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De Norte a Sul, o Piauí mostra a diversidade do seu patrimônio

No dia do Piauí, o O Dia convida você a conhecer um pouco mais sobre das belezas e preciosidades do estado.

19/10/2017 08:49

O patrimônio do Piauí foi construído a partir da herança cultural do vaqueiro, nosso cidadão mais emblemático; da identidade expressa na arquitetura de suas cidades; da memória de sua gente, que repete com apreço os costumes de seus antepassados; e das belezas naturais, verdadeiros presentes da criação. Nesse 19 de outubro, o Sistema O Dia convida você a conhecer um pouco mais da história do nosso estado.

Vaqueiro, nosso maior patrimônio

Com sua indumentária apropriada para se embrenhar meio a espinhos e cipós da caatinga, na aridez do sertão, desde os primórdios do Piauí – quando ainda era somente um grande corredor de gado a ser conduzido para outras regiões, o vaqueiro permanece até hoje como o patrimônio maior do Estado, pela valentia, pelo destemor, pela bravura ao enfrentar e vencer os obstáculos que aparecem à sua frente – em natureza adversa, onde a luta pela sobrevivência é uma constante, uma contenda diária. 

Antes de ser o valente homem a cavalo, o vaqueiro é um exímio artesão: com surpreendentes habilidades manuais, ele usa técnicas primitivas para a curtição de couro de veado ou de bode para a confecção da roupa que o protegerá da caatinga e do sol causticante do sertão. A vestimenta compõe-se de gibão ou "dolmã", perneiras, luvas, jaleco e chapéu basicamente, além de cantil e outros equipamentos de sobrevivência. O gibão, dolmã esse sobretudo, é enfeitado com pespontos e fechado com cordões de couro. O parapeito ou peitoral é seguro por uma alça que passa pelo pescoço. No Sul, usa-se também um cobertor com um furo no centro, o chamado "poncho". 

O vaqueiro é um dos maiores patrimônios do estado. (Foto: Arquivo O Dia)

As perneiras, que cobrem as pernas do pé até a virilha, são presas na cintura para que o corpo fique livre para cavalgar. As luvas cobrem as costas das mãos, deixando os dedos livres e, nos pés, o vaqueiro usa alpercatas ou botinas. O jaleco é feito de couro de carneiro, usado, geralmente, em festas. Tem duas frentes: uma para o frio da noite, onde conserva a lã, outra de couro liso para o calor do dia. O chapéu protege o vaqueiro do sol e dos golpes dos espinhos e dos galhos da caatinga e, às vezes, a sua copa é usada para beber água ou comer. O vaqueiro usa sempre um par de esporas e nas mãos uma chibata de couro, indicando que se não está montado, poderá fazê-lo a qualquer momento. 

A história do vaqueiro se confunde com a história do Piauí: ele foi decisivo para o desenvolvimento econômico da região. Criada em 1758, a capitania do Piauí tornou-se o centro de exportação de carne bovina para o resto do Brasil, considerada, no período colonial, o curral e o açougue do país. Além da figura representativa do vaqueiro, que enaltece o povo piauiense, nas páginas seguintes, o leitor sentirá a grandeza do patrimônio do Piauí também através dos casarios antigos com seus estilos diversos, através dos parques nacionais, da natureza que abrange vales, rios, praias, sítios arqueológicos, do folclore plural e através da gastronomia, conhecida e apreciada em todo o País.

Paisagens de um estado encantador 

O território piauiense é um recorte de muitas paisagens, cada uma com suas particularidades. Ocânion do Rio Poti (Buriri dos Montes), o Delta do Parnaíba (litoral piauiense), o Morro do Gritador (Pedro II) e a Cachoeira do Urubu (Esperantina) são exemplos de atrações turísticas diversas, encrustadas no mesmo estado, um patrimônio natural dos piauienses. Uma das regiões mais procuradas pelos turistas que vêm ao Piauí que o Delta do Parnaíba, único em mar aberto nas Américas e o terceiro maior do mundo. 

A cidade de Parnaíba é a porta de entrada do Delta do Parnaíba (onde o rio encontra o mar), uma das preciosidades do turismo brasileiro com 2.700 quilômetros quadrados formado por mais de 70 ilhas. É no Porto dos Tatus que começa o passeio pelo Delta, na cidade de Ilha Grande, distante nove quilômetros de Parnaíba. Durante o passeio, os viajantes encontram espelhos d’água, mangues, dunas, lagoas de água doce, fauna e flora, além de paisagens fantásticas. No final do dia, além de assistir ao pôr do sol, a revoada dos guarás – uma espécie de ave de cor avermelhada, fecha o dia em grande estilo, sendo mais um belo espetáculo da natureza local.

Porto das Barcas, na cidade de Parnaíba. (Foto: Arquivo O Dia)

O Delta do Parnaíba, que faz parte da Rotas das Emoções, juntamente com os Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (Maranhão) e Jericoacuara (Ceará), foi indicado pelo Ministério do Turismo, em 2009, como uma das maiores atrações do Brasil. O passeio pela região é deslumbrante, como já atestaram o grande número de turistas que para lá se dirigem. Próximo a Parnaíba, está o município de Luís Correia, onde as praias do Coqueiro e do Arrombado são opções de lazer que contam com bons lugares para comer com o pé na areia. Os praticantes de kitesurf, em busca de adrenalina, bons ventos e lugares paradisíacos, acham na praia do Coqueiro e na cidade de Barra Grande, distante cerca de 70 quilômetros de Parnaíba, um dos melhores destinos para a prática do esporte.

Cânion do Rio Poti 

A 250 km de Teresina, o município de Buriti dos Montes abriga um dos mais belos postais do Estado: o cânion do Rio Poti, um espetáculo da natureza formado por rochas e o leito do rio em desenhos sinuosos e impressionantes. Em alguns paredões, inscrições rupestres são outra atração dessa região ainda pouco conhecida em decorrência das dificuldades para se chegar até lá. O cânion tem duas estradas vicinais de melhor acesso, uma pela cidade de Castelo do Piauí e outra pela cidade de Juazeiro do Piauí.

 O lugar ainda é muito pouco conhecido, mas sua beleza já atrai ecoturistas e aventureiros de várias partes do País, inclusive do exterior. São muitos os cientistas interessados em pesquisar sua fauna, flora e características geológicas. O rio Poti nasce no Ceará e chega ao Piauí cruzando uma falha geológica. Segundo alguns estudiosos, o Poti, que nasce no Ceará, deveria seguir para o litoral cearense, mas chegando ao município de Buriti dos Montes, ao encontrar uma grande falha geológica, ocorrida a milhões de anos, atravessa a serra da Ibiapaba e segue para o Piauí, desembocando, finalmente no Rio Parnaíba, em Teresina. 

Os paredões da garganta chegam a ter mais de 50 metros de altura. O Cânion é excelente para a prática de esportes radicais, como canyonismo, rapel, canoagem, trekking, dentre outros. Também é ideal para campings.  A rocha é cheia de escavações feitas pela correnteza, originando estranhas e belas formas, chegando a formar cavernas e abrigos naturais, muito utilizados pelos pescadores. 

Ainda semidesconhecida, toda esta preciosidade tem sido mais visitada apenas por pescadores, aventureiros e ecologistas que enfrentam as rústicas trilhas de difícil acesso e passagens por rios e depressões. De acordo com a equipe Alta Aventura, “no final de uma viagem cansativa e desgastante, a recompensa é enorme, a paisagem muito bonita, a cachoeira maravilhosa, e o passeio no cânion é encantador, uma paz infinita, fazendo silêncio você vai ouvir apenas o vento nas árvores lá em cima, o canto dos pássaros e algum barulhinho de água pingando.”

Cachoeira do Urubu

Inaugurado em 1993, a 180 km de Teresina, o Parque Ecológico Cachoeira do Urubu é um paraíso localizado na divisa dos municípios de Batalha e Esperantina. De uma beleza singular, para os turistas, a cachoeira do urubu é um cartão postal que poderia encantar pessoas do mundo inteiro: em meio a pedras escuras, a água corre aos borbotões causando um quadro de grande impacto visual. 

Embora seja propícia ao banho, é preciso muito cuidado ao mergulhar nessas águas, em razão da grande quantidade de pedras, já que em alguns locais o banhista pode se enganar pensando estar mergulhando em profundidade e, na verdade, está em local raso – ocorrendo acidentes. Para quem conhece a região, a melhor maneira de não ser acidentado é procurar saber quais os locais mais adequados ao banho, que é considerado relaxante, muito agradável. 

Origem do nome da cachoeira

A Cachoeira do Urubu tem esse nome porque, no curso do Rio Longá, os peixes que ficam presos nas formações rochosas, que lembram mini aquários, atraem o urubu-rei, uma espécie de condor da América do Sul. Por essa razão, os peixes que não desceram ou ficaram presos a esses aquários rochosos se tornam presas fáceis para o predador. O urubu-rei, que não têm as habilidades das espécies pescadoras, sabe esperar a água ser evaporada pelo sol para ir em busca dos alimentos. No cardápio dessa ave, peixes como surubim, mandi e piau fazem parte de um banquete promovido pela natureza. A cena mais inesquecível é a revoada dos urubus, um espetáculo nas quedas d’água originadas do Rio Longá.

Folclore, arte santeira... patrimônio rico e criativo

Para além da arquitetura e das belezas naturais, existe algo tão piauiense quanto o folclore regional. Herança imaterial, a cultura popular do Piauí é igualmente rica quanto os patrimônios materiais que ajudam a compor a identidade local. Passados de geração para geração, lendas e tradições típicas envolvem mitos, danças, poesias, músicas e festas populares, contribuindo para a manutenção de uma essência e de um vasto repertório tradicional. 

