Juninho Pernambucano conviveu diretamente com Karim Benzema por seis anos quando ambos jogavam no Lyon, entre 2004 e 2009. O comentarista enche o centroavante de elogios em relação a sua capacidade dentro de campo e também revela que a personalidade forte do francês era visível desde que ele subiu das categorias de base do Lyon quando chegou dizendo que vinha para jogar. Juninho também faz ressalvas sobre o excesso de brincadeiras no vestiário e afirma que foi correta a punição dada pela Federação Francesa por conta do envolvimento de Benzema no caso da suposta chantagem com Mathieu Valbuena. (clique no vídeo e veja a entrevista)

Segundo Juninho, Benzema tem o pacote completo para um atacante, e sua versatilidade tem uma certa semelhança com as características do futebol brasileiro.

- O Benzema é apaixonado pelo futebol brasileiro, sempre vinha passar férias no Brasil e acho que tem o Ronaldo Fenômeno como ídolo. Ele sempre foi um jogador brasileiro com a bola no pé, com arrancadas, com gols, dribles. É capaz de chutar com a perna esquerda, com a direita, ele tem uma velocidade muito boa pra centroavante, de cabeça ele não é mal, ele é muito completo.

Juninho Pernambucano (Foto: Reprodução TV Globo)

O Reizinho lembra quando o jovem Benzema subiu das categorias de base do Lyon já botando banca entre os veteranos, mesmo sendo um menino.

- Vi o Benzema subindo à equipe profissional com 17 anos e muita personalidade. Já tínhamos sido campeões algumas vezes e ele já chegou brilhando. Tem uma história engraçada dessa época. Naquele tempo no Lyon, existia uma tradição que os juniores, antes de fazer seu primeiro jogo no profissional, precisavam fazer um discurso na hora do jantar na concentração. Na hora do discurso do Benzema ele não teve dúvidas e chegou falando que estava muito feliz por estar lá mas que vinha para jogar e que ia tentar tomar a posição de alguém. Então ele já tinha muita  confiança no talento dele.

O mais impressionante entretanto foi que Benzema chegou realmente jogando muito bem. Virou titular da equipe e o tal discurso pretensioso se tornara realidade. Juninho conta que no começo ele atuava pelas bordas do campo, mas logo se firmou no comando do ataque.

- Ele cresceu muito rápido e jogava como o Neymar no Barcelona, pelo lado do campo dentro do 4-3-3 que o Lyon adotava. Ele arrancava e driblava muito, mas o que ele gosta é de ser centroavante e de fazer gols. Depois que ele começou muito bem, ele praticamente exigiu jogar como centroavante e  acabou formando uma dupla com o Fred jogando um pouco mais atrás, ou vice-versa. Deu muito certo e nós ganhamos o Campeonato Francês e a Copa da França. Ele cresceu tanto que me superou na idolatria em relação à torcida, ao reconhecimento da imprensa. E ele me passou por mérito porque jogou muito. 

Fred e Benzema quando dormaram dupla no Lyon em 2008 (Foto: AFP)

Juninho se recorda que, dentro do vestiário, Benzema era um dos jogadores que mais brincavam e encarnavam nos mais jovens mas que respeitava os veteranos.

- No vestiário ele respeitava muito os mais velhos e eu nunca tive nenhum problema com ele. O pessoal achava que ele teria problemas com as estrelas ou com os mais renomados mas ele nunca faltou com respeito com os mais velhos. Só que ele sempre foi muito brincalhão e os mais jovens  sofriam na mão dele. Ele era brincalhão o tempo inteiro, sempre brincando com aqueles que eram novos como ele ou que não tinham tanta moral no grupo. Acho que esse excesso de brincadeiras fez com que ele demorasse muito pra amadurecer. Brincadeira tem um pouco de limite.

Sobre o Caso Benzema-Valbuena, o comentarista acredita que o afastamento de Benzema da seleção foi uma medida correta, já que demonstra que os craques não possuem passe livre para fazer qualquer coisa.

- Acho que a medida foi corretíssima. O caso é o seguinte: só porque eu sou um grande jogador, faço gols, levo um time a ganhar, eu tenho direito de fazer tudo o que quero fora do campo? Essa é reflexão que tem que ser feita. É esse exemplo que tem que passar? Eu não estou dizendo que o Benzema é errado, o julgamento ainda não foi feito, mas quando se tem um problema grave do jeito que foi e ele acusado de ser o intermediário de um problema com seu companheiro de equipe, a Federação fez o certo, coisa que a CBF deveria aprender. Não texiste jogador mais importante que a camisa que ele veste, independente de quem seja. Se fosse durante a competição, talvez se pudesse levar em conta que ele puniria todo o grupo naquele momento, e se ele tivesse em condições de jogar ele deveria continuar. Mas sendo um tempo tão longo antes. O companheiro dele é uma vítima, mesmo não sendo tão importante quanto ele, então eu acho que tem limite pra tudo.Se for comprovado que ele não tem nenhuma relação grave com o caso do Valbuena,  acho que as portas da seleção estarão abertas pra ele. 

Benzema com Valbuena França (Foto: AFP)

Mesmo optando por aguardar o resultado do julgamento de Benzema antes de nomeá-lo culpado, Juninho explica que o atacante já tinha problemas de relacionamento com a torcida e a imprensa francesa e que depois desse episódio sua imagem fica arranhada.

- Vou esperar o resultado da Justiça francesa para formar minha opinião mas é lógico que a imagem dele foi arranhada. Ele já não tinha uma relação tão boa com a torcida francesa. É importante lembrar que ele vem de uma família muçulmana e ele sempre defendeu muito suas origens. Ele é de origem argelina e sempre houve essa rivalidade de jogadores que não eram de origem francesa total, com os que eram de origens argelina, tunisiana, marroquina, que eram colônias francesas. Então essa relação nunca foi muito boa. O Benzema nunca escondeu isso e mesmo trazendo sua educação de casa ele sempre foi muito claro que ele desejava defender a seleção francesa,. O povo francês sempre respeita muito a opinião do outro, mas alguns não entendem,some a isso uma pressão da imprensa já que ele às vezes não dava entrevista, então tudo isso somado cria uma relação difícil, aí em cima disso estourou o caso Valbuena. Não dá para dizer que a imagem dele não ficou arranhada.