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Contar Tudo, de Jeremias Gamboa

Mais um bom motivo para lermos os latino-americanos

18/05/2015 00:00

Jeremías Gamboa é um jovem autor peruano. No Brasil, tem apenas um livro publicado, com o título “Contar tudo”. Resolvemos estrear com ele neste blog, por reconhecermos o pouco espaço concedido à literatura sul-americana. Na escola, estudamos um pouco sobre literatura europeia, especialmente portuguesa, e, depois, somos introduzidos à literatura brasileira.

E, nesse caminho, por vezes perdemos a oportunidade fantástica de conhecer autores latino-americanos que nos falam sobre nossa realidade e cultura. E que são excelentes escritores, como os vencedores do Nobel Gabriel García Marquez e Mario Vargas Llosa, além de muitos outros.

Gamboa (foto acima) enriquece seu romance fazendo belas referências a grandes artistas. Segundo ele, Caetano Veloso e Lou Reed são os grandes homenageados. Ambos são citados várias vezes e auxiliam o protagonista, Gabriel Lisboa, a encontrar seu caminho. As ruas, os bairros, o transitar por Lima são minuciosamente descritos, a cidade tem vida, é impossível ler o livro e não sentir vontade de conhecer o Peru. O poder da amizade, de encontrar no mundo pessoas com as quais dividir o peso da vida é outro tema marcante. A angústia do protagonista é conseguir canalizar a vontade de se tornar escritor. Maturar a escrita e saber o que ele deseja dizer – acreditar que há algo de relevante a ser dito. Llosa é citado no enredo e é considerado um grande padrinho e incentivador de Jeremias Gamboa.

Para quem se interessou segue a resenha, sem spoilers.

Perto do seu trigésimo aniversário, o peruano Gabriel Lisboa resolve contar sua saga de abandono do jornalismo pela decisão de escrever literatura.

Sua jornada parte dos anos finais da adolescência e entrada na Universidade de Lima, uma das melhores do país, cujo pagamento do seu curso de Jornalismo é feito com uma sacrificada bolsa e com a ajuda dos tios com os quais mora no distrito de Santa Anita, região marginalizada de Lima.

Naquela universidade, o jovem não se sentia à vontade até se aproximar de Montero, um rapaz pouco mais velho e que o levaria a conhecer um clube de poesia formado por jovens estudantes. Lá, Gabriel, pela primeira vez, vivenciou o impulso de escrever, e, também, ao se aproximar de mais dois rapazes, Jorge e Bruno, reconheceu que não estava só: naquele lugar de jovens deslocados e desassossegados percebeu que as afinidades deles validavam um lugar no mundoque marcaria sua vida para sempre.

Gabriel conseguiu um emprego num dos melhores jornais do país; lá conheceu pessoas que marcaram seu desenvolvimento como profissional e que também viam nele o potencial para a literatura, e o aconselhavam a não deixar que a rotina produtiva dos jornais matasse seu impulso por escrever.

Com dinheiro no bolso e com sensação de liberdade, ele descobriu o lado selvagem dos vinte e poucos anos: puteiros, drogas, noitadas underground ao lado de seus amigos, que sempre citavam autores, pintores, músicos e jornalistas que marcaram o desenvolvimento desses quatro jovens aspirantes a escritores.

O jovem Lisboa conquista prestígio entre os jornalistas e os leitores, e quando passa a editar uma importante revista peruana, passa a sentir-se insatisfeito – culpa-se por estar lendo o mundo apenas pelos olhos da urgência jornalística da atualidade, deixando de lado os livros que acumula em pilhas em sua nova casa. Assim, decide largar o jornalismo em busca da literatura – apanhar a poesia nos diálogos corriqueiros, estar com a intuição sensível a postos, tomando as palavras de Jorge L. Borges: “dar nome ao que ainda não tem”.

Acontece é que a vida sobrepunha-se à sua dedicação: os amores contrariados, a praticidade da vida adulta – que enterra o romantismo –, o amadurecimento e os caminhos que seu grupo de amigos acabou por tomar o angustiavam cada dia mais, tornando difícil a captura do sentido de tudo e a transposição para o papel em branco.

A captura do espírito desse romance é ponto-chave para a sua compreensão: nostalgia, sede de viver e o milagre que é trazer à tona boas lembranças.



Revisão: Ceiça Souza

Edição: Ananda e Luciana
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