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Coordenador de movimento em prédio que caiu depõe à polícia e chora

Ricardo Lima, o Careca, é responsável por descobrir e invadir prédios desocupados. Polícia já ouviu 16 testemunhas na investigação sobre incêndio e desabamento.

04/05/2018 15:14

Um dos coordenadores do movimento da ocupação do prédio Wilton Paes de Almeida, que pegou fogo e desabou na terça-feira (1º), no Centro de São Paulo, Ricardo Luciano Lima, o "Careca", prestou depoimento à polícia na manhã desta sexta-feira (4).

Careca disse à polícia que os pagamentos feitos pela moradores da ocupação eram usados, por exemplo, na compra de bombas de água para abastecer o prédio. Ele disse que tinha saído do movimento e retornou no dia da tragédia. “Vi na televisão, na minha casa, e fui ajudar as pessoas”, disse, chorando.

Ele afirmou que não teve mais contato com Ananias dos Santos, líder da ocupação, e que não sabe se ele virá prestar depoimento.

Durante entrevista na delegacia, ele defendeu Ananias. Moradores da ocupação disseram que Ananias saiu do local da tragédia de carro e não foi mais visto. “Ele trabalha e a esposa dele também trabalha. Ao longo dos anos trabalhados, deu tempo dele ganhar dinheiro para ter patrimônio”, disse.

Polícia procura coordenadores do movimento que ocupava prédio que desabou no Centro de SP. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Careca integra a coordenação do Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM). Na quarta-feira, em entrevista ao Jornal Nacional, ele explicou como atua para descobrir prédios a serem ocupados.

“O que eu faço é abrir prédio”, disse Ricardo Luciano Lima. “Vou lá, estudo, olho, vejo que o prédio está vazio, se tem condições de eu abrir ele e pôr essas famílias para dentro.”

O delegado seccional do Centro de São Paulo, Marco Antônio de Paula Santos, disse que o 3º Distrito Policial instaurou inquérito para a Polícia Civil investigar as causas e eventuais responsabilidades pelo incêndio que resultou no desabamento do prédio.

A polícia já ouviu o depoimento de 16 pessoas no inquérito aberto pelos crimes de incêndio e desabamento e agora espera que outros representantes do movimento se apresentarem espontaneamente. Segundo a polícia, um curto-circuito no quinto andar provocou o incêndio.

O delegado disse que até o momento não recebeu nenhuma informação sobre a possibilidade de ligação dos chefes da ocupação com o crime organizado.

Por determinação do Secretário de Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves, o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil faz uma apuração paralela sobre pessoas que exploram os moradores das ocupações.

Cobrança

Um ex-integrante da ocupação diz que responsáveis pelo movimento ficavam com dinheiro cobrado das famílias que viviam no prédio que desabou na madrugada de terça-feira (1º), no Centro de São Paulo. O dinheiro era destinado, originalmente, a oferecer melhorias nas condições dos prédios ocupados, como era prometido aos moradores.

Um rapaz, que pediu para não ser identificado, diz que trabalhou três anos para o movimento. Ele era responsável por descobrir e arrombar prédios vazios e que, para isso, pagava propina para porteiros e seguranças de rua para eles dizerem onde tem prédio desocupado. “Quais prédios estão desocupados e para que eles não chamem a polícia na hora da ocupação. Que o principal é a polícia não chegar em 24 horas. Tinha segurança de rua que aceitava R$ 1 mil a R$ 2 mil para poder não chamar a polícia. A gente chegou a pagar R$ 5 mil para um porteiro.”

Ele acusa os líderes do movimento Ananias e Hamilton de ficarem com o dinheiro cobrado das famílias. “Porque é passado para quem é coordenador que esse dinheiro vai voltar para o prédio, mas eu mesmo presenciei que não volta. Vai para o bolso deles. Enquanto estava fazendo parte do movimento, esse prédio que acabou de cair ele estava no meio de um dos prédios do movimento e foi onde eu saí. Eu morei nesse prédio até cinco meses atrás. É um prédio que ele não tinha estrutura nem para aguentar moradia, quanto mais um incêndio.”

Fonte: G1
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