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Nevou no Rio de Janeiro, pela primeira vez na história!

Maria das Graças Targino - jornalista e pós-doutora em jornalismo pela Universidad de Salamanca / Instituto de Iberoamérica

12/12/2018 08:44

Eis um título plagiado na íntegra! Mas nada mais significativo, neste momento, para refletir sobre os exageros quase patológicos que tomam conta de nossa sociedade. Em nome da igualdade de gêneros, etnias, credos, faixas etárias, posturas, vestimentas ou nudes, estamos segmentando coletividades, grupos de trabalho, equipes de estudo, clubes sociais e por aí. É preciso rotular os companheiros para ver onde se encaixam. É fundamental posicioná-los em alguma tribo para que não se sintam excluídos. A partir daí, é só um pulo para apregoarmos o politicamente correto e tudo se transforma em politicamente incorreto. 

Há casos que beiram ao hilário. Muitas e muitas cidades nos diferentes continentes mantêm em algum lugar público uma frase-padrão, que diz, por exemplo, “eu amo Teresina.” Pois bem, recentemente, começam a clamar que estas exaltações exageradas diminuem a relevância ou a beleza de outras cidades. Um galanteio do “rei” Roberto Carlos dirigido a uma jovem atriz da Rede Globo de Televisão, agora, quando do espetáculo anual por ele elaborado para as festividades de final de ano nessa tevê, gera polêmicas tolas e um montão de cliques em sites de fofocas, insinuando a possibilidade de assédio sexual. 

Assim, xenofobia, preconceito, intolerância, ódio irracional, aversão às diferenças abrigam novos termos, a exemplo da gordofobia. Tipos de beleza produzidos na mídia conduzem jovens (ou não) a enfermidades, como bulimia ou anorexia. Ser feliz ou parecer feliz passa a ser um imperativo, com o risco de você ser enquadrado no amostra de pessoas “pesadas” e chatas. Ter alguém para chamar de seu é obrigatório, seja de que tipo for... 

Ao tempo em que palavras da moda – empoderamento, inclusão e /ou exclusão – são adotadas sem consciência do que significam e nos podam diante das relações especiais que podemos manter com o universo e com o outro, o texto de Fernando Lucas (https://www.linke din.com/pulse/nevou-rio-de-janeiro-pela-primeira-vez-na-hist%C3%B3ria-fernando-lucas) descreve a escravidão que ora vivenciamos como robôs. Ele resume, integralmente, sentimentos que também são meus: 

Nevou a noite toda. 

8:00h Eu fiz um boneco de neve.

8:10h Uma feminista passou e me perguntou porque eu não fiz uma mulher de neve.

8:15h Eu fiz uma mulher de neve.

8:17h Minha vizinha feminista reclamou do perfil voluptuoso da mulher de neve dizendo que ela ofende as mulheres de neve em todos os lugares.

8:20 O casal gay que mora nas proximidades teve um ataque de raiva e protestou, porque eles poderiam ter sido dois homens de neve.

8:22h O transgênero me perguntou porque não fazia um boneco com partes removíveis.

8:25h Os veganos no final da rua se queixaram do nariz de cenoura, já que os vegetais são comida e não decoração para bonecos da neve.

8:31h O muçulmano do outro lado da rua exige que a mulher de neve use uma burca.

8:40h A polícia chega dizendo que há uma denúncia anônima contra mim, de alguém que foi ofendido pelo meu racismo e discriminação, porque os bonecos são brancos.

8:42h A feminista vizinha reclamou novamente que a vassoura da mulher de neve deveria ser removida porque representa a mulher num papel doméstico.

8:45h A equipe de notícias da TV apareceu. Eles me perguntam se eu sei a diferença entre bonecos de neve e mulheres de neve. Eu respondo: as "bolas de neve" e agora elas me chamam de sexista.

9:02h Estou no noticiário como um terrorista suspeito, racista, delinquente com tendências homofóbicas, determinado a causar problemas durante o mau tempo. Quem me mandou fazer a p** dos bonecos de neve!!!”

9:10h Estão me perguntando se tenho cúmplice ou alguma organização me incentivou a fazer os bonecos nas redes sociais.

9:25h As feministas me xingam e pintam minha casa com a palavra “machista.”

9:45h Os católicos me acusam de querer imitar Deus, tendo criado um homem e uma mulher de neve, e querem que a Inquisição me queime por heresia. Eles dizem que eu realizei um ritual pagão.

9:55h Organizações ambientais me acusam de poluir a neve.”

A quem interessar possa: em locais distintos do Rio de Janeiro, constam nevascas nos anos de 1867, 1928, 1970, 1973, 1975, 1985, 1988, 1991, 1994, 1999, 2000,2001, 2004, 2006 e 2012, sem que os bonecos de neve de então mantivessem sabor amargo ou cor de sabão!

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