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Makelly: grupo lamenta impunidade e acredita que outra pessoa está envolvida

Juri reconheceu o réu como autor do homicídio, mas o absolveu pelo crime. "Ficou parecendo uma conformidade", disse coordenadora do GPtrans.

06/10/2017 11:45

A comunidade LGBT do Piauí recebeu com muita tristeza a notícia da absolvição do homem acusado de assassinar a travesti Makelly Castro, em 2014. A decisão de livrar o professor Luís Augusto Antunes foi tomada na tarde de ontem (05), por um júri formado por seis homens e uma mulher.

Além da decepção com a absolvição do acusado, a coordenadora do Grupo Piauiense de Travestis e Transexuais (Gptrans), Maria Laura dos Reis, ainda destaca que pode ter havido a participação de mais uma pessoa no assassinato de Makelly Castro. “Acredito que sejam duas pessoas agindo em comum acordo. Esse que foi acusado (refere-se a Luís Antônio) e outro que está em liberdade”, denuncia.

O júri popular reconheceu o professor como autor do crime, mas absolveu o réu da pena por homicídio. O placar da decisão ficou em quatro votos a três pela absolvição. Para Maria Laura, a sentença possui uma grande contradição jurídica. "O sentimento da comunidade LGBT é de impunidade. Como uma pessoa é reconhecida como autor de um crime e, ao mesmo tempo, é absolvida? Ficou parecendo que temos que estar conformadas em sofrer essas mazelas, essas situações de violência, sem nenhum tipo de punição”, comentou a coordenadora do Gptrans. 

Outro fator que Maria Laura considera importante sobre a decisão, é o fato de que, das sete pessoas que compuseram o júri popular, seis eram homens. “Isso também pesa, por essa questão de preconceito com relação à população LGBT ser muito forte dentro do gênero masculino”, observa.

O promotor Ubiraci Rocha disse que já recorreu da decisão do júri popular. A intenção é pedir a anulação do julgamento, baseado na contradição da decisão que considerou o réu autor do crime de homicídio qualificado, mas o absolveu em seguida.


Ao final do julgamento, a juíza Maria Zilnar fez duas perguntas: primeiro, se o réu era o autor do crime. O resultado foi de 4 a 2 pelo sim. Depois, a juíza perguntou se o réu deveria ser condenado pelo crime de homicídio. O placar foi de 4 a 3 pela absolvição.

Ubiraci Rocha disse que a decisão é “totalmente contraditória”. O promotor comenta que é comum que membros do júri não entendam os quesitos e as perguntas feitas pela juíza, mas que há a possibilidade da decisão ter sido tomada por conta de questões de preconceito. “Se não for erro, é pior. É ódio e discriminação à condição de travesti da vítima. Eu quero colocar isso como segunda hipótese. Mas é uma possibilidade a se levantar”, disse Ubiraci.


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Edição: Nayara Felizardo
Por: Andrê Nascimento
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