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Dirigente do MST diz que Matopiba traz riscos e não tem condições técnicas

Stédile, também criticou o tratamento do governo Dilma Rousseff com a pauta da reforma agrária e fez críticas ao agronegócio brasileiro.

24/07/2017 07:48

O economista João Pedro Stédile, da coordenação geral do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – o MST, veio a Teresina para discutir a conjuntura política nacional. O movimento é dos mais importantes da esquerda e sua atuação divide a opinião da sociedade. Ao O DIA, o dirigente do MST comentou os desafios e o cenário atual da reforma agrária no país, falou sobre os últimos casos de violência na disputa por terras e criticou o governo de Michel Temer pela desestruturação do Incra e do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Stédile, também criticou o tratamento do governo Dilma Rousseff com a pauta da reforma agrária e fez críticas ao agronegócio brasileiro. O dirigente afirmou ainda que o projeto do Matopiba, que envolve o potencial agrícola do cerrado piauiense, não deve ir para frente porque as condições técnicas não são favoráveis ao projeto. Movimento extremamente ligado ao Partido dos Trabalhadores, o MST faz queixa a Dilma pela aproximação que ela teve com a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), uma das principais representantes do agronegócio na política. Confira a entrevista: 

"A reforma agrária como um todo ela depende de um projeto de país. Onde ela seja complementar a uma proposta de mudança do jeito de nossa economia funcionar" (Foto: Elias Fontenele/ O Dia)

Como o senhor avalia o cenário atual para a reforma agrária no país, quais os principais desafios e a situação da reforma agrária? 

Já no final do governo Dilma estava paralisada. E agora com esse governo golpista então colocaram a pá de cal. Acabaram o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Incra virou uma tapera velha em que não funciona nada. E nós estamos com 120 mil famílias acampadas às margens da estrada esperando por solução. Então é nossa vontade política e não temos saída com o atual governo. 

É essa a quantidade de famílias que precisam de uma reforma agrária no país? 

Não. Não é só essas. Essas são as que estão acampadas sofrendo, exigindo uma medida de emergência. Mas a reforma agrá- ria como um todo ela depende de um projeto de país. Onde ela seja complementar a uma proposta de mudança do jeito de nossa economia funcionar. Não existe nesse momento no Brasil, possibilidades de um novo projeto sem que antes a gente derrube o governo Temer. 

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra recebe muitas críticas, e algumas acusações contra o movimento é a de que ele é formado por pessoas que não estão interessadas em produzir, mas sim em adquirir imóveis para vender. Como o movimento rebate essas acusações? 

Isso não é critica, isso é acusação. Acusação mentirosa que sempre a direita usou contra os trabalhadores para evitar que a reforma agraria avance. É só perguntar ao Incra e pesquisar sobre os assentamentos. Nós que colocamos na lei que é proibido a família que receber terra vende-la. Quem está querendo mudar essa lei é o atual governo, que quer privatizar os lotes para oportunizar a turma vender. Mas a posição do movimento é a de que nós devemos evitar qualquer processo de venda. Por falar nisso, o que nós sabemos que tem especulação imobiliária é feita nas grandes cidades. Onde tubarões compram grandes áreas, ficam especulando, grilando, ou vendendo para os pobres. 

O Governo Federal sempre vende a imagem de que o agronegócio brasileiro é bom para o país, produz com alta tecnologia, exporta e gera riquezas para o Brasil. No entanto, o MST tem muitas críticas ao modelo atual de agronegócio no país. Como você avalia as políticas de produção do garneio brasileiro? 

O agronegócio é um modelo de produção na agricultura que é dominado pelo capital financeiro e pelas grandes empresas transnacionais que fornecem para os fazendeiros o adubo, agrotóxico, as máquinas, as sementes. Hoje, na soja, 65% do custo de produção do hectare de soja sai do fazendeiro e vai para o banco ou para empresas transnacionais. E o agronegócio produz apenas mercadoria para se exportar. E produz com muito veneno. Esse veneno adoece o trabalhador, envenena a água, o meio ambiente, e o produto que é produzido. O agronegócio dá lucro, beneficia os fazendeiros, mas quem ganha mais com ele são as transnacionais. E quem perde é a natureza brasileira, o povo brasileiro porque, inclusive, a maior característica do agronegócio é usar cada vez mais veneno. E ele usa o veneno para substituir a mão de obra. Portanto, diminui cada vez mais o emprego nas fazendas de agronegócio. E nós, com a reforma agrária, queremos tudo ao contrário. Queremos produzir alimentos saudáveis, sem veneno, dar emprego para o nosso povo e produzir alimentos para o povo da cidade. São dois modelos antagônicos que estão em jogo. 

Sabemos que há hoje uma crise financeira, cortes no orçamento que atingem muitos órgãos ligados a reforma agrária. Como o senhor ver hoje a situação do Incra, do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário? Eles estão tendo a estrutura necessária para desenvolver suas funções? 

O governo golpista não tem compromisso em resolver os interesses do povo. No caso do meio rural está um desastre. É quase um genocídio. Fechou um Ministério do Desenvolvimento Agrário, que atendia a agricultura familiar. E o Incra foi entregue para o partido Solidariedade que está usando o órgão apenas para se viabilizar como partido e não tem nenhum projeto concreto com a reforma agrária e nem dos pobres do campo. Então, a situação institucional da reforma agrária praticamente não existe mais. A instituições públicas foram dilapidadas, eu nem sei como os servidores públicos lotados no Incra e no MDA não sei como estão se sentindo, mas imagino que estão deprimidos pela falta de incentivo do governo. Acabaram o orçamento do Incra, do MDA, a última contenção de gastos do governo, tínhamos o Pronera que financia cursos superiores para filhos de assentados da agricultura familiar e usava uma merreca de recursos, que era R$ 30 milhões por ano, e agora eles cortaram e vai ser só R$ 2 milhões. E esses R$ 2 milhões o coordenador ainda levou para uma faculdade particular que pertence a seus amigos no sul de Minas Gerais.

A entrevista completa você encontra no Jornal O Dia de hoje (24).

Por: João Magalhães
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