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Professores aproveitam febre do Pokémon Go; veja mais de 20 dicas

'Estava impossível dar aula, precisei traçar estratégia', diz professora de biologia. Especialistas listam formas de trabalhar conteúdo a partir do jogo.

11/08/2016 08:49

O jogo Pokémon Go invadiu o Brasil, e as salas de aula não passaram ilesas. Com os alunos grudados no celular na missão de caçar pokémons, professores aproveitam a febre para criar aulas e ensinar os conteúdos aproveitando a febre. (Abaixo, veja mais de 20 dicas para diferentes disciplinas)

Pokémon Go funciona na redação do G1 (Foto: Marcelo Brandt/ G1)

Pokémon Go funciona na redação do G1 (Foto: Marcelo Brandt/ G1)

Os protozoários na aula da professora de biologia Viviane Bozolan Porto ganharam as caras dos pokémons. Eddy Antonini ensinou trigonomotria fazendo uma analogia com a incubadora de ovos de jogo. E até na aula de espanhol da professora Oliveira Vieira o Pokémon Go vai aparecer. O grupo de alunos do 7º ano que acertar a conjugação dos verbos irregulares, na atividade que vai ocorrer na semana que vem, terá direito a caçar os monstrinhos durante a aula.

Momento do jogo em que os pokémons lutam  (Foto: Reprodução)

Momento do jogo em que os pokémons lutam (Foto: Reprodução)

“Eu precisei traçar uma estratégia. Na quinta-feira passada cheguei para dar aula e tomei um susto, não imaginava a febre. Dentro da escola tinha um pokéstop. Foi impossível dar aula, foi um estresse”, diz Viviane Bozolan Porto, professora de biologia da escola Mary Ward, da rede particular, em São Paulo.

Viviane diz que estava dando aula sobre protozoários e doenças no segundo ano do ensino médio, mas via os alunos se contorcendo para mexer no celular. Na escola é proibido o uso do aparelho na sala. “Comecei a fazer analogias entre os protozoários e os pokémons sobre evoluções e formas e eles começaram a prestar atenção.”

A professora, então, foi estudar o jogo, e dias depois propôs uma nova atividade: pediu aos alunos que fizessem cards com o desenho dos pokémons batizando-os com nomes dos protozoários. “Cada doença, cada forma, é uma evolução e um card diferente, sempre comparando com os pokémons. Assim eles memorizam os nomes dos protozoários brincando, ficou mais lúdico.”

Viviane não gosta do jogo e não instalou o aplicativo no celular, mas diz que quer aproveitá-lo para ensinar, já que virou o foco da atenção dos alunos. “Os desafios são legais e o professor não pode parar de estudar e usar novas estratégias.”

Os pokémons e a trigonometria 

Eddy Antonini, dá aulas nos cursos técnicos de eletrônica e eletrotécnica da Etec, em Itapeva, no interior de São Paulo. Ele usou uma situação hipotética do jogo para explicar conceitos da trigonometria e do Teorema de Pitágoras.

“Era uma aula de eletroeletrônica e eu tinha mencionado que iríamos estudar trigonometria, que era para revisar do ensino médio, eu comentei que dava para aprender até com pokémon. Depois que acabou a aula, alguns alunos ficaram e pediram para eu explicar. Mas pretendo repetir essa mesma explicação nas aulas regulares”, diz Eddy.

Ele diz que suas aulas costumam ser integradas com a cultura do dia a dia, mas que não substitui os métodos tradicionais da didática. “Quando lançou o filme do Thor, por exemplo, eu criei uma situação hipotética para usar a Bifrost como exemplo de condutor elétrico. Eu sempre uso a aproximação da realidade cultural dos alunos com o conteúdo.”

Acerto de verbo em espanhol vale caça 

Na semana que vem, os alunos da professora de espanhol Priscila Oliveira Vieira, da escola Mary Ward, estarão liberados para caçar pokémons pela escola. Mas não deliberadamente. Ela vai fazer uma atividade de revisão, em que a sala do 7º ano estará dividida em dois grupos. Haverá um líder em cada um deles que estará com o celular ligado no jogo em um espaço aberto do colégio.

Quando aparecer um pokémon, a professora vai lançar um verbo irregular do pretérito indefinido, se o grupo acertar a conjugação, ganhará o direito de caçá-lo. Se errar, adeus pokémon.

Priscila diz que os alunos ajudaram a compor as regras da brincadeira e estão ansiosos para participar. “Isso vai fazer com que eles memorizem os verbos. O conteúdo é difícil e o jogo desperta muito interesse. Eles vão se motivar a estudar para poder caçar.”

Pokémon aparece e jogador pode caçá-lo com a pokebola (Foto: Reprodução)

Pokémon aparece e jogador pode caçá-lo com a pokebola (Foto: Reprodução)

‘Jogo não é isolado da educação’ 

Para Roger Tavares, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e especialista em games, os jogos sempre têm um fim pedagógico, até os violentos. “O jogo é feito por pessoas e todo mundo passou pela escola. Uns gostam mais e outros menos, mas o jogo não é uma coisa e a educação outra. Ele faz parte do ser humano”, diz Tavares, que atualmente faz pós-doutorado em Portugal sobre o tema.

