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Mulheres e negros em grandes empresas: muitos na base, poucos no topo

De acordo com estudo, situação é especialmente ruim para mulheres negras, e poucas empresas adotam medidas de incentivo

13/05/2016 10:50

Uma pesquisa realizada entre 500 empresas com os maiores faturamentos do país mostrou dados desanimadores no que diz respeito à distribuição de cargos na estrutura corporativa brasileira. Os mais representados entre aprendizes das grandes empresas, mulheres e negros - categoria que reúne pretos e pardos -, são minoria no comando, nos conselhos administrativos.

E não há tendência clara de melhora. Pretos e pardos aumentaram sua participação entre funcionários, mas diminuiram sua proporção entre gerentes desde 2007. Desde 2010, caiu a proporção deles entre executivos.

Há poucas ações coordenadas para mudar essa estrutura. Quando há medidas de incentivo, elas são “em maior parcela ações pontuais, e não políticas com metas e ações planejadas”, diz o estudo.

Os dado foram obtidos entre dezembro de 2014 e maio de 2015 com base em questionários para preenchimento on-line, enviados às empresas. Eles integram o estudo “Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas”, elaborado pelo Instituto Ethos em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). As companhias foram selecionadas a partir do anuário “Maiores e Melhores de 2014”, produzido pela revista “Exame”.

O que a pesquisa diz sobre a participação de pretos e pardos

Apesar de representarem 52,9% da população do país, pretos e pardos são apenas 34,4% dos trabalhadores das maiores empresas.

No geral, atuam na base dessas companhias. Eles respondem por 57,5% dos aprendizes e 58,2% dos trainees. E são minoria nos cargos mais altos.

6,3% É a proporção de pretos e pardos na gerência das maiores empresas do Brasil

4,7% É a proporção de pretos e pardos no quadro executivo

Acima dos executivos ficam os conselhos de administração. Os membros desses grupos traçam diretrizes e dão a palavra final sobre grandes negócios, por exemplo.

4,9% É a proporção de pretos e pardos nos conselhos de administração

A pesquisa aponta a existência de um “afunilamento hierárquico” nas companhias. Ou seja, mais negros na base e menos no topo das estruturas administrativas.

AFUNILAMENTO HIERÁRQUICO

PIORA

Não há tendência clara de melhora na participação entre os quadros mais altos. Em 2010, negros eram 5,3% dos executivos. Em 2015, 4,7%. Em 2007, eram 17% dos gerentes, e em 2015 sua proporção caiu para 6,3%.

MULHERES NEGRAS

Entre mulheres pretas e pardas, a situação é ainda mais desfavorável. Elas são apenas 1,6% da gerência. E 0,4% do quadro executivo. Ou seja, a pesquisa encontrou duas mulheres pretas e pardas, entre 548 executivos analisados.

DE ONDE VEM O PROBLEMA

Para a maioria dos gestores pesquisados pelo Ethos, há menos negros do que o ideal entre executivos, supervisores ou funcionários. Para 41,4%, o problema principal é a falta experiência da empresa em lidar com a falta de funcionários negros. Mas para 48% deles, isso vem de um problema externo à empresa: a falta de qualificação profissional de negros para os cargos. E para 10,3%, falta interesse de negros por cargos na companhia.

MEDIDAS DE INCENTIVO

A maior parte das empresas não tem nenhuma medida de incentivo visando a ampliar a proporção de funcionários negros, mesmo quando se levam também em consideração ações pontuais - e não políticas envolvendo planejamento e metas, por exemplo.

COMPANHIAS COM INCENTIVOS POR TIPO DE CARGO (%)

CARGOS MENORES

Nos casos em que existem, essas ações são voltadas para cargos baixos. 19,6% das empresas têm incentivos para aumentar o número de pretos e pardos entre estagiários. Mas só 14,5% têm incentivos desse tipo para o quadro executivo.

O que a pesquisa diz sobre a participação de mulheres

Mulheres são 51,4% da população brasileira, e tiveram aumento em sua participação em cargos de gerência. Eram 22,1% dos gestores em 2010, e passaram a ser 31,3% em 2015.

Os dados não apontam, no entanto, para uma tendência sustentada de alta: elas eram 31% do total de gestores em 2005, ou seja, sua participação vem aumentando e caindo de pesquisa em pesquisa.

No quadro executivo elas continuam praticamente com a mesma representação que tinham em 2010 nesse grupo: “13,7% então e 13,6% agora”.

11% É a participação das mulheres nos conselhos de administração.

AFUNILAMENTO HIERÁRQUICO

“As mulheres continuam sendo tratadas como trabalhadoras de segunda categoria. E isso se observa basicamente em dois aspectos: nos salários (as mulheres recebem 70% da massa salarial obtida pelos homens) e no famoso “teto de vidro”, responsável pelo escasseamento da presença feminina nos cargos superiores, ainda que tenham as competências necessárias para tanto” , disse Rachel Moreno, psicóloga, no relatório ‘Perfil social, racial e de gênero nas grandes empresas brasileiras, do Instituto Ethos’

O estudo ressalta que grande parte dos principais gestores dessas organizações critica a atual estrutura organizacional das grandes empresas. De acordo com o trabalho, 55% consideram haver menos mulheres do que deveria na gerência, e 64% pensam o mesmo quanto ao quadro executivo.

MEDIDAS DE INCENTIVO

A maior parte das empresas não tem nenhuma medida de incentivo visando ampliar a proporção de funcionárias mulheres. Quando comparado com o caso dos negros, no entanto, há um foco maior em incentivo à presença de mulheres em cargos de chefia. 35,1% das empresas têm incentivos para gestoras. A proporção cai, no entanto, no topo da estrutura corporativa, como mostra o gráfico abaixo.

Companhias com incentivos por tipo de cargo (%)

AÇÕES PONTUAIS

A pesquisa relativiza o potencial desse tipo de incentivo, no entanto, destacando que “a maior parcela das medidas se referem a ações pontuais”, e não medidas estabelecendo metas de aumentar para um nível preestabelecido a proporção de executivas, por exemplo.

PROPORÇÃO

No caso dos negros, gestores julgam a sua participação insuficiente em todos os tipos de cargos. Mas em se tratando de mulheres, a maior parte dos gestores vêm a sua participação como inadequada apenas para os cargos executivos. Isso apesar de elas serem minoria também na gerência e na supervisão.

Fonte: Nexo Jornal
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