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EUA pede que Brasil corte relações com a Coreia do Norte

Vice-presidente dos EUA pediu que vários países, entre eles o Brasil, rompam relações com a Coreia do Norte. Para especialista, fazer isso 'não seria uma atitude inteligente nem útil'.

18/08/2017 14:52

O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, pediu na quarta-feira (16) que vários países latinos rompam laços diplomáticos e econômicos com a Coreia do Norte. O Brasil, que é um dos poucos a manter uma embaixada no país asiático, foi um dos citados. As relações comerciais entre os dois países, no entanto, são praticamente irrelevantes. De janeiro a julho deste ano, as importações e exportações da Coreia do Norte representaram 0,1% do total transacionado pelo Brasil.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) apontam que a participação da Coreia do Norte na balança comercial brasileira é, historicamente, muito pequena. Desde 2001, quando os dois países estabeleceram uma relação diplomática, as importações e exportações poucas vezes representaram mais que 1% do total comercializado pelo Brasil.

“Eu não vejo que ganho que o Brasil possa ter ao cortar relações com a Coreia do Norte neste momento. Não creio que o Itamaraty esteja considerando”, diz Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da FAAP. “Os custos para a Coreia do Norte seriam baixíssimos, simbolicamente não teria importância. Para o Brasil, não seria uma atitude inteligente nem útil.”

Questionado pelo G1, o Itamaraty não diz se está considerando atender ao pedido do vice-presidente dos Estados Unidos.

Trocas comerciais irrelevantes

De janeiro a julho, Brasil exportou US$ 302 mil em produtos para a Coreia do Norte, e importou US$ 2,3 milhões. Os valores representam uma proporção muito pequena da balança comercial brasileira: o fluxo comercial com o país no período representou apenas 0,1% do total transacionado.

Já considerando 2016 inteiro, apenas 0,24% de tudo que o Brasil comprou e vendeu para outros países foi para a Coreia do Norte. Os dados são do MDIC.

O principal produto importado pelo Brasil da Coreia do Norte em 2017 é um composto químico que não é mais fabricado no Brasil, e é usado na produção de espuma para esponjas e semelhantes, explica a Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM).

Cleiton Schenkel, encarregado de negócios da embaixada brasileira em Pyongyang, reconhece que "comercialmente, nossas relações bilaterais são pouco expressivas no momento", mas afirma que, "entre as atividades do posto, está também contribuir nessa área, caso as circunstâncias sejam mais propícias à criação de oportunidades de negócios para empresas brasileiras."

Poggio diz que as relações comerciais dos Estados Unidos com a Coreia do Norte também são praticamente irrelevantes, motivo pelo qual os norte-americanos passaram a direcionais os apelos aos parceiros comerciais do país asiático como forma de pressioná-lo. A China, por exemplo, também já recebeu pedidos de sanções à Coreia do Norte em discursos dos EUA. “O principal parceiro comercial da Coreia do Norte é a China”, diz Poggio.

Relações diplomáticas

O Brasil é o único latino-americano com embaixadas residentes nas duas Coreias, segundo o Itamaraty. Segundo o site da embaixada brasileira na Coreia do Norte, o Brasil é um dos 11 países do mundo que mantêm relações diplomáticas com todos os países da ONU.

A relação diplomática com a Coreia do Norte teve início em 2001. A embaixada brasileira foi inaugurada em 2009 na capital do país, Pyongyang. Quatro anos antes, a Coreia do Norte havia inaugurado sua embaixada em Brasília.

Segundo o Itamaraty, “o Brasil presta cooperação técnica à Coreia do Norte em agricultura, especialmente no cultivo da soja”. Além disso, o país realizou ainda três ações de ajuda humanitária à Coreia do Norte, entre 2010 e 2012, com doação de dinheiro e alimentos.

Schenkel diz que entre as principais atividades da embaixada brasileira na Coreia do Norte está a observação das questões que envolvem o país, "ação que, em vista da sensibilidade das questões políticas na região, tem bastante relevo aqui, nos permitindo formar nossa própria visão e posição sobre os fatos".

Poggio aponta que o início das relações entre os dois países aconteceu em uma época em que “o Brasil estava passando por um momento de tentar se abrir para o mundo, tentar abrir embaixada em lugares diversos”, acrescentando que na época “a Coreia do Norte não representava essa ameaça que representa hoje”.

Apesar disso, Carlos Gustavo Poggio afirma que a relação entre o Brasil e a Coreia do Norte pode ser apontada como “muito frágil”. “O fato de ter uma embaixada não significa uma relação forte, não dá ao Brasil uma importância política.”

O professor afirma que “até os Estados Unidos chegaram a ter relações diplomáticas normais com a Coreia do Norte". "Parecia que o país ia abrir mão de seu programa nuclear. Só que eles estavam enganando os Estados Unidos para manter as relações e conseguir benefícios em troca.”

“A Coreia do Norte está ensinando para o [presidente Donald] Trump que os Estados Unidos não têm a capacidade de resolver todos os problemas sozinho. Vai precisar do auxílio de aliados”, conclui Poggio.

Fonte: G1
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