Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

O calor e a rede de balançar

Agradeci inclusive ao eclipse da super lua que acontecia no exato momento de intenso calor

28/09/2015 08:18

Imagem: Google  

O calor de Teresina me faz balançar na rede. E a rede me força a ser um pêndulo. É que bato com o pé na parede e fico pra cá e pra lá. Não consigo dormir, transforme-me em sentinela de mim mesmo. Balbucio uma Ave-Maria para cessar o suor do corpo. Os punhos da rede rangem, e as horas quentes da noite avançam para um amanhecer mais quente ainda. A metamorfose de uma noite abrasadora para uma noite amena é uma quimera. Impossível essa transformação por essas bandas.  

Continuo a balançar de um lado para outro, e no vai e vem, o vento é fornalha. E as costelas desnudas sofrem com a temperatura extrema. O corpo padece, inquieta-se, vira-se, mas continua a suar em bicas. O corpo da gente tem disso, rejeita tudo aquilo que lhe é estranho. Pois sim, e o calor, esse demônio sobrenatural, nem ai está, indiferente, nem se comove com o sofrimento alheio, pelo contrário, continua a castigar com lufadas ardentes minha pobre alma, quer dizer, minha pobre carne calorenta. Carne esta que não quer imortalidade, apenas um alivio imediato dessa quentura desumana.

Sim, a alta temperatura é irracional, é insalubre, um murro no olho. E o pior: a cidade inteira está entregue a essa onda dos infernos. Dizem que é o efeito do El Ninho, que se exploda o El Ninho! E afaste de mim e de todo mundo, esse tempo abrasador, essa sensação térmica agonizante. Minha paciência está em brasas, pois quem acompanha as alterações na economia sabe que semelhante acontecimento não acontece com a nossa temperatura, que é irredutível e elevada a mil graus.  

Com a rede em movimento, fico pensando coisas para minorar o calor. Do tipo, me aliar aos índios ou aos sertanejos e juntos promover a dança da chuva. Se for o caso, e já o caso, trocar umas ideias com São Pedro, pedir a ele que não tarde abrir as torneiras sobre o nosso solo em chamas, caso contrário morreremos a todos afogados no suor de nossas próprias axilas. Mas o meu medíocre ser é incapaz de invocar alguma coisa, inclusive chuva. Por isso delibero a vocês, homens e mulheres de mais fé, a invocarem qualquer entidade e conclamar que alivie um pouco mais o sol que queima os miolos, o sol que nos faz derramar litros e litros de suor. Que afaste um pouco mais de nós essa bola alaranjada que nos castiga dia a dia. Esse astro assim tão próximo é atentatório a saúde pública.

Não sei o que houve, mas acho que fui atendido, pois ao colocar mais uma vez o pé contra a parede para realizar mais balanço de rede, assim do nada, ouvi um barulho de chuva, e um barulho de vento. Era um milagre, um milagre em noite dominical, chovia em Teresina. Não uma chuva forte, daquelas que molham profundamente o chão, mas uma chuva. E uma chuva em tempos de temperatura elevada, é um evento por demais milagroso. Agradeci aos santos, as entidades, aos homens e mulheres de mais fé que intercederam por mim e que fizeram milagrosos pingos de água cair sobre o meu teto, agradeci inclusive ao eclipse da super lua que acontecia no exato momento de intenso calor. 

Mais sobre: