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"Ele é um canibal", diz campeã olímpica em julgamento por assédio

Jordyn Wieber, ouro em Londres 2012, falou em Nova York no julgamento de Larry Nassar, e não tirou a culpa dos órgãos esportivos:"O comitê olímpico americano também é responsável".

19/01/2018 15:37

A ginasta aposentada, Jordyn Wieber, campeã olímpica em Londres 2012, foi uma das principais vozes nesta sexta-feira no julgamento do ex-médico Larry Nassar, acusado de assédio por mais de 400 mulheres. Além dela, outras atletas e ex-atletas falaram, incluindo Chelsea Zerfas, de apenas 15 anos, que depôs ao lado de sua mãe. O número de vítimas que optaram por dar seu depoimento cresceu desde o início do julgamento, na terça-feira. Até o momento, chega a 120 mulheres, mas ainda pode crescer, já que se estima que o ex-médico tenha abusado de quase 400 mulheres. Nassar tem de acompanhar todos os depoimentos na posição de testemunha.

- Pensava que a coisa mais difícil do mundo era treinar para conquistar uma vaga nas olimpíadas. Mas a coisa mais difícil e dura desse processo pra olimpíada foi ser uma vítima de Larry Nassar. No começo de nossa relação, ele era uma pessoa segura. Ele me aconselhava a curar estresse e preocupação, tensão. Ele foi abusando de mim exame por exame... e o pior: naquele momento eu não tinha ideia de que eu estava sendo abusada. Larry Nassar é um canibal! Sou uma de centenas de mulheres que sobreviveram a esses abusos. Larry Nassar é responsável e o comitê olímpico americano também é responsável! Mas agora é tempo de mudança, porque as futuras ginastas não merecem viver com esse medo - disse Jordyn Wieber.

Os crimes de Larry Nassar ganharam as manchetes principalmente por ele ter molestado as ginastas da seleção americana, inclusive as campeãs olímpicas Simone Biles, Gabby Douglas, Aly Raisman e McKayla Maroney. Ele também abusou de atletas da Universidade de Michigan, crimes pelos quais está sendo julgado nesta semana.

Aly Raisman, também medalhista olímpica, também falou no julgamento. Ela apareceu de surpresa, já que tinha falo que não estaria no local:

- Voce tira vantagem da gente. Você mentiu pra mim e me manipulou quando me tocou pra seu prazer pessoal. Agora a mesa virou. Nós estamos aqui. Eu tenho poder e tenho voz e nós não vamos sair daqui. Não sou mais uma vítima, sou uma sobrevivente. Como voce dorme de noite? Em todos esses anos, se ao menos alguém tivesse sido ouvido, essa tragédia não teria acontecido. Eu e outras sobreviventes jamais teriam te conhecido! (olhando pro Larry). Imagine voce se sentindo sem poder, sem voz. E você sabe. Nós estaremos aqui pra ter certeza de que terá o que merece: Passar o resto da vida na cadeia. Abusadores, o tempo de vocês acabou! Sobreviventes estao aqui, de pé - disse.

A Universidade de Michigan, a USA Gymnastics (Federação Americana de Ginástica) e o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) estão sendo processados por pais de ginastas e ex-ginastas que acusam as entidades de acobertar as ações de Larry Nassar. A USA Gymnastics é acusada inclusive de pagar a campeã olímpica McKayla Maroney para firmar um acordo de confidencialidade para não tornar as denúncias públicas.

Aly Raisman também criticou o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC):

- Por que o Comitê Olímpico Americano não está aqui agora? Eu representei o país por duas olimpíadas, e tanto o comite olimpico quanto a federacao de ginastica capitalizaram com o meu sucesso. Mas eles estiveram ao meu lado quando falei sobre os abusos que sofri? Não! Não é hora pra faltas investigações. Nós precisamos de uma investigação independente de tudo que aconteceu de errado - disse.

Samantha Ursch foi outra vítima que falou. Seu pai ficou o tempo inteiro encarando Larry Nassar. Ursch lembrou que chegou a defender Nassar para a sua mãe:

- Por toda a minha trajetória de atleta, sempre fui saudável. Ele teria que saber o que estava fazendo. Ele é um médico. Falei com minha mae sobre uma consulta em que ele apagou as luzes. Minha mae não gostou, mas eu em um primeiro momento o defendi.(dando improtancia para a primeira denuncia oficial contra Nassar. Sou muito orgulhosa de Rachel Denhollander e todas as outras mulheres que tiveram coragem de denunciar Larry Nassar.Muitos defenderam seus atos (de Larry Nassar). Eu nunca vou esquecer do rosto dele (Larry Nassar), mas esse nosso exército de mulheres me dá força, mas tenho uma culpa que nunca vai embora, por nunca ter dito nada - disse.

Chelsea Zerfas, de 15 anos, teve a companhia da mãe na hora de falar. A ginasta encarou o ex-médico:

- Sou uma sobrevivente. Voce me manipulou tanto. Larry Nassar é um monstro. Sou uma sobrevivente. Estou aqui hoje, olhando na cara do meu abusador e finalmente estou sendo ouvida. Nada disso é fácil. Ele não poderia ter ginastas com ele. (Olhando para Larry) Você é um homem doente. Você fez isso a mim. Você é o único causador de todo esse sofrimento - disse.

Kara Johnson relembrou de quando tinha 13 anos e, olhando pra Nassar, desabafou:

- O que você causou em mim é inimaginável. E o impacto disso não consigo saber bem.Eu tinha só 13 anos de idade e lembro de uma obsessão do Nassar com o desenvolvimento dos meus quadris e também com minha primeira menstruação - disse.

Sua irmã, Maddie, também falou:

- Na primeira vez que fui ao doutor Nassar, eu tinha 12 anos. e pra uma jovem ginasta, era muito animador ir para um médico de nome como Larry Nassar.

Fonte: Globo Esporte
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