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Emerson avalia Juve e Real e exalta Buffon: "Anos-luz à frente de Casillas"

Com passagem pelos dois clubes, ex-volante da Seleção compara gestões de rivais na Champions: "Marketing do Real é muito bem feito, Juve quer construir times"

11/05/2015 19:00


 

Hoje ele mora em Porto Alegre, mas já viveu em Turim e Madri. Assim como Fabio Cannavaro e Zinedine Zidane, jogadores que faturaram Bola de Ouro, o ex-volante Emerson se destacou pelo Juventus e, depois, foi para o Real Madrid, justamente no último período de ouro da Velha Senhora, antes do escândalo de manipulação de resultados conhecido como "Calciopoli". Aposentado dos gramados, o ex-capitão da seleção brasileira segue acompanhando os antigos clubes, com um olhar bem diferente dos boleiros tradicionais. Em longa entrevista ao GloboEsporte.com, ele falou de craques, políticas, polêmicas, semelhanças e diferenças dos rivais, que duelam nesta quarta-feira por uma vaga na grande final da Liga dos Campeões (confira o duelo de 2003 no vídeo acima).

- O Real Madrid adquiriu um status... O marketing do Real Madrid é muito bem feito. O Juventus prefere construir equipes. Os profissionais trabalham concentrados em construir uma equipe forte. Não vão pegar o Cristiano Ronaldo, o melhor do mundo. Precisariam gastar muito dinheiro para isso. Além da qualidade, o Real faz isso para ficar conhecido - disse o ex-volante, em entrevista por telefone, ao explicar as diferenças nas políticas de contratação dos dois clubes.

Emerson, campeão italiano com o Juventus (Foto: Getty Images)Emerson vê Juve como uma espécie de São Paulo da Europa, enquanto o Real seria o Corinthians (Foto: Getty Images)

Entre Juve e Real, Emerson jogou com alguns dos maiores nomes do futebol neste século. Buffon, Ibrahimovic, Del Piero, Nedved, Vieira, Thuram, Cannavaro pela Velha Senhora; Casillas, Sergio Ramos, Raúl, Ronaldo, Van Nistelrooy e Beckham do lado merengue. Curiosamente, os dois goleiros seguem nas metas de suas respectivas equipes até hoje, e o ex-volante, que fez a seleção de craques que jogaram ao seu lado nessas equipes (veja mais abaixo), não ficou em cima do muro.

- Vou ser sincero: não tem comparação. Buffon está anos-luz à frente do Casillas. Se tiver que escolher, vou no Buffon sempre - explicou Emerson.

INFO - Confrontos real Madrid e Juventus LIga dos campeões (Foto: Editoria de Arte)Duelos entre Real e Juve desde que o torneio foi rebatizado como Liga dos Campeões (Editoria de Arte)

Emerson foi levado ao Juventus em 2004, através de um pedido do treinador Fabio Capello, com que trabalhara no Roma. A chegada do volante brasileiro a Turim aconteceu pouco depois da última participação do clube em uma semifinal de Champions, em 2003, contra ninguém menos que o Real Madrid. Na ocasião, a Velha Senhora derrotou o time de galácticos, mas em seguida perdeu a final para o Milan. Dois anos depois, o confronto voltaria a acontecer, com Emerson vestindo a camisa alvinegra, e os italianos também levaram a melhor (veja mais no infográfico ao lado).

O encontro, aliás, foi recorrente nas últimas duas décadas, período em que a equipe italiana leva pequena vantagem. Algo que a Velha Senhora terá na próxima quarta-feira, graças ao triunfo por 2 a 1 no jogo de ida das semifinais, em Turim. O problema, mesmo com direito ao empate, será a volta, no Santiago Bernabéu, e o volante nem se arrisca a dar palpite.

