Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

"œPrecisamos fortalecer na UFPI a pesquisa direcionada ao setor produtivo"

Em entrevista: o professor André Macedo defende mais investimentos em pesquisa e uma maior aproximação da UFPI com a comunidade em geral.

06/08/2020 07:08

O DIA publica nesta edição a entrevista com o professor doutor André Macêdo, candidato a Reitor da Universidade Federal do Piauí, pela chapa 4. Ele tem como candidato a vice, na chapa, o professor Carlos Sait. Oriundo da área da computação, Macêdo defende mais investimentos em pesquisa e uma maior aproximação da UFPI com a comunidade em geral. O candidato diz que é preciso fortalecer a política de internacionalização da universidade, sem esquecer a interiorização, e ampliar pesquisas que possam beneficiar o setor produtivo piauiense. André Macedo também promete elaborar um planejamento financeiro que seja viável garantir o bom custeio e o aumento de investimentos em estrutura, pesquisa e extensão. "A UFPI é das pessoas e precisa ser defendida neste momento", pontua ele.

De maneira geral, qual a importância da Universidade Federal do Piauí no processo histórico do estado?

A universidade é o patrimônio maior que existe no estado do Piauí. Nesse contexto, a maior instituição de formação de pessoas, com qualidade e se constitui como fundamental para o desenvolvimento do estado. A universidade vai completar os seus 50 anos e nessa sua longa vida, quer dizer, ainda nós somos universidade nova se comparada com as demais, a UFPI tem tido avanços fundamentais que, no contexto histórico, conseguimos também fazer uma ligação com a atualidade. Por exemplo, a universidade hoje tem mais de 60 cursos de pós graduação, tem atuado fortemente com cursos que são de exclusividade do serviço público, da instituição, e neste sentido eu considero a universidade o maior patrimônio que nós temos no estado do Piauí.


O professor André Macêdo já ocupou cargos na gestão da UFPI e defende um melhor relacionamento com a sociedade - Foto: O Dia

Como o senhor vê essa polarização entre esquerda e direita na política universitária? Dentro deste contexto, muito tem se falado que a universidade pública têm produzido mais militantes que estudantes, o senhor concorda?

Eu entendo que a liberdade política é de cada cidadão, né? O que não podemos é deixar isso atrapalhar o desenvolvimento da instituição. Todas as políticas públicas e todos os governos que beneficiam as instituições têm que ser acatadas e debatidas. A universidade é um espaço plural, a gente têm que entender essa dinâmica da universidade, que não pode se furtar do debate, inclusive do debate político. Mas isso não pode interferir na gestão, na busca da excelência na prestação dos serviços e na qualidade da nossa instituição como um todo.

Professor, entre suas propostas de gestão há alguma relacionada à ideologia de gênero no âmbito universitário?

Não. Na verdade o que nós temos é uma proposta belíssima, construída por vários colaboradores de uma universidade mais inclusiva, respeitando a diversidade. Tratando as pessoas com deficiência da forma como devem ser tratadas. A universidade é um celeiro de pessoas, a gente fala muito de números, mas a universidade é um celeiro de pessoas que precisam ser tratadas da forma correta e a nossa política ela tem inclusão nesse sentido, de respeitar as diferenças e principalmente trabalhar a equidade, esse é o segredo e a forma que nós vamos seguir, tratando a equidade.

Quais são os seus projetos para o desenvolvimento do estado do Piauí, através da contribuição da Universidade Federal?

É como eu venho falando, a UFPI tem vários eixos de atuação, tanto no ensino como na pesquisa e como na extensão. Foi fácil verificar a importância da universidade nesse processo da pandemia, fomos buscar dados para dar respostas à sociedade e a universidade com certeza contribuiu nesse aspecto. O nosso atual reitor fala que criou pontes, então a gente tem que aperfeiçoar a relação da UFPI com a sociedade. A universidade precisa ter mais coração no seu relacionamento com a comunidade externa. Os nossos índices acadêmicos têm que ser melhorados, é dever do gestor buscar melhoria dos índices acadêmicos.

Qual deve ser o papel da pesquisa na universidade federal em um dos mais carentes do país?

Excelente pergunta. Posso até falar da minha própria atuação enquanto pesquisador. Fiz mestrado em engenharia elétrica e fiz doutorado em engenharia de computação, vinculado à área de tecnologia. A pesquisa é o transformador, não é? A sua essência é responder perguntas e constatar hipóteses. A UFPI desenvolve em todos os aspectos, e com muita excelência, essa qualidade da pesquisa em todas as áreas do conhecimento. Temos vários núcleos de pesquisa, vários programas de pós-graduação, tanto na área ciência social aplicada, na área de tecnologia, de materiais. É importante a gente comentar os avanços que tivemos para o desenvolvimento da pesquisa. A pesquisa da instituição ela é fortemente impulsionada pelos programas de pós-graduação, e aqui eu tenho que registrar que em Floriano nos tivemos recentemente a aprovação de um mestrado na área de biologia. Temos hoje um doutorado em Bom Jesus, uma cidade carente e hoje a interiorização da universidade nos levou a ter esse tipo de qualidade de pesquisa no sul do estado, em Bom Jesus. A pesquisa é a transformação. Todas as vezes que a universidade foi buscada para desenvolver produtos, para apoiar cientificamente as ações da sociedade, a universidade correspondeu e vai continuar correspondendo. Temos que fomentar o aspecto da pesquisa, não podemos olhar apenas para o interior do estado. A UFPI já está no patamar que tem que buscar a internacionalização, e isso está na nossa carta proposta. Ano passado nós desenvolvemos uma ação administrativa que julgo muito importante, que foi o programa de missões no exterior. Permitir que nossos pesquisadores façam intercâmbio com outras instituições do conhecimento é fundamental para que a gente possa internacionalizar. A pesquisa não pode ser restrita a um único espaço, ela é mundial. No entanto, temos que fomentar a pesquisa direcionada ao setor produtivo, essa é uma das ações que nós temos que fortalecer na Instituição, e aos desafios locais. Existem considerações locais que devem ser avaliadas nas nossas políticas de pesquisa.

