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A inquietação Americana com o avanço da China.

Confira o texto publicado pelo colunista Celso Pires no Jornal O Dia.

28/11/2019 09:32

Existe expectativas crescentes em Washington e Pequim de que um acordo para ajudar a resolver a guerra comercial entre E.U.A e China possa ser feito em breve. No entanto, o comércio não é apenas a única rivalidade entre as duas superpotências; perpassando muitos outros setores, tais quais a economia, defesa, cultura e tecnologia. Tentar afirmar onde vai chegar tal competitividade mútua não é algo fácil. As tensões entre os dois países são muito mais profundas do que apenas o comércio, e a resolução do conflito somente em torno desse acordo comercial não fará muita diferença por si só. A realidade é que houve uma mudança negativa articulada em relação à China nos Estados Unidos da América nos últimos anos, sendo que existem muitas razões para esse aumento nas tensões. Os americanos reclamam que a China nunca teve em vista seguir as regras comerciais então postas na sociedade internacional. Afirmam que os chineses querer ingressar em fóruns multilaterais para começar a mudar a forma como os fóruns multinacionais regulam o comércio global. Em outras palavras, a China se une com a intenção de mudar a realidade a que se agrega, e não de mudar a si, flexibilizando ou cedendo em determinados termos. A escalada comercial planetária da China teve como resultado uma vasta onda de perdas de empregos e fechamento de fábricas nos E.U.A. Os chamados "Estados do cinturão da ferrugem" (onde as indústrias americanas estão concentradas) que votaram no presidente Trump em 2016 foram os que mais sofreram com a ascensão chinesa. Muitas empresas americanas transferiram a produção para a China para se beneficiar de custos trabalhistas mais baixos, mas essas empresas pagaram um alto preço por essa mudança, pois a China as obrigou a entregar sua tecnologia e propriedade intelectual. E mesmo as empresas que não realocaram a produção descobriram que a China de alguma forma se apossou de seus segredos comerciais. As agências policiais nos E.U.A têm uma longa lista de acusações contra indivíduos e empresas chinesas por espionagem comercial e invasão por hackers. O F.B.I. informou recentemente ao Congresso dos E.U.A que existem atualmente pelo menos mil investigações em andamento sobre o roubo de propriedade intelectual de empresas americanas que envolvem a China. O governo dos E.U.A estimou que o valor total da propriedade intelectual roubada pela China nos quatro anos até 2017 em US$ 1,2 bilhão. Muitos especialistas asseguram que essa é a principal razão pela qual as relações entre os E.U.A e a China desandaram. Assim que as empresas americanas descobriram suas patentes sendo desfeitas, seus produtos com engenharia reversa, seus processos de pesquisa e desenvolvimento sendo invadidos, mais e mais dessas empresas concluíram que a parceria com a China não estava se mostrando lucrativa e na verdade poderia realmente está sendo totalmente negativa. A partir dessa percepção, quem anteriormente defendia o envolvimento com a China agora se mostrava alarmado ao ver a rapidez com que o gigante asiático estava se aproximando e principalmente, por meios altamente questionáveis. Neste momento existe um movimento que se distancia da “guerra contra o terror” e, em vez disso, enfoca a competição entre as principais potências como a maior ameaça aos Estados Unidos da América. O departamento de defesa dos E.U.A agora acredita que enfrentar a ascensão da China é um dos principais objetivos militares dos Estados Unidos nas próximas décadas. A velocidade com que a China construiu e depois militarizou uma série de ilhas artificiais no Mar da China Meridional, desafiando o direito internacional, tem alarmado especialmente os americanos. A China tem sido muito evidente em suas ambições de liderar o mundo nas importantes tecnologias do futuro, como robótica e Inteligência Artificial. Os chineses obtendo sucesso nessas áreas, provavelmente superarão os Estados Unidos como a principal potência do mundo. A supremacia militar dos E.U.A não se baseia em um enorme exército permanente, mas em sistemas de armas de alta tecnologia. Se a China liderar essas tecnologias cruciais, talvez os americanos não consigam os acompanhar por muito tempo. A China não apenas aperfeiçoa tecnologias para vigilância e censura doméstica, contudo exporta cada vez mais essas tecnologias, além de fazer inúmeros investimentos no exterior. Portanto, não se espera que a posição dos E.U.A sobre a China mude no curto prazo, mesmo que Donald Trump perca as próximas eleições. A ascensão chinesa associada a uma ideologia de repressão é algo preocupante para a sociedade internacional.

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