Tavares acredita que se aplicados no ensino, os games podem ajudar a desconstruir a escola como um lugar maçante. “Vejo a escola como um lugar para socializar e trocar experiência. A visão da escola como lugar para ser reprimido, mudou. Alguns professores não entenderam que o videogame é amigo da escola e pode ser usado de muitas maneiras.”

Veja dicas de como usar o jogo: 

Sugestões avaliados por Rafael Lucena, professor de biologia do Stoodi (startup de educação à distância que oferece videoaulas), Roger Tavares, UFRN, atualmente no pós-doutorado em Portugal; e Leonardo Freitas Alves, professor de português da rede privada, em Brasília;

LINGUAGEM 

- Pedir que seus alunos escrevam histórias baseadas em uma aventura vivida por um dos pokémons de sua coleção;

- Pedir que seus alunos escrevam um diário baseado em seu avatar no jogo;

- Pedir que seus alunos escrevam um diário sobre o que viram e aprenderam jogando, incluindo pontos históricos ou turísticos;

- Pedir que seus alunos escrevam uma carta para seu professor buscando convencê-lo a permitir que jogue na sala de aula. Vale lembrar, neste item, que há escolas que proíbem o uso do celular;

- Pedir que seus alunos escrevam um artigo sobre os pontos positivos e negativos do uso do jogo na escola; ou sobre as razões para o jogo estar conquistando fãs por todo o mundo.

MATEMÁTICA/ FÍSICA/ QUÍMICA 

- Usar as características do pokémons do jogo para ensinar probabilidade, aplicando-a sobre o cálculo das chances de determinados pokémons vencerem os oponentes em combates;

- Realizar diferentes agrupamentos de pokémons para construir problemas envolvendo diagramas de Venn e Carrol;

- Usar informações de peso e altura dos pokémons, disponíveis no pokedex, para realizar atividades de estatística, incluindo a produção de gráficos;

- O jogo oferece a possibilidade compras. Formule problemas a partir dos principais interesses de compra dos alunos no jogo. Um exemplo: o que vale a pena comprar e o que não vale. Ou, ainda, como aproveitar melhor cinco dólares em compras com objetivo de conseguir mais pokémons;

- O jogo usa um círculo para determinar a área da captura dos pokémons. Use isso para trabalhar as áreas do círculo;

- No item “journal” é possível obter relatório sobre data e horário de captura dos monstrinhos. Elabore atividades sobre cálculo de tempo, como a elaboração de gráficos;

- Consumo de banda de telefonia: incentive os alunos a usarem dados disponíveis nos próprios celulares para elaborarem trabalhos sobre o consumo de dados e realizarem projeções;

- Usar conceitos da velocidade e trajetória da física para calcular a distância e tempo da captura dos pokémons;

- Nas batalhas nos ginásios, os pokémons lutam, mas é possível prever o vencedor, de acordo com a característica de cada monstrinho (terra, água, ar e fogo), lembrando conceitos da química.

BIOLOGIA 

- Evolução: como os conceitos de evolução se relacionam com a evolução dos pokémons do jogo?;

- Diversidade biológica: por que alguns pokémons são mais comuns que outros? Qual a relação entre seus poderes e as reais capacidades dos animais a que os pokémons são comparados?;

- Ecologia: por que alguns pokémons aparecem somente em certos locais ou horários? Qual a relação entre seu "perfil" (terra, água, fogo, planta, ar, etc.) e suas possíveis localizações?

- No jogo é possível encubar ovos. Mas o que é a encubação? Peça para os alunos realizarem um relatório sobre diferentes formas de reprodução.

GEOGRAFIA 

- Usar o jogo para discutir posicionamento e direção; abordando por exemplo a discussão sobre em qual ponto cardeal está o ponto de interesse mais próximo no jogo;

- Pedir para que os alunos desenhem um mapa com a área onde localizaram seus pokémons.

ARTES 

- Criar e desenhar novos pokémons;

- Dança, teatro e música também podem aproveitar o tema para propor atividades. Uma sugestão é fazer um estudo das cores. Por que alguns pokémons têm cores mais cortes do que os outros. Há uma relação sobre o seu perfil? Os que têm cores mais fortes são mais agressivos, por exemplo?

Sobre o jogo 

Pokémon Go é um game gratuito de realidade aumentada para smartphones Android e iOS. O jogo utiliza o sistema de GPS dos aparelhos para fazer com os jogadores se desloquem fisicamente para conseguir capturar os monstrinhos da franquia da Nintendo.

Pokémon é um game de realidade aumentada (Foto: Reprodução)

Pokémon é um game de realidade aumentada (Foto: Reprodução)

Fonte: G1
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