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Risco de ser assassinada é quase quatro vezes maior para jovens negras

Dados divulgados pela Unesco, apontam que as jovens negras com idade entre 15 e 29 anos têm 3,64 mais chances de serem assassinadas do que as jovens brancas no Piauí.

11/12/2017 16:50

As jovens negras com idade entre 15 e 29 anos têm 3,64 vezes mais chances de serem assassinadas do que as jovens brancas no Piauí. É o que diz o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017 (IVJ 2017), relatório desenvolvido pela Secretaria Nacional de Juventude, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), com base em dados de 2015. O levantamento foi divulgado nesta segunda-feira (11). 

O relatório aponta que, enquanto a taxa de homicídios de jovens negras é de 7,4 para cada 100 mil habitantes, a taxa de assassinatos de jovens brancas é de 2 para cada 100 mil. No Nordeste, o Piauí ocupa o quinto lugar do ranking, com um dos maiores índices de risco relativo para jovens negras em relação a jovens brancas na região. A nível nacional, o estado fica em sétimo lugar, atrás de estados como o Rio Grande do Norte, em que o risco relativo de homicídios é 8,11 vezes maior para jovens negras e o Amazonas, em que esse mesmo risco é de 6,97. 

Risco de ser assassinada é quase quatro vezes maior para jovens negras. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Esse resultado revela a necessidade de avançarmos na garantia dos direitos das mulheres e no combate à violência ligada à questão de gênero. Para a socióloga Diana Duarte, a pesquisa evidencia uma profunda desigualdade histórica e social. “As mulheres negras, as quais a sexualização da raça e racialização do sexo é uma constante na definição de seus corpos, passam por situações de violência muito maiores porque sua condição de humanidade é subcategorizada, pelo fato de ser uma mulher negra”, destaca.

Segundo ela, o racismo e a violência contra as mulheres negras avançaram nos últimos anos devido à crise política que avança no país, apesar de ser notável o avanço também das políticas públicas voltadas para a população negra. “Questões como a criminalização do povo negro sempre estiveram presentes com a realidade concreta, mas hoje ganha expressão como algo legítimo em que o fato de matar um jovem negro é matar um bandido”, diz, explicando que a melhor saída é uma reforma política profunda de modo democrático em que os grupos marginalizados estejam à frente das decisões do país.

Violência entre jovens negros

O índice de risco relativo é uma realidade para os jovens de etnia negra de ambos os gêneros no Piauí. Isso porque, no estado, um jovem negro tem 3,3 vezes mais chances de ser morto do que um jovem branco. No quesito desigualdade na violência letal, enquanto a taxa de homicídios de jovens brancos foi de 14,4 por 100 mil, entre jovens negros foi de 48,0, três vezes mais.

O índice de risco relativo é uma realidade para os jovens de etnia negra de ambos os gêneros no Piauí. (Foto: Paulo Pinto)

Apesar de apresentar a menor taxa de homicídios de jovens negros na região Nordeste, o estado ainda é considerado como de alta vulnerabilidade para a população negra. Considerando a média das outras Unidades da Federação, o Piauí figura em 13º lugar no ranking nacional e o 11º lugar no ranking de violência e desigualdade racial, que leva em consideração fatores como mortalidade por homicídio, mortalidade por acidente de trânsito, frequência à escola e situação de emprego, pobreza, desigualdade e risco relativo de homicídios entre negros e brancos, com média de 0,427.

Cor da pele como fator de risco

Os resultados do IVJ 2017 são um reflexo do racismo estrutural do país e evidenciam a brutal desigualdade que atinge negros e negras até na hora da morte. De acordo com o relatório, “assumir que a violência letal está fortemente endereçada à população negra e que este é um componente que se associa a uma série de desigualdades socioeconômicas é o primeiro passo para o desenvolvimento de políticas públicas focalizadas e ações afirmativas que sejam capazes de dirimir essas inequidades”, destaca o documento.

O que é o IVJ 

O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência agrega dados relativos às dimensões consideradas chave na determinação da vulnerabilidade dos jovens à violência, tais como taxa de frequência à escola, escolaridade, inserção no mercado de trabalho, taxa de mortalidade por homicídios e por acidentes de trânsito. Ele serve como norteador das políticas públicas de juventude, parcela da população mais afetada pela violência no Brasil.

Por: Nathalia Amaral
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