a cidade americana que recebeu, em 1944, representantes de mais de 40 nações para firmar acordo monetário e financeiro que serviria como parâmetro para a economia após a Segunda Guerra Mundial. O acordo definiu o dólar como moeda de referência internacional com valor atrelado ao ouro.

Enquanto se busca dar um preço para a captura de carbono, o mercado de green bonds, os títulos verdes, avança. São papéis que financiam empresas que investem em tecnologias de baixa emissão e reduzem o consumo de água, energia e matérias-primas. Os papéis verdes têm potencial de movimentar US$ 100 trilhões, de acordo com estimativa da Climate Bonds Initiative, organização sem fins lucrativos inglesa. Ela tomou como base declarações públicas de gestores que movimentam US$ 45 trilhões e deslocariam recursos a projetos sustentáveis. A organização considerou nas projeções a demanda por esses títulos, sempre maior que o montante oferecido no mercado. Em 2015, foram emitidos US$ 41,84 bilhões desses papéis, 14%a mais que em 2014.

— É um mercado crescente. Muitas das emissões de green bonds tiveram mais interesse por parte dos investidores do que originalmente pensado — disse Annelise Vendramini, coordenadora do Programa de Finanças Sustentáveis da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo.

Foi o que aconteceu com a BRF, dona de marcas como Sadia e Perdigão. Ela ofereceu ao mercado europeu € 500 milhões em títulos verdes, com prazo de sete anos e juros de 2,82% ao ano. A procura pelos papéis foi mais de quatro vezes maior. A empresa poderia ter captado € 2,3 bilhões se atendesse a toda a demanda. Foi a única brasileira a emitir green bonds, selo que garante a gestão sustentável.

— Queríamos dar transparência e visibilidade para o mercado do que já está implícito dentro da companhia. Tivemos o benefício da diversificação. A BRF já é conhecida no mercado de dólares — afirmou Elcio Ito, diretor de Finanças.

Segundo o secretário de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Klink, os green bonds são tema recorrente no ministério.

— A discussão está no Meio Ambiente, na Fazenda, no BNDES, na Febraban (Federação Brasileira dos Bancos). Discutimos também debêntures (títulos de dívida).

O economista francês Jean Charles Hoularde diz que as empresas que reduzirem emissões podem emitir certificados, que poderiam usar para pagar financiamentos ou vendê-los no mercado:

— Fundos de pensão podem comprar esses papéis para investir, assim como o cidadão comum, no lugar de aplicar na poupança.

Uma força-tarefa acaba de ser criada para desenvolver critérios e indicadores sobre riscos financeiros relacionados ao clima. O anúncio foi feito por Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra, o BC britânico, e do Financial Stability Board (FSB). É o primeiro passo para a criação de um sistema universal de dados. O assunto está na agenda dos bancos centrais, do Brasil inclusive. Para isso, é preciso existir regulamentação internacional.

— Seriam muitos trilhões de dólares para financiar projetos. Seria uma nova moeda, como já foi o padrão ouro no passado — afirmou o ex-deputado Alfredo Sirkis, diretor do Centro Brasil no Clima, que participou de debate sobre o tema na COP21.

Isso explica a presença de mais de cinco mil bancos e companhias em Paris. Dados do banco BNY Mellon indicam que, nos últimos três anos, a movimentação de ativos para energia, clima e ações sociais chegou a US$ 2,8 trilhões. O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Renovável, Adnan Amin, passou a conferência em campanha por um marco regulatório global. Ele quer que os recursos que serão depositados no Fundo do Clima sejam usados como garantia aos patrocinadores dos projetos. Segundo a agência, os investimentos em energias renováveis somaram US$ 240 bilhões em 2014, 14% a mais que em 2013:

— Não quer dizer que o dinheiro será usado. Mas vai reduzir os juros e estimular retornos milionários.

— Temos que ter mais produtividade, mais proteção ambiental e isso demanda operar com satélites, drones, ter uma agricultura de precisão. Não se pode mais pensar em pegar o dinheiro no BB (Banco do Brasil), plantar, cuidar, colher, vender e pagar. Serão duas a três safras por ano, integradas com pecuária intensiva, tem que incluir floresta no manejo. A meta é que todo sistema migrasse para esse modelo de financiamento de baixo carbono.

Israel Klabin, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, avalia que o setor privado está se acostumando ao novo cenário:

— O setor privado tem que estar na frente e reinventar seu modelo. Essa é a vantagem do Cadastro Ambiental Rural. A implementação é totalmente privada com aliança profunda com o governo.

Fonte: O Globo
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