Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Qual o futuro das relações entre China e Estados Unidos?

Celso Pires - Advogado

12/04/2019 06:04

Não faz muito tempo, a ascensão da China era avaliada como essencialmente benigna. Uma economia em crescimento onde as críticas previam um alinhamento ao modelo de sistema político mais liberal. A China, usando um termo popular entre analistas americanos, estava se tornando uma “potência global responsável”. Contudo, atualmente, a China é cada vez mais vista como uma ameaça. De fato, muitos temem que a rivalidade entre China e Estados Unidos possa até levar a um conflito com ramificações globais. Resta uma desconfiança se os dois países estariam em um curso inevitável rumo à guerra. A dinâmica perigosa inicia quando um poder em ascensão ameaça a posição de um poder já estabelecido. No mundo da Grécia antiga, foi Atenas que ameaçou Esparta. No fim do século 19 e começo do século 20, a Alemanha desafiou a Grã-Bretanha. Presentemente, uma China em ascensão está potencialmente desafiando os Estados Unidos. Um interessante estudo do cientista político da Universidade de Harvard Graham Allison, ao analisar 500 anos de história, identificou 16 exemplos de potências emergentes que confrontaram um poder estabelecido, sendo que em 12 dos casos, isso levou à guerra. A rivalidade entre Washington e Pequim é, segundo ele, "a característica que define as relações internacionais atuais e no futuro próximo". Então, perguntar se Estados Unidos e a China conseguirão evitar um conflito bélico não é uma questão meramente acadêmica. Evidentemente, nem todos concordam com um contexto belicoso. Mesmo a ascensão chinesa sendo extraordinária, analistas acreditam que sua força global simplesmente não seja comparável à dos Estados Unidos. O panorama da China se restringiria apenas a região do Pacífico Ocidental. Entretanto, um confronto nesta região poderia ser suficiente para levar essas duas grandes potências à guerra. Não menos importante é o fato de que a China está buscando construir a maior armada naval do mundo. A qualidade dos equipamentos da China ainda está melhorando significativamente, com navios de guerra maiores e mais sofisticados, cujas capacidades, em muitos aspectos, estão se aproximando das de embarcações ocidentais. A estratégia marítima chinesa também está se tornando mais assertiva. Embora o foco dessa assertividade permaneça, por enquanto, relativamente próximo do território chinês, Pequim está tentando elevar os custos de uma possível interferência dos Estados Unidos em uma crise relacionada a seus interesses. Quer sendo capaz, por exemplo, de manter os americanos à distância se, acaso decida usar sua força contra Taiwan ou limitando o acesso dos Estados Unidos estão à região sob sua influência. No entanto, as hodiernas crescentes tensões sino-americanas ainda são produto de fortes personalidades envolvidas no contexto. Xi Jinping tem sido um líder transformador com uma visão muito mais expansiva e ambiciosa sobre o lugar da China no cenário global. Busca reformular normas e instituições do cenário global de um modo que reflita mais de perto os valores e prioridades chineses, objetivando uma maior participação global de amplo aspecto. Os Estados Unidos estão revendo sua posição. Washington classificou a China, juntamente com a Rússia, como uma "potência revisionista", ao dizer que ambos querem redefinir o mundo de acordo com seu modelo autoritário. Os militares americanos consideram a China como um rival ao seu nível, um ponto de referência com o qual os poderios naval e aéreo dos Estados Unidos devem ser comparados. Mas, diante de todo esse poder, ainda estão sendo dados os primeiros passos no estabelecimento de uma nova estratégia para lidar com China. Alguns falam da possibilidade de uma segunda Guerra Fria, desta vez entre os Estados Unidos e a China. No entanto, ao contrário da Guerra Fria do século 20, entre americanos e soviéticos, as economias americana e chinesa estão profundamente interligadas. Isso dá à rivalidade uma nova dimensão, conduzindo à uma batalha pelo domínio tecnológico. O duelo entre Estados Unidos e China abrange preocupações mais amplas com o setor de alta tecnologia, em relação ao roubo de propriedade intelectual, vendas ilícitas a países inimigos e espionagem. Por trás de tudo isso, está o temor de que os chineses possam em breve dominar tecnologias fundamentais para a prosperidade futura; tais como a internet, carros autônomos e inteligência artificial. A economia e a estratégia estão intrinsicamente ligadas a esta China decidida a se tornar um ator global dominante na próxima década. Isso obviamente dependerá de a China continuar a crescer. Existem sinais de que sua economia pode estar enfrentando problemas ao se apegar ao modelo autoritário e rejeitar outras reformas de mercado. O acontecerá se o progresso econômico diminuir é uma incógnita. Alguns argumentam que Xi Jinping pode conter suas ambições. Outros temem que isso possa enfraquecer sua legitimidade na China e encorajá-lo a fortalecer o nacionalismo, levando potencialmente a uma assertividade ainda maior. A rivalidade entre a China e os Estados Unidos é real e não vai a lugar algum. Um erro de cálculo estratégico é um risco claro. Os dois países estão em uma encruzilhada estratégica. Ou eles encontrarão maneiras de acomodar os interesses um dos outro ou terão um relacionamento muito mais conflituoso.

Mais sobre: