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Igreja evangélica desenvolve trabalho social em Itainópolis

Em meio à crise, jovens ganham ocupação rentável dentro do próprio município

17/05/2017 10:13

Uma ideia, exemplos bíblicos de superação e um gesto de altruísmo. Isso foi o que levou o pastor Marciel Carvalho a reunir fieis de sua igreja – sobretudo jovens – para despertar os talentos deles e ganhar dinheiro com isso.

De tanto ouvir jovens congregantes da Salvos em Cristo se lamentarem da falta de oportunidades em Itainópolis, o Pr. Marciel foi categórico ao lançar para eles um convite: “Vamos fazer uma reunião de empresários!”. Confusos, os jovens se perguntavam quem seriam esses empresários. E na ocasião, respondia Marciel: “Vocês”.

A reunião de empresários consiste em um encontro semanal no qual os integrantes são instigados a descobrir em si um talento, o qual são motivados a desenvolver, de forma a adquirir uma renda, mesmo que informalmente, dadas as condições do município. Nessa reunião, também se fazem orações; refletem-se passagens bíblicas, contextualizando-as com a vida das pessoas; dão-se testemunhos de vida e ungem-se os participantes. “Nós não temos como investir financeiramente, mas temos a fé para motivar a pessoa a despertar aquilo que está dento dela, aquele talento que ela tem”, assegura o pastor.

O da líder Salvos em Cristo de Itainópolis conta como tudo começou, isto é, como nasceu a ideia: “Alguns irmãos chegavam na igreja dizendo: ‘poxa vida, aqui nós não temos emprego; temos que ir pro Matão, pra São Paulo, pra Picos’. Aí dissemos: ‘Está errado isso! Não é o lugar que faz a gente. É a gente que faz o lugar’”.

O religioso começou motivando os jovens a acreditar que aqui, em Itainópolis, eles também são capazes de pôr em prática um dom que possuem. “Mesmo sendo aqui, tem como desenvolver alguma coisa, e não apenas esperar das pessoas. Nós temos a mania de só esperar de um prefeito, de um padrinho... Não! Nosso padrinho é Deus”, afirma Marciel, que ilustra seu argumento com um episódio do Antigo Testamento: “Davi tinha um talento. Esse talento era uma funda, que ele usou para se tornar rei. Às vezes a pessoa tem um talento, mas não tem quem a motive”.

O pastor revela, de maneira simplificada, um dos segredos para o empreendedor ser bem-sucedido em sua empreitada: “Um dos nossos lemas aqui é a fidelidade. Deus procura os fiéis da Terra. Não tem como você cobrar a bênção de Deus, se você é desonesto consigo mesmo”. E foi sob essa orientação que os resultados não demoraram a aparecer.

Esposa do Pr. Marciel, Bruna Lima foi uma das que viram seu trabalho ser ampliado. Sua venda de bolos era um serviço pequeno, pois os pedidos eram poucos. Foi então que ela teve a ideia de vender bolo no pote e trufas. Junto com as novas vendas, vieram muitas encomendas dos bolos. “O que eu ganhava num mês, agora eu ganho em uma semana”, declara Bruna.

Com isso, quem também adquiriu uma oportunidade de trabalho foi Júlia Romina, a qual se considera próspera depois de ter começado a auxiliar Bruna. “Minha vida financeira era de miséria, mas Deus abriu as portas. Ele tem me honrado tanto, que o pouco que tem me dado, tem sido suficiente para as minhas necessidades”, garante a jovem de 16 anos.

Quem também viu suas vendas explodirem foram os Meninos da Verdura, nome com que ficaram conhecidos os filhos do pastor Eli Oliveira e alguns amigos deles. No começo, eles revendiam cheiro-verde, lucrando R$ 0,50 em cada molho. Agora, os molhos revendidos são apenas um complemento, porque eles passaram a plantar esse e outros produtos. “Começamos a vender trinta molhos de cheiro-verde, mas aí percebemos que trinta era pouco. (...) Agora, por dia, vendemos de oitenta a noventa molhos. E ainda fica lugar sem vender, porque a gente não consegue dar conta”, conta Gabriel Oliveira, filho do Pr. Eli. A atividade da qual não se esperavam grandes resultados, hoje, envolve mais de vinte pessoas. Através dela, os irmãos Oliveira já conseguiram comprar até uma moto modelo Bros.

Vivendo apenas com salário de professora, Maria de Fátima Carvalho sentiu a necessidade de complementar sua renda familiar. Isso a fez trabalhar com vendas, negócio que ela viu ser ameaçado, não fosse a motivação que ela diz ter recebido na reunião. “Eu estava parada. Não tinha motivação para voltar a trabalhar”. Fatinha foi criativa e fez um grupo no WhatsApp para mostrar suas mercadorias. A docente conta que nem precisa sair de casa para vender suas confecções, perfumes e calçados. Apesar disso, os planos dela vão além: “Até o fim do ano, minha meta é abrir minha própria loja”.

Josimária Rodrigues passou a ampliar as aulas de reforço que ela já vinha ministrando. A ideia foi abrir uma escolinha, cujos alunos só vieram a surgir uma semana depois. De quatro alunos em casa, ela passou a ter treze na escolinha. Essas crianças têm duas horas diárias de reforço, de segunda a sexta-feira.

Já Mateus Henrique, esposo de Josimária, trabalhava apenas como funcionário de uma loja. Mas resolveu desenvolver um empreendimento que já tinha em mente há algum tempo: abrir um lava-jato. De empregado passou a patrão! Mateus conseguiu, inclusive, contratar um funcionário, o jovem Lucas Henrique, que lava em média 20 carros por semana. Este, conta hoje satisfeito o emprego que conseguiu.

Outra pessoa de quem a tecnologia se tornou grande aliada é Ausiene da Silva. Há anos vendendo confecções e cosméticos, hoje ela também tem seu trabalho divulgado em redes sociais. Ausiene conta que, agora, aprendeu uma maneira mais eficaz de trabalhar e também como tratar melhor suas clientes. Hoje, ela tem planos de deixar de vender em casa para abrir um ponto que ela já possui.

Virlândia Vieira, desde os vinte anos de idade, trabalha com arte em geral: pinturas do tipo óleo sobre tela, peças decorativas de gesso, peças com materiais recicláveis. O que antes era apenas um hobby, passou a ser seu ganha-pão. “Eu fiz disso a minha renda mensal. Eu estou sobrevivendo da arte”. As criações artísticas antes vendidas de porta em porta, agora são vendidas em casa mesmo, depois que foram parar na internet. Atualmente Virlândia recebe encomendas até de lugares distantes, como Teresina e São Paulo.

Alguns dos participantes do grupo trabalham com criatório de ovinos; outros, com salgados; outros ainda, com roupas. Entre essas pessoas, algumas já vinham desenvolvendo essas atividades, mas era coisa pequena, e, não demoravam muito, logo paravam. O Pr. Marciel explica por quê. “Não estava dentro deles. Às vezes faziam aquele trabalho forçado, com desânimo: ‘ah, não vai dar certo’. Depois da reunião, não. Na terça-feira já começam: ‘vai dar certo, vai funcionar; de um jeito ou de outro vai dar certo!’. E Deus tem feito grandes coisas, e acaba dando certo.”

O pastor ressalta que, mesmo trabalhando em áreas diferentes, os irmãos evangélicos se ajudam mutuamente, através de trocas de experiencias. “A experiência de uma pessoa serve para outra, como ser honesto, ser pontual, ter disciplina”. E o líder religioso arremata: “Tem como você expandir, tem como você crescer. (...) O segredo está na obediência”.

Fonte: Anderson Monteiro e Marciel Carvalho
Edição: Anderson Monteiro
Por: Anderson Monteiro
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