07 de dezembro de 2015. 22h45. Centro cirúrgico da Clínica Santa Fé. Um choro forte penetra pelos meus ouvidos e toca minha alma com uma revelação: eu já não sou quem eu conhecia. A mulher que entrou naquela sala não está lá. No lugar dela, nasceu uma outra, a mãe de Luísa.
Você é trazida para perto de mim e eu só consigo absorver seu cheiro, seu rostinho. Você é minha e eu sou sua. Inteiramente sua.
Mas como? Você não é a primeira a sair de meu ventre. E meu coração já pertence à Laura e à minha estrelinha. Como posso ser inteiramente sua? Não consigo pensar. Ainda estou inebriada com a sua imagem. Com você comigo.
Os dias passam. Você já fez um mês, Luísa. Já mudou muito, desde que nasceu. E eu mudei junto. Nossos dias, nossas noites, a nossa rotina com sua irmã, seu pai e toda a família... Tudo mudou. Eu ainda sou a mesma, mas sou totalmente diferente.
Quando estava grávida, por vezes eu olhava Laura e me perguntava se seria capaz de dedicar a você o mesmo amor que dedicava à sua irmã. Eu não sabia como ia fazer para me dividir, para ser das duas, com a mesma intensidade.
Essa dúvida já não existe. Você me arrebatou, Luísa. Conquistou meu coração desde a descoberta da gravidez, aos poucos, dia a dia, com o crescer da barriga. Ao nascer, você me arrebatou e mostrou como ser inteira e, ao mesmo tempo, dividida. Eu não sei como isso acontece, mas o fato é que, sim, amo vocês de forma diferente, mas igual.
Esses primeiros dias não são fáceis. Nem sempre há a poesia que nos contam. E eu achava que já sabia disso, afinal, essa não é a minha primeira viagem como mãe.
Mas o estranho – e belo – é que essa é, sim, a minha primeira viagem como mãe, como sua mãe.
Uma das coisas que aprendi com o seu nascimento é que sou mãe da Laura, mãe da nossa estrelinha e sua mãe. E que essas mulheres são todas diferentes. Em muitos pontos, elas se encontram e conversam, confidentes. Noutros, elas divergem e se olham à distância, com um silêncio respeitoso. Noutros, ainda, elas gritam uma com a outra e se desentendem, amarrando a cara e desejando ser, de novo, apenas filha.
E entre dias calmos e noites insones, vamos seguindo e construindo nosso amor. Vivo em turbilhão. Chamam a isso puerpério. Eu chamo renascimento.
Cada dia é uma aventura: um enfrentar de birras da irmã mais velha; um imaginar como seria se Lucas/Maria estivesse aqui e fossem três crianças em casa; um encantar-se com o amor entre você e Laura; um desejar dormir infinitamente e não me sentir tão cansada; um chorar sem motivo e com todos os motivos do mundo; um sentir-me incapaz de ser a melhor mãe do mundo; e um aprender a me amar assim, imperfeita.
Embora eu veja muitas semelhanças entre você e Laura, vejo também suas múltiplas diferenças. E me encontro em vocês. E descubro que esse é o segredo da maternidade: de certa forma, nenhuma mãe tem mais de um filho. Cada mulher é mãe de filho único. Porque para cada filho que você tem, uma nova você nasce e se constrói ao lado da outra.
Eu, por exemplo, tenho em casa dois sóis e uma estrela. Dois pares de olhos de mar em que mergulho, afogo e salvo, diariamente, dando mais sentido à minha vida. E um par de olhos de luz, que não vejo, mas sei que ilumina o meu caminho.
E assim eu sigo, sendo uma e sendo três. Uma para cada filho. Mãe.
Por: Viviane Bandeira, jornalista, mãe da Laura, de uma estrelinha e da LuÃsa