O custo dos alunos das universidades públicas tem se aproximado e até superado o valor das mensalidades de instituições privadas. Qual é sua opinião em relação a essa questão?

Primeiro a gente tem que desmistificar como é que é formado o orçamento federal das instituições. Quando você fazer essa comparação, que é injusta e que por vezes dificulta o entendimento das pessoas, isso pode levar uma interpretação equivocada do custo da universidade. O orçamento da instituição tem três grandes naturezas de grupos de despesa: a parte de pessoal, de custeio e a parte de investimento. Isso é definido por uma matriz que faz essa distribuição, no entanto, o próprio Banco Mundial fez esse estudo considerando a folha de pagamento como custo efetivo do nosso aluno, mas isso não é verdade, inclusive pelas distorções que nós temos dos tempos da instituição. Se você pegar a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a folha de pagamentos era muito alta, porque o corpo aposentado continua na folha de pagamento daquela instituição. Então não é verdade afirmar que o custo-aluno é muito superior. A universidade tem uma outra característica quando se compara ao meio privado. A universidade tem um tripé indissociável de ensino, pesquisa e extensão. Nós ainda temos toda a parte da assistência estudantil, que também não é contabilizada para s instituições privadas, então penso que o recurso é pouco, precisaríamos de muito mais para continuar crescendo o sistema educacional brasileiro.

Ainda falando na questão de custeio, vamos olhar para o orçamento anual da UFPI. Qual é esse orçamento? Ele é suficiente para atender a todas as necessidades? Neste sentido, há alguma proposta específica para o Hospital Universitário?

O orçamento da universidade estancou, de 2014 para cá a gente teve uma série de decréscimos. O montante global, que foi muito questionado no ano passado por conta daqueles bloqueios, constantemente aumenta por causa da folha de inativos. Então tem que se separar para um debate correto o que é pessoal, que nós não fazemos gestão efetiva, e o que é o custeio, que está congelado. Nesse sentido, quais são os aspectos que mais pegam a universidade? O aumento da energia, o aumento do combustível, a variação do dólar e variação do salário mínimo que impacta diretamente nas nossas contratações de mão de obra terceirizada. O dólar dificulta a aquisição de equipamentos, por vezes importados. O combustível encarece as aulas de campo, então é preciso remodelar não a distribuição entre as universidades que eu considero boa, ela leva em consideração critérios quantitativos e qualitativos, mas o bolo é pequeno. O que nós precisamos é de um aporte maior por parte do ministério, não só para custear, mas para que a gente consiga investir. A gente só consegue evoluir se conseguirmos recursos para investir.

O Hospital Universitário é um Hospital do Piauí. Nós temos um modelo pactuado de gestão, que desenvolve todos os processos de contratação do hospital, e isso dificulta um pouco a ação direta da universidade mas entendo que, pelo que estudei, hoje um dos grandes anseios do hospital é que a gente consiga trazer a parte de materno-infantil. Temos a maternidade que está sendo construída, mas há toda uma parte de materno-infantil e de pediatria que não está sendo tratada dentro do Hospital Universitário, então esse é o desafio. Reforço, é um desafio que nós temos que viabilizar, porque a necessidade de contratação de pessoal, que não é feito pela UFPI, e de contratação de outros médicos especialistas para apoiar nesse processo. Hoje uma das principais áreas que precisam ser inseridas no Hospital Universitário é a parte materno-infantil.

Por fim, qual mensagem o senhor deixa para a comunidade universitária?

A mensagem que eu deixo é a minha própria trajetória na instituição. Sou um filho da UFPI, com quatro e cinco anos de idade, meu pai então professor e minha mãe também funcionária da UFPI, minha vida foi toda na universidade. Fiz o curso de computação, enquanto aluno atuei no tripé universitário. Trabalhei como um aluno extensionista, fui monitor voluntário de várias disciplinas, pois no tempo não tínhamos a política de bolsa como oferecemos hoje ao nosso alunado. Fui aluno de iniciação científica, e foi onde me picou a veia da pesquisa e fui fazer mestrado e doutorado. Criamos o programa de pós-graduação em computação, participei da elaboração. Em pouco tempo criamos o programa de doutorado em computação, sou docente permanente dos dois programas. Fui diretor de tecnologia da informação da universidade, com dificuldades de infraestrutura de internet no estado, e a gente trabalhou fortemente para resolver isso em Bom Jesus, caso contrário não teríamos condições de ter o doutorado, que eu me referi anteriormente, sem uma estrutura básica de internet para os nossos pesquisadores e nossos alunos. Depois então assumi a pró-reitoria de planejamento e aí, como já comentei, crises aconteceram mas a universidade continuou de pé e evoluindo. Do que competir a minha pasta, ajustes necessários foram feitos sem que a comunidade sentisse, Remodelagem de contratos foi o que nós fizemos para que, cada vez mais a comunidade sentisse que a crise não iria chegar na universidade. O recado que eu deixo para comunidade é de uma pessoa que está se dispondo a dirigir a instituição, que foi aluno extensionista, aluno monitor, aluno de iniciação científica, docente que atua na área do ensino do ensino, da pesquisa, da extensão e também da gestão. Temos que defender a universidade pública, gratuita, democrática, de excelência e inclusiva. A UFPI é das pessoas.

Por: Breno Cavalcante, Lívio Galeno e Najla Fernandes
Mais sobre: