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Poesia, teatro e artesanato são ferramentas para ressocializar presos no Piauí

Detentos da Penitenciária Regional Irmão Guido têm processo de ressocialização apoiado em atividades artísticas e culturais.

08/09/2018 09:55

Xicão circula destemido, em ritmo acelerado, segurando os manuscritos de um livro de sua própria autoria e ganha atenção dos colegas que estão sentados pelas redondezas. Ali, a maioria sabe que ele é escritor e até já leu parte de suas produções. A cena comum poderia fazer parte do cotidiano de um bairro qualquer, onde vizinhos se conhecem e se frequentam. Mas não é. O espaço que perpassa a vida dos personagens dessa cena é a Penitenciária Regional Irmão Guido, uma das 18 unidades penais do Piauí. Histórias diversas trouxeram cada um deles até ali, a de Xicão, já virou parte de um livro de sua própria autoria.

O detento Joilson Ribeiro dos Santos, o Xicão (Foto: Jailson Soares / O DIA)

Xicão é Joilson Ribeiro dos Santos, de 35 anos, o mais velho de uma família de seis irmãos, que fez do contato e da produção a partir dos livros, poesias, contos e roteiros, uma forma de se sentir livre, mesmo dentro da realidade da prisão. “No início, eu escrevia para mim, mas o livro eu escrevi para a sociedade, porque o preconceito é muito grande. O presídio tem o cunho de ressocializar o preso, reeducar e reinserir no convívio social, mas é muito difícil educar pessoas que não tiveram a oportunidade de ter educação lá fora”, lembra.

É por isso que dos poucos anos que estudou em escolas regulares, Xicão trouxe consigo a importância da educação, mesmo tendo feito “escolhas erradas”, como ele mesmo decreta. Até agora, são quase 11 anos privado de liberdade, em passagem por unidades penais em Brasília e no Piauí, para responder pelos crimes de roubo e sequestro.

Ele faz dessa realidade do cárcere e dos temas que acha importante, temática de poesias, uma delas, intitulada “Educar para não enclausurar”, o poeta desmascara a realidade dos presídios em poucos versos: Reduto da covardia, inimiga da solidão / ela nunca está sozinha, é a cela da prisão / que não recupera ninguém, deturpa o cidadão / mentes ociosas, vazias a pensar / muitas máquinas do mal, pouca delas a sonhar / aumentar penas, construir presídios, não é a solução/ temos que instigar a sonhar, investir em educação / pois o homem que não sonha é um ser sem compaixão [...].

Os versos são ditos de forma segura, estão vivos na memória e a capacidade de decorar com facilidade os textos, com o tempo, também apontaram para um outro caminho que ele se desafiou a percorrer, o de ser ator. Xicão é integrado ao projeto Espelho da Realidade, da Secretaria Estadual de Justiça (Sejus), que reúne cerca de 30 detentos e é usado como instrumento de sensibilização e forma de despertar o potencial artístico dos detentos.

Além do projeto de teatro, na Irmão Guido, os detentos também têm contato com outras atividades, como artesanato e agricultura.

Para Xicão, apesar de se encaixar e entender a importância desse tipo de oportunidade dentro do sistema, é preciso pontuar críticas relevantes e lembrar que a ressocialização só é completa se a sociedade começar a mudar a forma como enxerga os próprios presos.

Leia a íntegra desta reportagem na edição deste fim de semana no jornal O DIA.

Fonte: Jornal O DIA
Por: Glenda Uchôa
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