- Eu achei que seria mais difícil para o Juventus, em função dos jogadores do Real. Fez um bom jogo, mas terá muitas dificuldades na volta, no Bernabéu. Eu já tive essa experiência. Já tiramos o Real, perdendo fora e ganhando em casa, foi muito difícil. Lá, a torcida vai lotar como sempre fez. É um estádio muito particular. Só que o Juventus é muito grande, a maioria não vai se assustar de estar no Bernabéu. É difícil dar um palpite, vai depender dos 20 primeiros minutos. Ver como Real e Juventus vão se comportar neste período.

O mesmo Capello que levou o volante para Turim o chamou para o Real Madrid, em 2006, após o escândalo de manipulação de resultados que rebaixou a Velha Senhora naquele ano. Era um momento em que a equipe merengue se desfazia da era galáctica de Florentino Peréz, com as saídas de Zidane e Ronaldo (esse na janela de inverno), para nova outra política com Ramón Calderón.

- No Real, depende muito de quem assume (a presidência). Na minha época, o presidente não era o Florentino. Quando ele saiu, assumiu o Calderón com outra política. Queria um treinador competitivo, o Capelo, que levou três ou quatro jogadores de sua confiança e montou o time. Depois saiu o Zidane... Tinha uma equipe forte. Essa foi a política do presidente que estava no momento. É um pensamento diferente do Florentino. Ele quer pegar os principais jogadores dos países para jogar - comentou Emerson, atualmente dono do Fragata FC, clube de formação de atletas em Pelotas.

O ex-volante, que jogou as Copas de 1998 e 2006 (e foi cortado de 2006 por lesão), ainda exaltou Buffon diante de Casillas, (seus ex-companheiros de Juve e Real, respectivamente), usou a diferença entre Tévez x Cristiano Ronaldo para comparar os dois times, disse que Ronaldo Fenômeno foi o maior que viu jogar e ainda formou uma seleção só de atletas que jogaram ao seu lado nas duas equipes. Veja abaixo outros momentos da entrevista:

Emerson, Nedved, Buffon e Ibrahimovic Juventus 2004 (Foto: Getty Images)Emerson com Nedved, Ibra e cia. no Juve de 2004: Buffon está anos à frente de Casillas, avalia ex-volante (Getty Images)


O clube Real Madrid x o clube Juventus

Para o cara se sentir jogador, tem que passar por lá (Real Madrid). É impressionante o status
Emerson

- Em termos de status, depois que eu parei de jogar, eu vejo a importância do Real Madrid. Para o cara se sentir jogador, tem que passar por lá. É impressionante o status. Só me senti jogador quando vesti a camisa do Real. Ali percebi que faço parte da história ao passar pela história. O que é jogar no Real Madrid. O mundo sabe da sua vida. Tudo é notícia. O Juventus é isso na Itália também, até pelos títulos e história. Tem esse status, mas é muito mais reservado. Dá mais proteção aos atletas e funcionários. No Real Madrid, o jogador está exposto a todo o momento. Os jogadores se cuidam, mas não há um cuidado. O clube não é de se meter muito e cada um tem sua maneira de ser. No Juventus, tem que cumprir uma certa linha. O jogador chega lá e tem que ter uma postura. São dois clubes com mentalidades distintas.

Modo Juventus de fazer negócio

- O Juventus vai comprar um Pogba e fazer com que ele seja vendido para o Real Madrid ou para o Barcelona. Não vai comprar deles, a menos que esteja em fim de contrato. A questão é da transferência. O clube não se envolve com o leilão no futebol e entende que, se faz uma oferta, os clubes vão se aproveitar disso. Só vai comprar um jogador por um preço dentro do mercado.

Ronaldo, Roberto Carlos e Emerson Real Madrid 2006 (Foto: Getty Images)Ronaldo com Roberto Carlos e Emerson no Real em 2006: Fenômeno foi o maior que o volante viu jogar (Getty Images)


O maior craque com quem jogou nas duas equipes

- Foi o Ronaldo. Não é à toa foi chamado de Fenômeno. Difícil explicar o que ele fazia. O cara nascer com esse dom e ainda juntou força física com capacidade de finalização. Tinha muita qualidade. É um a cada dez milhões. Joguei contra o Zidane. O Zidane é o Zidane, mas o Ronaldo está acima disso. O Ronaldo está dez degraus acima de qualquer um. É minha opinião. Como companheiro de seleção e clube, vi o Ronaldo fazer coisas de outro mundo. 


A seleção de companheiros nas duas equipes (sem Ronaldo)

Seleção de Juventus e Real Madrid Emerson (Foto: GloboEsporte.com)Seleção feita por Emerson formada apenas por jogadores com quem jogou em Juve e Real (Foto: GloboEsporte.com)


Juventus prefere pagar um salário alto do que comprar um jogador caro. É o oposto do Real, que tem um presidente multimilionário que não quer perder tempo. Ele pensa que o clube vai ganhar assim, é a política do Real
Emerson

 A política financeira do Juventus

- É uma questão política no Juventus, que tem um processo de captação muito bom. O time conta com profissionais que monitoram certos jogadores por muito tempo. Aí, eles esperam os contratos acabarem, principalmente quando se pensa em nomes importantes. Preferem pagar um alto salário do que comprar caro a ainda pagar um alto salário. Você vê a questão do Tévez, que saiu barato. O Juve faz isso há muito tempo: espera o tempo certo para fazer a proposta. É um clube muito organizado, não atrasa salário. 

A política financeira do Real Madrid

- O Real aposta muito na base, sempre tem um ou outro jogador saindo da base. Fazem bons negócios. O Juve é o contrário do Real, que tem um presidente multimilionário (Florentino Pérez) que não quer perder tempo. Pega jogadores que se destacam após competições importantes, como uma Copa do Mundo ou Champions. Ele pensa que o clube vai ganhar assim, é a política do Real, que muitas vezes exagera em valores. Principalmente porque tratam-se de seres humanos, que se machucam. Agora vive uma fase turbulenta. É uma equipe que está muito bem e ganha tudo ou tem dificuldades. É muito diferente lidar com jogadores com nome. O presidente não tem essa preocupação.

Ronaldinho e Emerson Copa de 2006 (Foto: Getty Images)Emerson jogou as Copas de 2006 e 1998 e só não esteve em 2006 por conta de lesão (Foto: Getty Images)


 Vou ser sincero: não tem comparação. O Buffon está anos-luz à frente do Casillas. Se tiver que escolher, vou no Buffon sempre. Ele não tem defeito
Emerson

 Tévez x CR7

- Se for comparar Tévez e Cristiano Ronaldo, quem é mais conhecido? O Tévez é conhecido, mas o Ronaldo abrange muito mais. Então quem ganha com isso? O Real vende mais camisas no mundo que o Juve e adquire esse status. O Juventus se preocupa mais com o que o jogador faz em campo. Quantas propagandas faz o Tévez e o Ronaldo? O Ronaldo tem mais de 50. Hoje não vê mais o Ronaldo com a camisa do Manchester, vê a camisa do Real. 

Buffon x Casillas

- Vou ser sincero: não tem comparação. Buffon está anos-luz à frente do Casillas. Se tiver que escolher, vou no Buffon sempre. Acho o Casillas bom debaixo das traves. Mesmo não sendo um goleiro grande, tem facilidade debaixo das traves, mas encontra dificuldades em bolas alçadas. O Buffon não tem defeito, é completo. Não sei hoje, até porque ele não vai melhorar por conta da idade, a questão de jogar com os pés. Mas ele está lá para defender. 

Emerson Juventus Champions 2006 (Foto: Getty Images)Emerson encarou e venceu o Real com a Velha Senhora na Champions de 2005 (Foto: Getty Images)


Os "equivalentes" no Brasil

- Comparações assim são difíceis. Corinthians e Flamengo são os mais badalados do Brasil, viram notícia diariamente e têm mais jogos transmitidos na TV. Isso muito por conta da torcida. O Corinthians mais, e o Flamengo menos, seria como o Real. O São Paulo me parece mais discreto. Não conheço a fundo, mas é o que me passa. É o clube que vai pegar um desconhecido no interior que vai virar importante e será vendido. Tem um pouco dessa cultura do Juventus. Claro que não dá para falar em valores. Os clubes daqui e de lá são muito distintos. 

