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Fokker 100 - O excelente holandês

Jato Holandês operou por 25 anos no Brasil

27/01/2016 14:30

Vamos falar de avião! De um excelente avião, com sorte pude não só apreciar-lo na minha infância, mas de trabalhar com ele por 2 temporadas e meia (2006/2007/2008), estou a falar do Fokker 100. O Brasil sempre foi uma Boeing Country, desde 1969 jatos domésticos eram em sua grande maioria Boeing 737 ou Boeing 727. Assim que jatos começaram a ser usados em rotas nacionais, tivemos exemplares como o francês Sud-Aviation Caravelle, BAC 1-11 (One Eleven) e principalmente Boeing 737 e 727, ir ao Aeroporto em Teresina em 1982 por exemplo era garantia de ver apenas Boeing 737-200 da VASP e Boeing 727 da Transbrasil (-100) e VASP (Super 200). A década de 80 tirando um par de British Aerospace BAE146 da TABA que operaram quase 2 anos, foi inteiramente BOEING. Airbus era uma palavra resumida a 7 aviões A300 operados por VASP, VARIG e CRUZEIRO.

No final dos anos 80 a TAM, então uma empresa regional, de pequeno porte, apoiada em uma frota de Fokker 27 e Embraer 110 Bandeirante, arregaçou as mangas e foi atrás do Fokker 100, um jato fabricado na Holanda, com silenciosos motores Rolls-Royce, 108 lugares, consumo de combustível ao redor de 2.000 kg por hora, relação custos vs lucros excelentes, o esperto Comandante Rolim negociou com os holandeses um par destes aviões.

Em Setembro de 1990 os aviões matriculados PT-MRA e PT-MRB chegaram a frota da empresa originária da cidade de Marília, SP. Foram alocados em rotas como São Paulo - Belo Horizonte (Pampulha), São Paulo - Brasília, São Paulo - Araçatuba - Cuiabá e São Paulo - Presidente Prudente - Campo Grande, em sincronia com os aviões menores da frota permitindo conectividade em Araçatuba, Presidente Prudente e Cuiabá. Obviamente a VARIG que mandava e desmandava com forte influência política reagiu a investida e a TAM teve diversos contratempos para por o F100 em voo (recomendo a leitura do livro Sonho Brasileiro, biografia do Comandante Rolim)

Rapidamente a frota cresceu e 5 anos depois a TAM já se aproximava de quase meia centena de jatos Fokker 100 atuando em suas rotas, o avião era utilizado o máximo possível, com rotas que já chegavam até Recife e Salvador, além de Belém. No entanto em 31 de Outubro de 1996, ao decolar pela pista 17R de Congonhas como TAM 402, o Fokker 100 prefixo PT-MRK sofreu uma pane grave durante a corrida de decolagem e posterior decolagem, caiu sobre o bairro de Jabaquara, matando 99 pessoas, com direito a cobertura extensiva da TV praticamente ao vivo. Era o prato cheio para a imprensa: empresa em ascenção, avião "desconhecido", mortes. Criou-se a imagem de vilão do jato holandês. Para piorar em 1997 outro exemplar sofreu uma explosão por uma bomba caseira de um passageiro, abrindo um rombo em sua fuselagem e vitimando um passageiro. Com 50 aviões na frota, obviamente a exposição dos jatos era intensa e em 2002 o ápice: 2 acidentes no mesmo dia, com 40 minutos de intervalo, estava "morto e enterrado" o Fokker 100 perante a opinião pública.

Vale lembrar que o avião no período 1993-1995 foi operado também pela paraense TABA, inclusive servia 3x por semana na rota Fortaleza - Parnaíba - Belém. No entanto a empresa não teve sucesso financeiro e os aviões foram adquiridos pela TAM (um deles foi o envolvido na bomba em voo).

