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Michelle: mais do que um nome

Michelle surge em carro aberto ao lado do Presidente eleito e literalmente rouba a cena

09/01/2019 19:15

Agressões mútuas e de baixo calão desagregaram o Brasil em três frações, a partir do segundo semestre de 2018, alcançando o ápice, quando dos dois turnos das eleições presidenciais, respectivamente, 7 e 28 de outubro desse ano. De um lado, os aliados do Partido dos Trabalhadores, representado pelo advogado Fernando Haddad, quando, por fim, o PT concluiu sobre a impossibilidade de emplacar o “candidato natural” do Partido, em que pese o rastro de lama à sua volta, Luís Inácio Lula da Silva, à frente da nação, entre 2003 e 2011.

 De outro lado, os adeptos do mais improvável Presidente da República até então, Jair Messias Bolsonaro, militar da reserva e político do Partido Social Liberal (PSL), por uma série de motivos. Praticamente, uma figura desconhecida de parcela significativa da população, apesar de sete mandatos entre 1991 e 2018, como deputado federal, “passeando” por mais oito diferentes partidos, o que atesta a fragilidade de suas convicções ideológicas. Aliada à sua atuação ínfima, atribui-se a ele uma série de tiradas ao longo de sua vida pública contra homossexuais, negros e mulheres, reiteradas, dizem, por três filhos e por um irmão, todos eles políticos e reeleitos, em 2018, para seus respectivos cargos.   

No meio do caminho, entre as frações mais numerosas, eis os indecisos e/ou indiferentes ao destino de sua nação, sob o argumento de que, num país cabisbaixo e sem rumo, tudo ou todos são “farinha do mesmo saco.” Raciocinam como se a situação calamitosa dos setores primordiais, como saúde, saneamento, educação e, sobretudo, corrupção e segurança pública, não atinja a todos. E é assim que os dias passam. Na disputa, muitas acusações, agressões, mentiras (glamourosamente, fake news), ataques pessoais e posturas aéticas, que constroem um profundo fosso entre coletividades, grupos de amigos, companheiros de trabalho, vizinhos, condôminos e até no seio das famílias.

Afinal, eis o dia 1 de janeiro de 2019, que marca a posse do “miliciano” ou “coiso”, algumas das denominações reles adotadas pelos adversários inconformados com a derrota. Chama atenção os preparativos prévios voltados à segurança, tanto pelo aparato de 12 mil policiais, agentes infiltrados no público e mísseis antiaéreos quanto por estratégias diversificadas e tecnologicamente avançadas, como o uso de drones, face ao ataque a faca sofrido por ele, em campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais, 6 de setembro de 2018. Há muita expectativa. Algumas pertinentes: sobre formação dos ministérios e escolha dos ministros; rumos da economia... Algumas bem fúteis: vestuário do casal presidencial; onde vão morar – como se o risco de “sem teto” os rondasse! 

No grande dia, como num conto de fada, Michelle surge em carro aberto ao lado do Presidente eleito. Porte elegante. Beleza não fabricada. Ternura infinda no olhar com que se dirige ao marido e aos “súditos”. Literalmente rouba a cena. Não o faz por sua postura impecável ou seu vestido convencional e adequado de uma estilista pouco conhecida. Rouba a cena, quando deixa evidente para todos, homens e mulheres, que não será nem uma boneca de porcelana nem tampouco uma peça decorativa para postagens eletrônicas, fotos e viagens. Se a liturgia do cargo exigir, assim o fará, mas, exercerá, sobretudo, sua função de companheira e cúmplice do primeiro mandatário do país, com vistas a lutar em prol das coletividades, com ênfase para o segmento tão esquecido de deficientes auditivos, o que justifica seu breve e significativo discurso em Língua Brasileira de Sinais [Libras], uma antiga e confessa paixão.

A Libras tem conquistado visibilidade mediante sua introdução em cursos de graduação e pós-graduação, presenciais e/ou a distância, sobretudo, com a promulgação da Lei n. 10.436, ano 2002, que a reconhece como a língua oficial dos surdos e a Lei n. 12.319, ano 2010, que regulamenta a profissão de intérprete de Libras. Afinal, dentre os deficientes auditivos, estão petistas e bolsonaristas; ricos e pobres; sulistas e nortistas; pessoas que se definem muito além dos gêneros masculino e feminino; negros, pardos e eventuais brancos (num país multirracial como o Brasil), o que demanda treinamento em Libras por parte da própria família.

Decerto, no decorrer da cerimônia e de todo o aparato que o Protocolo requer, a primeira-dama Michelle deve ter se atrapalhado, como qualquer mulher comum o faria. De origem humilde, sem formação superior, deixa claro para feministas e algozes, que a grandeza de alma e a vontade de acertar podem ser tão ou mais decisivos do que diplomas universitários obtidos ou adquiridos de forma arbitrária para mudar a triste realidade de tantas comunidades de forma genuína e não ideológica ou impregnada por credos, incluindo a Igreja Evangélica.

Eis nossa expectativa. O futuro e somente ele dirá se a doce e firme Michelle é o que pareceu ser aos meus olhos crédulos, além de ter entrado para a história como a primeira dama que usou a fala numa posse presidencial! E de que forma grandiosa o fez! Falou ao povo com a alma e tocou o coração de muitos, como eu, com carinho, desvelo, serenidade e beleza.

Pensando não em Michelle, mas no dia a dia de nossa gente, atordoada com a insegurança pública que ronda as capitais e seus bairros, periféricos ou não, a exemplo da vizinha Fortaleza, é o momento de deixar lutas partidárias e integrar o batalhão dos que lutam, de fato, por direitos humanos. Isto sim, é democracia: respeitar resultados. Reitero o dito anteriormente: resistir, sim, contra nossos problemas de saúde, saneamento, educação, corrupção e segurança pública.

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