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O início das audiências para o impeachment de Trump

Confira o texto publicado pelo colunista Celso Pires no Jornal O Dia.

21/11/2019 08:37

A primeira audiência pública do processo de impeachment de Donald Trump, realizada agora em novembro, poderia ter sido relativamente trivial para quem acompanhou a cobertura no último mês dos depoimentos a portas fechadas de uma série de funcionários do atual governo e do governo anterior. A cobertura da mídia americana tem sido completa (CNN, NPR, FOX, NBC etc.) e não tem deixado passar nada; entretanto, surgiu uma novidade em meio a monotonia da audiência. o embaixador dos Estados Unidos em exercício na Ucrânia, Bill Taylor, fez uma revelação que pode complicar a situação de Donald Trump.

Trump é acusado de ter pressionado a Ucrânia a investigar seu rival político Joe Biden, principal pré-candidato democrata na corrida para as eleições de 2020, em troca de apoio militar ao país. O presidente nega, no entanto, as acusações, afirmando se tratar de uma "caça às bruxas". Taylor revelou na audiência pública que um de seus assessores estava com o embaixador americano para a União Europeia, Gordon Sondland, enquanto ele conversava por telefone com Trump após uma reunião com os ucranianos no dia 26 de julho — um dia depois do controverso telefonema entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, no qual o americano teria feito pressão para abrir as investigações, o que motivou o pedido de impeachment. Segundo Taylor, seu assessor ouviu Trump perguntar sobre "as investigações" — e Sondland respondeu que a Ucrânia estava pronta para seguir em frente. Sondland teria dito ao assessor de Taylor que o presidente americano se importava mais com a investigação de Biden do que com qualquer outra coisa envolvendo a Ucrânia. Esse telefonema tem o potencial de representar uma grande reviravolta no processo de impeachment contra Trump. Houve consideráveis relatos sobre a interação de Sondland com os ucranianos, e o próprio embaixador afirmou em depoimento ter dito às autoridades ucranianas em 1º de setembro que presumia que a ajuda militar dos E.U.A provavelmente seria retida até o início das investigações. Durante a audiência pública, Taylor falou sobre como Sondland contou a ele que o presidente americano, como sendo um empresário, queria receber o que "deviam a ele" antes de "assinar o cheque" e que haveria um "impasse" se a Ucrânia não agisse — o que Taylor interpretou no sentido de a ajuda militar não ser retomada sem a abertura das investigações. Embora ainda haja relatos da relação direta de Sondland com o presidente, não existe evidências ligando Trump diretamente à suposta troca de favores. Todavia, o telefonema que Taylor descreveu pode mudar esse cenário. No meio da audiência pública, o Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes anunciou que agendou um depoimento a portas fechadas de uma nova testemunha: um assessor de Taylor chamado David Holmes — supostamente o assessor que Taylor mencionou quando fez referência ao telefonema. E, agora no final de novembro, o próprio Sondland vai depor durante as audiências públicas. Embora o embaixador não tenha mencionado o telefonema com o presidente em seu depoimento original a portas fechadas, vale lembrar que ele já precisou retificar seu depoimento uma vez para incluir que havia lembrado de ter discutido com autoridades ucranianas sobre ajuda militar. Os democratas podem estar esperando que ele faça isso de novo. Se Sondland ou Holmes validarem o depoimento de Taylor, isso pode minar a defesa do presidente americano, que sugere que Trump não estava diretamente envolvido nas atividades do "canal não oficial", como Taylor chama, com o governo da Ucrânia, que estaria pressionando o país a investigar Biden. Trump, quando perguntado sobre seu relacionamento com Sondland, afirmou: "Eu mal conheço esse senhor". No entanto, se Donald Trump recebeu de fato ligações diretas do embaixador após as reuniões com a Ucrânia, essa declaração parece menos convincente. Independentemente de ter sido por acaso ou programado, o primeiro dia das audiências públicas do processo de impeachment ganhou as manchetes dos jornais e criou uma linha de investigação e especulação política. Após essa grande revelação, os democratas têm motivos para ficar contentes, enquanto a equipe de Trump ganhou mais uma grande preocupação

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