A TAM então passou a partir de 2002 reduzir a frota de Fokker 100, vendendo diversos exemplares, isolando o avião em rotas do Norte/Nordeste, tirando dos grandes centros, priorizando a veloz incorporação dos franceses Airbus A319/A320. Até que em 2008 o avião saiu de cena pela empresa paulista, no entanto sua importância foi tal que um dos seus 50 Fokker 100 foi preservado em seu Museu.

MK28 - Não é Fokker 100, mas é muito parecido.

Em 2005 a OceanAir, iniciou o projeto Super 100, com a oportunidade de adquirir 29 aviões ex-American Airlines a excelente preço, mas no decorrer do projeto alguém teve a ideia de gênio: Vamos rebatizar o avião, aviões costumam ter um nome de homologação, por exemplo EMBRAER 120, conhecido como Brasília, ATR72-212A, conhecido como ATR600, o Fokker 100 na verdade é Fokker 28 Mk 0100 (MK seria versão), logo a OceanAir resolveu chamar de MK28 o seus Fokker 100, provocando inclusive reações de pessoas ao afirmarem que o tal do MK28 apesar de não ser um Fokker 100, era muito parecido.

Os MK28 começaram a voar em Dezembro de 2005, e logo se tornaram 14 unidades na empresa, que aproveitou a chegada do equipamento para lançar sua nova pintura. A OceanAir chegou a voar em Teresina com este avião em uma rota que era BSB-SLZ-THE-BSB. Efetuavam a maioria dos voos de sua malha, e foram reduzidos a 12 unidades quando a companhia se reestruturou em 2008 (Eu citei anteriormente 29 aviões, vale lembrar que a OceanAir era então a líder do grupo que incluía a colombiana Avianca e a peruana Wayra, com quem dividiu esses 29 aviões). Com o MK28 a OceanAir se reestruturou, marcou um excelente produto e partiu para o Airbus A319, mudando de nome para Avianca Brasil. Em 2015 o avião foi retirado de operação pela empresa, quase 10 anos depois de ter iniciado sua caminhada, assim como os da TAM tomaram nova vida em outros países, se os da TAM se espalharam por México, Irã, Europa, os da OceanAir foram para a Austrália - existem alguns enquanto eu escrevo este artigo estocados no Brasil aguardando venda.

Lembram dos dois acidentes no mesmo dia com a TAM? Um dos aviões foi recuperado e preservado no excelente Museu da TAM em São Carlos, SP, já o outro se tornou ferramenta de treinamento de comissários na própria Academia da TAM em São Paulo, SP. A TAM operou 50 aviões distintos entre 1990-2008, dos quais 3 tiveram perda total. A OceanAir operou 14 aviões distintos entre 2005-2015, perdeu apenas 1 por opção de não investir em um avião que seria desativado, foi o que pousou de "nariz" em Brasília, outras células foram desmontadas por opção da companhia. A TABA operou 2 Fokker 100 entre 1993-1995, sem nenhum acidente, a MAIS "operou" 2 Fokker em curto período 2010-2011 sem acidentes.

Eu gostava e ainda gosto muito do Fokker 100, silencioso, gostoso de voar e gostoso de trabalhar, avançado ao seu tempo, um projeto cujo primeiro voo foi em 1986, fazia coisas que os Embraer 190/195 saídos de fábrica hoje fazem, só que o Embraer 190 é um projeto "Ano 2000". Para o empresário, um excelente avião, com baixo custo, alta rentabilidade. É só olhar, a TAM em 1990 só tinha turboélice e apostou no Fokker 100, olha quem é a TAM hoje, introduzindo Airbus A350 na frota, a OceanAir só tinha turboélices em 2005 e apostou no Fokker 100, hoje tem praticamente 40 Airbuses no Brasil.

É impossível escrever a história da aviação comercial brasileira sem dedicar páginas a este excelente e belo avião, que veio lá da Holanda para marcar seu nome no Brasil, injustiçado e "queimado" pela imprensa por causa de 1 acidente, o Fokker 100 não faz jus a má fama que possui por aqui.

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