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Ensaio: Mulheres mostram que beleza é um estado de espirito e não um padrão

Amplamente divulgado e aceito socialmente, o padrão de beleza que determina que as mulheres precisam ser magras e ter muitas curvas, não condiz com a realidade

02/12/2017 10:41

 Quando se fala sobre o que é belo fisicamente, normalmente, se associa a uma imagem esbelta, aos moldes do clássico modelo grego de beleza. Curvas, músculos, medidas simétricas e perfeitas. Esse é um padrão que, embora seja amplamente divulgado e aceito socialmente, não condiz com a diversidade de corpos existentes. Enquanto muitos buscam atingir os ideais de beleza que são cultuados, outros, na contra mão disso tudo, mostram que a beleza vai além. Para estes, beleza é mais sobre como você se sente em relação a si mesmo do que sobre como as pessoas te veem. É também um estado de espirito!


A convite do ODIA, Betina Barros, Suzanne Nunes, Beliza Drummond, Fernanda Almendra e Lorena Noleto tiveram um papo descontraído sobre beleza. Foto: Júnior Andrade

Os padrões de beleza variam de acordo com culturas e contextos históricos. Aliados a isso, outras variantes se somam na definição de ideias de corpos, como a mídia e a própria sociedade. Tudo reforça e delimita o que se considera belo. Nesse sentido, as décadas passam, as estéticas mudam e o corpo, a expressão máxima da beleza, continua sendo um tabu. O corpo fora do padrão agride os olhos e incomoda, uma vez que não é aceito e apresentado como também uma possibilidade de ser belo. Quem estar fora do que é tido como bonito é marginalizado. 

A estudante Betina Barros é uma das que já sofreu por ser gorda e ser considerada fora dos padrões. “Por muito tempo da minha vida fui criticada, em especial pela minha família, por sempre está acima do peso, eles nunca se conformaram com isso, descarregando essa frustração em mim, e me fazendo ser frustrada também. Justamente por conta de tanta pressão sobre mim, eu não me sentia bem, e isso já me fez perder muitas oportunidades, relacionamentos, e trabalhos por medo do julgamento das pessoas”, lembra.

A advogada Beliza Drummond conta que não sofria pelo fato de ser gorda, e sim pela discriminação que isso lhe acarretava. “O mais complicado pra mim era não ser ‘comum’, não ser igual às meninas ‘normais’. Não era o meu corpo me incomodava, mas sim a discriminação e o julgamento que ele me trazia. Falo em discriminação, porque é exatamente isso que você sente, quando não pode, por exemplo, usar o mesmo modelo de jeans que suas colegas usam, por não existir uma peça do seu tamanho”. 

O ensaio teve como tema 'Bonitas pra caramba!". Foto: Júnior Andrade

Mesmo atravessando uma adolescência difícil, marcada por complexos e insegurança, Beliza, já adulta, desenvolveu uma relação bem melhor com o próprio corpo. “Hoje sou mais tranquila com meu corpo. Não sei se porque, quando você vai amadurecendo sua noção de beleza se amplia, ou se porque de fato a nossa sociedade teve alguma evolução e os referenciais de beleza passaram a ser mais amplos. Percebi que a beleza não reside apenas em um padrão, ele é pessoal e intransferível. Todos têm beleza em suas particularidades”, acrescenta. 

Lorena Noleto, Cientista Social e Estudante de Teatro, também desenvolveu, ao poucos, uma boa relação com o corpo até se aceitar fora dos padrões. “A relação com o meu corpo hoje é maravilhosa, mas nem sempre foi assim, foi um processo doloroso, porém libertador pra chegar até aqui. Eu sempre fui gorda, nasci com quatro quilos, mas desde que eu comecei a criar consciência de mundo, sofri o não encaixe aos padrões e isso me levou a sofrer bullying, dietas desde os 11 anos de idade, bulimia e até depressão. Com o tempo, tratamentos psicológicos e principalmente a construção mais firme da minha identidade e amor próprio, passei a me apaixonar por mim, integralmente”.

Autoconhecimento 

Esse processo de se autoconhecer, se aceitar e viver sua própria beleza envolve a desconstrução de conceitos e padrões. Para a jornalista Fernanda Almendra, que conta estar passando por essa fase, esse é um momento de abrir a mente e perceber além. “Esse processo passa por várias esferas, não é só sobre sua aceitação em relação ao que você é, mas acho que vai muito do que é imposto, a gente tem que ir, por exemplo, na contramão do que a mídia impõe pra gente. Ainda estou em processo de aceitação, mas consigo vislumbrar e entender que padrão nenhum vai me limitar de ser feliz e dizer o que eu tenho que deixar de ser”.

Fernanda conta que esse processo de autoconhecimento e procura pelo bem estar envolve a busca por outras referências de beleza. “Ultimamente ando mudando minhas referências de beleza nas minhas redes sociais, por exemplo. Procurei seguir, nas minhas redes sociais, pessoas que estão mais próximas da minha realidade e esquecer a busca pelo ideal. Afinal, o que é ideal para alguém pode não ser para mim e vice versa. Olhar no espelho e enxergar além do próprio corpo também tem sido outra inspiração para o meu bem estar”.

Assumidamente modelo plus size, Suzanne Nunes não tem vergonha de mostrar o próprio corpo, “Me acho bonita e sexy”, define. Até sentir segurança em se afirmar e se exibir como gorda, por se sentir perdida e desinteressante, conta que exagerava no uso de medicamentos para emagrecer. Hoje Suzanne usa as redes sociais para inspirar outras pessoas, tidas como fora do padrão, a se amarem como são e a encontrarem sua própria beleza.

“Aprendi na dor a me amar. Ainda estou em construção, isso me faz forte. Mas não foi fácil entender que eu me bastava, e não foi rápido, por isso acho que o autoconhecimento é a chave de tudo, você é a cura para as suas dores. Quero ajudar pessoas, quero inspirar elas a fazer mudanças, fazer escolhas caso preciso. Isso me ajuda a crescer mentalmente e espiritualmente”, afirma.


A entrevista e o ensaio fotográfico são do caderno Metrópole, da edição deste final de semana do Jornal ODIA. Foto: ODIA

Por: Yuri Ribeiro
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