Tradições folclóricas do Piauí. (Foto: Arquivo O Dia)

Folclore é um conjunto de mitos e lendas que são transmitidos de geração a geração e se expressam através de manifestações e expressões artísticas. No Piauí ele passeia simpatias, cordéis, folguedos e lendas até uma culinária regional feita de itens típicos. Tudo isso, somado a um conjunto de comportamentos e verbetes linguísticos, transmitem a essência do povo do Piauí. 

Uma das mais populares tradições folclóricas o Piauí gira em torno do o Bumba Meu Boi, um tipo de dança que surgiu entre os escravos e os senhores na época do Brasil colonial. A dança, segundo historiadores, surgiu como um protesto a desigualdade social que existia no tempo das grandes criações de gado do Piauí, que eram mantidas com a mão de obra escrava no século XVIII. 

Paralelo a isso, a tradição do Bumba Meu Boi é mantida no imaginário popular através de personagens. As caracterizações representam o Caipora, os Doutores, o Burrinho, o Curandeiro, entre outros personagens típicos da região. A dança se manifesta, e é exaltada pelos populares, durante o mês de junho, nas comemorações em homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro. 

Há ainda, imortalizada no folclore piauiense, a cultura do reisado. A tradição consiste em um tipo de bailado popular dançado em todo o Estado. Ela é mais dramatizada, no período que vai do Natal ao Dia de Reis. No elenco, personagens populares e típicos. O reisado é composto por 4 a 6 Caretas, a Burrinha, o Boi, o Jaraguá, a Cigana, a Ema, a Arara, o Caipora, o Cabeça-de-Fogo. 

Outras duas manifestações também se fazem presentes no Piauí como uma particularidade cultural. A primeira delas é o Cavalo piancó, dança originada no município de Amarante. Nela, cavaleiros e damas formam pares e em círculo e ao som da música vão trotando como se fossem cavalos mancos. A segunda delas é a Marujada, uma festa popular em fase de extinção no Piauí, sendo realizada ainda timidamente em Parnaíba e Campo Maior.

Na celebração, a encenação gira em torno de uma naufraga perdida no mar e sobre o desenrolar da viagem que teve um final feliz graças a um milagre de Nossa Senhora. Fala um pouco sobre a história dos primeiros tempos de Portugal, especialmente em relação das lutas entre cristãos e mouros. O ritual tem coreografia simples. Os participantes falam, dançam e cantam imitando o balanço do mar. 

Joias singulares

A produção nas minas de opalas do município de Pedro II contribui fortemente para o crescimento da economia da região. No ano passado, a cidade vendeu 400 quilos de joias com opala. Produzidas artesanalmente, essas preciosidades também são patrimônio dos piauienses. Segundo estudiosos, somente 20 % da opala produzida no mundo é nobre. Somente a Austrália e o Brasil têm essas pedras com qualidade excepcional. 

As pedras de Pedro II são extraídas de dentro de uma serra. A terra aparentemente sem vida e sem cor é alvo de olhares atentos dos garimpeiros que estão em busca de um tesouro. A beleza das joias com opalas ganhou o mundo: são colares, anéis, pulseiras, brincos. 

Tecelagem 

A tecelagem é outra maravilha produzida no Piauí, em especial no município de Pedro II: mantas, redes, tapetes e jogo americano são o forte dessa produção. A confecção de redes iniciou-se nos últimos anos do século XIX, quando o padre Joaquim de Oliveira Lopes, vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, ali se estabeleceu, trazendo em sua companhia as irmãs Honorinda, Mariana e Severa, a quem coube a responsabilidade de introduzir o processo de fazer redes de dormir em teares de grade. 

Os padres alemães Lotário e Noberto incentivaram a produção e organizaram o setor, contribuindo não só para a fundação da primeira cooperativa de tecelagem como também para a ampliação dos grupos comunitários de produção. Essa ação foi tão importante que seus efeitos são sentidos até hoje no intercâmbio comercial desses produtos com a Alemanha.

 Arte Santeira 

A arte santeira é um dos artesanatos mais significativos do Piauí, sendo conhecida em todo o Brasil e em muitos outros países. Seu desenvolvimento em Teresina é diretamente relacionado a dois artistas: Mestre Dezinho e Mestre Expedito. O primeiro deles é José Alves de Oliveira, o Mestre Dezinho, que após trabalhar como lavrador, carpinteiro, marceneiro e servente de pedreiro, chegou à capital do Piauí e se revelou com grande escultor de imagens, em madeira. 

Expedito Antônio dos Santos, o Mestre Expedito, chegou a Teresina em nos anos 1970 e chegou a esculpir peças maiores também na Igreja de Nossa Senhora de Lourdes. Embora sejam mestres reconhecidos e admirados pelos jovens santeiros, Dezinho e Expedito possuem estilos diferentes, comprovando a singularidade da arte santeira.

Confira essa matéria completa na edição desta quinta-feira (19) do Jornal O Dia.

Por: Mayara Martins, Marco Vilarinho e Yuri Ribeiro
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