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Com falta de água constante, moradores de Teresina mudam rotina dentro de casa

A equipe de ODIA percorreu as quatro zonas da Capital piauiense e ouviu em primeira mão as reclamações acerca da água fraca e sua falta.

18/09/2017 08:16

Maria Ivandra, do bairro Redonda, armazena água em baldes (Foto: Letícia Santos/ O Dia)

Acordar de madrugada, encher baldes e tem até aqueles que tem o emprego prejudicado: esse é o cotidiano de moradores de diversos bairros teresinenses, que passam boa parte do dia sem água para realizar afazeres básicos. Soma-se o período do B-R-O Bró e a ausência de abastecimento, e certamente o resultado é calor extremo e insatisfação das comunidades. 

Percorrendo as quatro zonas da Capital piauiense, os relatos se assemelham: na zona Sul são reclamações acerca da água muito fraca e a falta durante o dia, retornando apenas a noite; no outro extremo, na Zona Norte, a mesma situação. Já na zona Sudeste, moradores reclamam ficarem até um mês sem abastecimento de água e precisarem caminhar até hortas comunitárias para ter acesso. Na Zona Leste, a rotina é encher garrafas cada vez que se percebe o líquido nas torneiras. 

Zona Sul 

A renda da aposentada Isabel Rosa (63), moradora do bairro Macaúba, vem através de seu ofício como lavadora de roupas. No entanto, ela acorda às 3 da manhã para lavar cerca de 100 peças diariamente, horário em que a água está forte o suficiente. “Aqui, eu vi que o problema começou depois que mudou a empresa. Aqui a água só pinga, desde de manhã até 10 horas da noite. Não tenho prejuízos porque acordo muito cedo, 3 horas da manhã, o prejuízo é o cansaço o dia todo”, critica. 

Para quem tem filhos, a situação se agrava, já que as crianças requerem cuidados especiais. É o caso da psicóloga Stefanny Carvalho, moradora do bairro Vermelha. Ela relata que há dois meses o problema se iniciou e a saída encontrada é comprar galões de água de 20 litros para não acumular louças e roupas sujas, além da necessidade de tomar banho e preparar comida. 

“Isso não é bom pra gente que é consumidor, porque a gente paga e quer queira, quer não, todo mês vem a conta e e se você está pagando um produto, é viável que você tenha esse recebimento desse produto. Aqui são seis pessoas e aí a questão da sujeira de lavar a louça, uma casa que tem um fluxo grande que não tem caixa d'água como aqui, acaba acumulando serviços básicos”, comenta. 

Zona Norte 

No bairro Jacinta Andrade, o comerciante Marcelino Barbosa relata que se encaminha ao bairro Ihotas para buscar água quando necessário. Segundo ele, o problema de falta de água existe desde que ele se mudou para o conjunto, há seis anos e, devido a isso, os moradores acordam diversas vezes de madrugada para verificar se tem água para encher baldes e garrafas. “Ano passado ficamos um mês batido sem água. Esse ano ainda está vindo, mas já ficamos com medo, porque nesse calor que as pessoas usam mais já esperamos o pior”, fala. 

Zona Sudeste 

A dona de casa Maria Ivandra, moradora do bairro Redonda, relata que já passou um mês sem abastecimento de água e o cenário fez com vizinhos abandonassem o bairro. Para a moradora, as dificuldades aumentam por conta de seus problemas de saúde e a necessidade de carregar baldes prejudica seus joelhos. Em sua residência, são 10 baldes de água que se percebe logo na porta. 

“Eu ando arrebentada de estar botando balde pra cima e pra baixo. A explicação que dão é que aqui é bairro alto, mas porque não buscam uma solução? A gente liga pra empresa e dizem que o problema é a bomba queimada, é nivel da água, mas moro aqui há 24 anos e nesse tempo nunca resolveram”, lamenta. 

Já a moradora do bairro Monte Horebe, a dona de casa Eliane Alves, informa que é raro um dia em que não falte água no local. De acordo com Eliane, 11h da manhã os moradores já não dispõem mais do líquido nas torneiras, e só percebem o retorno à meia noite. Já nos finais de semana, as casas passam o dia inteiro sem abastecimento. Ela ainda relata que já passou três dias sem água. 

Por conta da falta de água constante, Eliane conta que precisou adquirir uma caixa d’água de mil litros. Quando não tinha o reservatório, precisava ir em bairros vizinhos para buscar o liquido. “Aqui eu tenho que acordar as seis horas e quando falta água a partir de meio dia, a gente já começa a fazer as coisas de madrugada, porque ninguém se ela vai permanecer até que horas. 

Da mesma forma, a dona de casa Aline França, do bairro Redonda, conta que, por vezes, precisou recorrer às hortas comunitárias da região em busca de água. “É horrível, uma sensação muito ruim, porque a gente paga caro por um talão de 30 reais e não tem água praticamente o mês inteiro que se você não pagar ainda é cortada”, pondera. 

Zona Leste 

No bairro Parque Mão Santa, os moradores contam que tem água apenas três vezes por dia. É o caso da vendedora Maria Auxiliadora Silva, que conta às 8h já não tem mais água na torneira, retornando apenas 13h e, uma hora depois, já não tem mais. A partir disso, o abastecimento volta apenas a noite. O cenário a faz ir buscar água no bairro Planalto Uruguai. 

Além disso, por precisar estocar água em baldes, a moradora ressalta o perigo de focos de mosquito transmissor de dengue. “É horrível, porque você vai tomar banho, você tem que tomar banho de balde, se você não encher os baldes, você não tem água pra tomar banho de dia, lavar roupa, cuidar de comida, você tem que ter água pra fazer comida e a gente não tem caixa e quem não tem caixa passa a esse sufoco”, lamenta. 

Lourdes, que mora no Vale Quem Tem, aproveita os momentos que tem água para encher garrafas (Foto: Letícia Santos/ O Dia)

A rotina da aposentada Maria de Lourdes Rêgo, residente do bairro Vale Quem Tem, varia de acordo com a hora que a água chega, uma vez que aproveita o momento para encher garrafas. Segundo ela, a medida é necessária pois nunca se sabe quando o líquido voltará. A moradora conta que seus netos estudam no bairro Cidade Leste e diversas vezes eles voltaram do local por não ter água para beber e lavar as mãos. Segundo ela, a última vez foi na semana passada. 

“Toda vida a gente vive usando água estocada. Sem água não vive, numa quentura dessa, é preciso pra tomar banho, lavar uma roupa. As vezes quando chega não dá tempo nem lavar louça, ai ficamos esperando o dia todo nesse vai e volta. Nós ficamos prejudicados, até o estudo das crianças ficam prejudicados”, fala. 

Empresa garante que já iniciou intervenções emergenciais 

Por meio de nota enviada a O DIA, a empresa Águas de Teresina informou que cada região tem suas particularidades e, por esta razão, existe um monitoramento do sistema afim de identificar quais ações são necessárias para melhorar a situação nessas localidades. 

Diante disso, a empresa havia mapeado 14 bairros para atuar de forma emergencial. Ao tomar conhecimento de outras áreas com histórico crítico de abastecimento, demais localidades passaram a integrar o planejamento, atualmente composto por 31 bairros. 

Hoje, os bairros previstos no plano de ação para o B- -R-O Bró são: Uruguai, Meio Norte, Gurupi, São Lourenço, Torquato Neto, Eduardo Costa, Orgulho do Piauí, Morada Nova, Esplanada, Portal da Alegria, Santa Maria da Codipi, Jacinta Andrade, Grande Dirceu Arcoverde, Itararé, Parque Ideal, Novo Horizonte, Colorado, Gurupi, Tancredo Neves, Comprida, Universitário, Redenção, Parque Piauí, Jóquei, Horto, Planalto Uruguai, Santa Izabel, Ininga, São Cristóvão, Satélite e Fátima. 

No caso do Monte Castelo, o bairro já apresentava histórico de falta de água durante o B-R-O Bró, quando o consumo de água aumenta em mais de 20% na cidade. Equipes de melhorias têm feito a troca de registros desgastados e que estavam comprometendo a eficiência das operações. 

 Ações 

Entre as ações previstas no plano emergencial de 180 dias, estão intervenções como interligações de rede, setorização, ativação e perfuração de poços. 

Nesse mês de setembro, a concessionária fará intervenções importantes para ampliar a capacidade de abastecimento, com obras na região do Dirceu Arcoverde e Santa Maria da Codipi. 

No Dirceu, será feita a instalação de uma unidade de bombeamento ligada à rede principal, para aumentar a pressão e manter a vazão da água, reforçando o fornecimento. A obra irá beneficiar quase 20 bairros atendendo uma população estimada em 200 mil pessoas. Na Santa Maria da Codipi, a previsão é de que em outubro a Estação de Tratamento de Água Codipi (ETA) esteja operando em sua plena capacidade, atendendo outros bairros, a exemplo do Jacinta Andrade. Nessa região, algumas melhorias foram executadas e a produção de água aumentou de 130 para 250 l/s.

Edição: Biá Boakari
Por: Letícia Santos
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