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Viajar para contar: Do amor despejado em saudades

De quando encontrei uma carta de amor dentro do meu apartamento

12/08/2015 17:09

Encontrei uma carta de amor no canto mais improvável deste pequeno apartamento. Eu estava aqui, organizando o que seria minha moradia pelos próximos meses, com o coração despedaçado de dúvidas e medos e, de repente, me deparei com aquele papel amassado, sujo, escrito a mão, esquecido por detrás da geladeira. Uma carta recheada do mais puro amor.

Pela data “quarto minguante, fevereiro de 2015”, creio que teria sido escrita pela antiga hóspede que, assim como eu, estaria aqui em seu primeiro intercâmbio. E diferente de mim, havia deixado um grande amor no Brasil. Sim! O escrito borrado de apenas cinco parágrafos e que me fez chorar copiosamente, estava em português.

Derramando saudade pelos cantos, a última hóspede, buscava encontrar pelas ruas festivas do carnaval de Barranquilla, seu amado. “Aqui o carnaval é ‘super comportado’, não vi brigas, nem putaria. O caos casteño se transparece em alegria e flerte. Eu me transformei em dança”, escreveu docemente. Na falta da presença do amado, a menina se entregou à rua durante cinco intensos dias. Para quem não sabe, o carnaval da costa colombiana é o segundo maior e mais festivo do mundo, perdendo apenas para nossas animadas festas brasileiras. É o que me contam todas as pessoas que aqui vivem.

A carta não estava assinada, parecia não haver precisão. Seu destinatário já conhecia exatamente o formato daquelas palavras escritas com a pressa de um amor que sofria de lonjuras.

Não sei bem se é possível definir, mas nesses momentos, o fato de te pensar me fez sentir o vento me atravessar, com um ato de pura carícia”, desabafou a menina, que eu desconhecia o rosto. Mas a cada frase lida, aquela menina se revelava para mim, enamorada, saudosa e mergulhada, através das palavras, nas carícias de seu intenso amor, que devia esperar ansiosamente seu regresso no país ao lado. Ela não sabe e talvez nunca saiba, mas, eu aqui, sentada sozinha, dentro deste lugar que já foi sua moradia, torne-me sua confidente.

Senti-me também um pouco enamorada por aquelas palavras. Talvez pela saudade. Ou pela falta de abraços. Em tão poucos dias distante de minha vida costumeira, ainda estou me adaptando a este lugar quente, tal qual a minha cidade de origem. E as semelhanças param por aí.

Após conhecer amor tão profundo em poucas frases, não consegui terminar de fazer meu primeiro almoço, deixe a organização do apartamento para outro dia e me desabei em choro por algumas horas, enquanto tentava construir e imaginar aquela relação de amor que me foi apresentada em apenas cinco parágrafos de uma carta esquecida dentro deste apartamento. O suficiente para amassar assim, tão profundamente, o meu peito.

Por: Aldenora Cavalcante
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