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Abandonada, Casa do Viva Madalena serve de abrigo para moradores de rua

Residência foi palco da ocupação Viva Madalena, que surgiu contra a demolição do imóvel. A casa é considerada patrimônio histórico.

23/08/2017 08:01

De 1938, casa possui traços arquitetônicos que fazem parte da história da cidade (Foto: Moura Alves/ O Dia)

Depois de dois anos da ocupação Viva Madalena para impedir a demolição de um imóvel construído no século XX (1938) no centro de Teresina, a residência da falecida Madalena encontra-se hoje abandonada e serve de abrigo para moradores de rua. Sem portas, janelas, teto, madeiramento e instalações elétricas, o atual estado do prédio está deplorável. Além de muito lixo, cupins, fungos, cachimbos improvisados, fezes, possíveis focos de mosquitos, há ainda sangue em alguns pontos do local. 

O prédio é localizado na rua Félix Pacheco. O lavador de carros que trabalha nas proximidades do imóvel diariamente, Paulo Roberto da Silva, relata que os moradores de rua estão no local há seis meses. Para ele, a única forma de impedir que os desabrigados tomem conta da casa é ocupando-a de alguma forma. 

(Foto: Moura Alves/ O Dia)

“A casa não está sendo bem cuidada, a proprietária teve seis meses para reconstruir o prédio, mas ela só limpou, e isso já faz meses, já está tudo sujo de novo. Os bandidos e moradores de ruas se escondem aí diariamente. Enquanto ela não ajeitar e alguém ocupar o espaço, não vai mudar nada, porque não tem como impedir que eles entrem”, enfatiza Paulo. 

Foco de doença 

Diante de toda a situação do prédio, muitas doenças podem ser desenvolvidas. O sangue, as fezes e os focos contribuem para o mal cheiro do local e traz a possibilidade do surgimento do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue, zika vírus, febre amarela, e chikungunya. Quem transita e trabalha próximo do prédio teme pela precariedade do imóvel e pelos desabrigados que se apossam do local. 

Como pode ser comprovado visivelmente, muitos usuários de substâncias químicas utilizam o local. Garrafas de bebidas alcoólicas, cigarros, e cachimbos improvisados estavam espalhados pelo chão da residência. Entre os moradores de rua que estão no local está Eudes, ele conta que mais duas pessoas estão abrigando o local e que a proprietária tem conhecimento disso. 

Abandonada, casa serve a abrigo para moradores de ruas (Foto: Moura Alves/ O Dia)

Os desabrigados estavam tranquilos durante a visita da equipe do jornal O Dia ao imóvel, mas começaram uma discussão entre eles sem motivo aparente ao fim da conversa. O lavador de carros Paulo diz que ocasiões como essas são frequentes e que ouve os gritos dos moradores de rua com constância.

Prédio é tido como patrimônio histórico 

A ocupação Viva Madalena foi organizada em julho de 2015 por um grupo de estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Ao terem conhecimento de que o prédio estava sendo demolido pela proprietária do imóvel, impediram a ação e lutaram pela preservação do patrimônio. Os ocupantes indicaram que vários estudos revelaram a importância do imóvel para a história da cidade e mostraram traços da época do século XX, configurando-se portanto como um patrimônio histórico da capital. 

Após 13 dias de ocupação, uma reunião no Ministério Público do Estado com representantes do Corpo de Bombeiros, Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural), da Fundação Monsenhor Chaves e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente foi organizada e a justiça determinou que a demolição do prédio era ilegal e que a residência está incluída no cadastro de imóveis de preservação municipal. 

A proprietária teria sido notificada de que a casa deveria ser reconstruída e preservada. No entanto, passaram-se dois anos e nada foi feito. A casa deixou de ser demolida, mas continua abandonada e sem preservação. 

CAU defende preservação de prédios de históricos 

O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí (CAU-PI), Emanuel Castelo Branco, afirma que o conselho apoiou a iniciativa dos estudantes e continuará lutando pela defesa de todos os imóveis que são patrimônio histórico, cobrando das autoridades competentes a fiscalização da preservação dos mesmos. 

Sangue, as fezes e os focos contribuem para o mal cheiro do local e pode atrair focos de doenças (Foto: Moura Alves/ O Dia)

Segundo ele, mesmo imóvel sendo particular, não tira nenhum mérito de que deva ser preservado, porque faz parte da paisagem urbana e é um patrimônio. O presidente enfatiza que qualquer reforma, pintura, demolição ou interferência em prédios que estejam dentro do Centro histórico de Teresina devem ser informadas e permitidas pelos órgãos de patrimônio público, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). 

“Os imóveis que têm importância para o patrimônio histórico, artístico e cultural para Teresina definem nossa identidade e memória coletiva, não podemos deixar que o patrimônio arquitetônico dessa cidade seja degradado em detrimento das futuras gerações que não poderão usufruir do legado de quem construiu nossa história”, argumenta ele.

Edição: Aline Rodrigues
Por: Karoll Oliveira
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