Emerson e Henry - Juventus e Arsenal - Champions 2005 (Foto: Getty Images)Emerson diz que Real tentou contratá-lo com Totti antes de ir para Turim (Foto: Getty Images)

Do Roma à Velha Senhora

- Eu me lembro... O que aconteceu na época foi que o Roma tinha um acordo com o Real. Não queria me vender para o Juventus, até pela rivalidade da Itália. Só que o que acontecia. O Real ofereceu um valor muito alto para o Roma e queria me contratar junto com o Totti. Só que não modificava muito o meu contrato. Eles tinham um acordo com o Roma, no qual pagariam valores altíssimos pelos dois. Eu não concordei e decidi permanecer no Roma, com quem eu tinha contrato. Depois, apareceu a proposta do Juventus e acabei indo. A proposta foi boa para mim e para o clube.

Da Velha Senhora ao Real

- Para o Real, tanto a minha contratação quanto a do Cannavaro foram pedidos do Capello. Ele ainda tentou outros jogadores, como o Ibrahimovic. Quando não conseguiu o Ibra, buscou o Van Nistelrooy. Aquele time já tinha uma base. O Raul, por exemplo, acabou ficando e foi administrado de uma maneira diferente em relação ao período dos galácticos. Acabou ganhando o titulo espanhol. Pela mentalidade do Real, as pessoas não gostavam do time. Os torcedores não ficavam contentes de vencer de um ou dois. Queriam espetáculo. É uma questão cultural que tem o Real, e o Florentino representa bem isso.

Tanto a minha contratação quanto a do Cannavaro no Real foram pedidos do Capello. Ele ainda tentou outros jogadores, como o Ibra. Quando não conseguiu o Ibra, buscou o Van Nistelrooy.
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 Passagem pelo Real

- Os primeiros seis meses não foram bons. Saí de um futebol, de uma cultura, e, quando eu me deparei com o futebol espanhol, vi que tinha um pouco de dificuldade. Eu me adaptei ao estilo espanhol e fiz um bom segundo semestre. Estávamos 10 pontos atrás do Barcelona e conseguimos uma reação inédita. Foram jogos que entraram para a história. Houve ainda a saída do Capello, mesmo ganhando a competição. Então fui chamado pelo Ancelotti para jogar no Milan, acabamos conversando no hotel. O Milan tinha vários brasileiros... Era difícil dizer não. Eu não conhecia o Bernd Schuster (treinador contratado pelo Real Madrid na ocasião). Receber um convite de uma equipe como o Milan é irrecusável. Foi gratificante vestir essa camisa.

Escândalo na Itália

- Vou ser bem sincero. Até hoje não sei a real situação das coisas que aconteceram. O diretor principal do Juventus (Luciano Moggi) foi suspenso do futebol, acho que até hoje. A federação italiana tirou os títulos, mas eu me sinto campeão. Nós tínhamos um trabalho, treinávamos todos os dias para jogar no domingo. Se houve algo de arbitragem, nunca ficamos sabendo disso. O projeto da Juventus era o seguinte, a longo prazo: se consolidar no Campeonato italiano e depois fosse buscar a Champions. Mas não conseguimos dar sequência. O clube teve que se desfazer de alguns jogadores, que tinham mercado e não iriam jogar a segunda divisão. Para mim, até hoje isso não está claro.

Metzelder, Pepe e Emerson no Real Madrid em 2007  (Foto: Getty Images)Emerson defendeu o Real durante entre 2006 e 2007 ao lado de um jovem Pepe (à esquerda) (Getty Images)
Fonte: Globo Esporte
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