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Pacientes demoram até 5 horas para serem atendidos em consultório

O sentimento é de descaso e de perda de tempo, pois é preciso dedicar um dia inteiro para fazer uma consulta que dura poucos minutos

16/12/2017 09:15

Se marcar uma consulta já não é tarefa fácil, imagina chegar cedo ao consultório e ter que aguardar por horas até ser atendido. Esta é a realidade de muitas pessoas que chegam às clínicas médicas. Segundo alguns pacientes, a espera já chegou a ser de até cinco horas, desde o momento da chegada até o atendimento.

De acordo com os pacientes, o sentimento é de descaso e de perda de tempo, pois têm que dedicar um dia inteiro para resolver algo que terá duração de poucos minutos. Mudar de médico ginecologista já passou pela cabeça da supervisora administrativa Lanussa Ferreira, que sempre encontra dificuldades quando precisa se consultar nessa especialidade.

Ela conta que sua médica é uma excelente profissional; contudo, a demora para ser atendida já a fez cogitar buscar outro especialista. “Já pensei em mudar de médica, mas como ela já me atende há quase 10 anos, tem todo meu histórico e é uma boa médica, eu continuo com ela, mas a demora é muito grande”, cita.

Lanussa Ferreira sempre encontra dificuldades quando precisa se consultar com ginecologista (Foto: Elias Fontinele/ODIA)

Lanussa lembra que em uma das consultas, geralmente marcada para às 9h, a médica costuma chegar às 11h, além de demorar para começar o atendimento. Em outro momento, a jovem optou para ir no turno na tarde, sendo que o atraso era ainda maior. Ela explica que o horário de atendimento da especialista iniciava às 15h e, como os pacientes eram organizados por ordem de chegada, ela decidiu chegar duas horas mais cedo. “Cheguei por volta das 13h, sendo que o horário da médica atender era às 15h, mas saí de lá quase 20h, porque tinham muitos pacientes e ela demorou a chegar”, conta.

A supervisora administrativa argumenta ainda que a lista de espera nos consultórios é muito grande, já que os pacientes precisam chegar cedo para serem os primeiros; com isso, o acúmulo de pessoas nos consultórios pela manhã é muito grande. Porém, ela destaca que chegar cedo não garante estar entre os primeiros no atendimento. 

“Eu chego por volta das 7h30 e tem uma lista de, pelo menos, dez pessoas na minha frente, sem contar as prioridades, tanto por idade como por gestação. Como minha médica também é obstetra, e esses pacientes chegam em qualquer horário, eles são atendidos assim que chegam. Até há um revezamento, entre uma prioridade e uma paciente normal, mas mesmo assim demora muito para quem não está nessas condições”, frisa.

Desculpas

Lanussa Ferreira fala que sua médica sempre justificava o atraso com algumas cirurgias já agendadas pela manhã, vez que, além de ginecologista, a especialista ainda atua como obstetra. Porém, os atrasos também ocorriam no turno da tarde, quando surgia um parto de última hora. Para a supervisa administrativa, a médica deveria buscar outro método de agendamento, tanto para as consultas como para cirurgias.

“Teresina é um polo de Saúde, então a demanda aqui é muito grande de outras cidades e estados e, em qualquer clínica, é sempre muito lotado, seja particular ou por plano de saúde. Mesmo as pessoas pagando particular, ainda sim, pegam fila, porque a quantidade de profissionais atendendo é muito pouca para a demanda de pacientes”, disse.

Quem também já passou muitas vezes por isso foi a estudante Pétala Cristal Boaventura, durante as consultas de sua filha Pietra, de apenas sete meses. Ela conta que todas as vezes que agenda um atendimento costuma demorar muito para ser atendida. Em uma dessas, o agendamento estava marcado para às 7h30, ela chegou às 7h, mas a pediatra só chegou três horas depois.

Pétala Cristal vai procurar um pediatra que atenda com horário marcado (Foto: Elias Fontinele/ODIA)

“A médica chegou 10h, não justificou o atraso e só fomos atendidas 12h, porque além dos pacientes que já estavam aguardando, ainda tinham os preferenciais, que são as crianças recém-nascidas e com deficiência, o que demorou mais ainda. Ela é uma médica muito boa, prestativa, atenciosa, mas esse descaso de não chegar na hora e a demora para atender já me fez querer trocar de pediatra”, fala.

Pétala Cristal explica também que seu esposo costumava estar presente durante as consultas, mas, devido à demora e ao longo tempo de espera, ele não pode mais acompanhar, já que se ausentava por muitas horas do trabalho.

“Meu esposo ia em todas as consultas, mas ele não tem disponibilidade para ficar muito tempo esperando, por isso, eu estou procurando outro médico e que atenda com horário marcado, porque ele quer estar presente nessa fase da vida da nossa filha, que é muito gostosa, e não quer perder as consultas por falta de responsabilidade do médico”, argumenta.

Ausência de lei

Segundo a presidente do Conselho Regional de Medicina do Piauí (CRM-PI), Mirian Palha Dias Parente, a Resolução nº 1958/2010, publicada pelo Conselho Federal de Medicina, define e regulamenta o ato da consulta médica, a possibilidade de sua complementação e reconhece que deve ser do médico assistente a identificação das hipóteses tipificadas nesta resolução. Contudo, não há nenhuma legislação que determine o tempo mínimo ou máximo de espera para consulta médica, em consultório médico privado ou em serviço público.

Ainda de acordo com a presidente do CRM-PI, o Parecer nº 2151/2010, do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), prevê que “o atraso no atendimento a consulta médica pode ser decorrente de inúmeros fatores inerentes à profissão médica, pois não se pode prever uma série de acontecimentos do dia a dia do médico”, cita.

“O referido parecer diz que ‘o tempo de que necessita o médico em favor do seu paciente não pode ser cronometrado ou parametrizado de qualquer forma e que somente o bom senso do profissional poderá definir o tempo que deverá ser utilizado com seus pacientes’”, explica.

A presidente destaca que no Art. 8°, do Código de Ética Médica, dispõe que o médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho.

Ela cita que alguns médicos optam pelo atendimento com horário pré-agendado e outros por ordem de chegada dos pacientes. “Essa é uma questão administrativa. Cabe ao profissional a organização do seu atendimento. Certamente os que oferecem aos pacientes menor atraso e maior facilidade no atendimento contribuem para uma melhor relação médico-paciente”, pontua.

Por: Isabela Lopes
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