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Violência e misoginia no Brasil: por um país feminista hoje e sempre!

Confira o texto publicado pela colunista Ana Regina Rêgo no Jornal O Dia.

31/10/2019 11:48

Os dados do 13º Anuário de Segurança Pública divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em setembro deste ano, reiteram os números crescentes da violência  contra a mulher em nosso país. Em 2018 houveram 66 mil casos de violência sexual, o que equivale a 180 estupros por dia. 82% das vítimas deste tipo de crime eram do sexo feminino. 54% das vítimas tinham até 13 anos. Esses dados correspondem aos casos em que as vítimas foram até uma delegacia  formalizar uma denúncia, entretanto, o próprio Fórum alerta para o fato de que, no que concerne aos crimes de estupros, no Brasil somente 7,5% dos casos são notificados, ao passo que nos Estados Unidos, por exemplo, os números de denúncias oscilam entre 16%  e  32%, mesmo assim, ainda muito baixo. A realidade da mulher no Brasil é, portanto, muito mais complexa, visto que os números de estupros devem ser infinitamente superiores. 

  Por outro lado, os números de feminicídio no Brasil cresceram 5% em 2018 com um total de 1.206 assassinatos. Já sobre violência doméstica houveram 236.067 boletins de ocorrência. O destaque nos feminicídios vai para o autor do crime, em 89% dos casos, os assassinos eram companheiros ou ex-companheiros das vítimas.  Já no que se refere aos estupros e demais abusos, os criminosos são, na maioria das vezes, pessoas próximas, tais como: pais, avós, irmãos, vizinhos, etc.  

  Continuamos, portanto, no limiar da barbárie. As mulheres continuam subjugadas, violentadas e assassinadas em nosso podre país de hipócritas ambulantes que lotam as igrejas e defendem os direitos do homem, em detrimento da mulher.

O COMEÇO

  Pitágoras milhares e milhares de anos atrás já dizia que existiam dois princípios,  o primeiro era bom e havia gerado a ordem, a luz e o homem; já o segundo era mau e havia gerado o caos, as trevas e a mulher.

  A dominação androcêntrica de que nos fala Bourdieu, já estava então estabelecida na maioria das culturas. No ocidente, tanto quanto no oriente, a mulher sempre foi subjugada, quando não considerada como um não ser, somente apta ao espaço privado e à procriação.

  Fomos silenciadas na história, na arte, na cultura, na educação e na vida. As poucas conquistas que relacionamos são recentes e novamente estão sendo contestadas por uma masculidade tóxica que se reverte em machismo ambulante, muitas vezes, reverberado pela boca de mulheres mais machistas que os próprios homens, completando assim o círculo de hegemonia, em que a inconsciência de si do dominado defende o próprio dominador.

  O mais importante a ressaltar é que a pequena relação de conquistas não se estende à maioria das mulheres que continuam percebendo salários inferiores, mesmo que com carga de trabalho superior;  que continuam sendo tratadas como escravas sexuais ou como escravas domésticas, não podendo ter sua própria vontade, muito menos planejar sua própria vida, sendo impedidas de se manifestar enquanto ser. 

  Em nosso país as conquistas normalmente só são visíveis e vivíveis por mulheres brancas e/ou que alcançaram um nível educacional e econômico suficiente que lhes permite autonomia, mesmo assim, a misoginia se apresenta e nesses extratos também acontecem assassinatos e estupros no limite, enquanto que no cotidiano são tratadas como inferiores em pequenos detalhes. Entretanto, quando falamos de mulheres negras e/ou pobres a situação é infinitamente pior, não há liberdade e sem liberdade não há vida, que por sinal, continua a ser subtraída diariamente. 

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