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Durante queimadas na Amazônia, Brasil foi visto como vulnerável, diz análise

Uma análise de notícias publicadas em dez grandes jornais do mundo confirma que a imagem do país foi desgastada durante a crise e apareceu como vulnerável, irresponsável e impulsivo.

07/11/2019 08:36

 Entre julho e setembro deste ano, as queimadas e o desmatamento em estados amazônicos chamaram a atenção do mundo para o Brasil. Agora, uma análise de notícias publicadas em dez grandes jornais do mundo confirma que a imagem do país foi desgastada durante a crise e apareceu como vulnerável, irresponsável e impulsivo (especialmente nas declarações).

O levantamento foi feito pela empresa brasileira Curado & Associados, especializada em assessoria e gestão de crise de empresários e políticos. Ela usou metodologia desenvolvida há 15 anos junto com estatísticos da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos).

As notícias e reportagens analisadas foram as publicadas entre 1º de julho a 30 de setembro de 2019 no jornais New York Times, Washington Post, Wall Street Journal (EUA), The Guardian, Financial Times, The Economist (Inglaterra), El Pais (Espanha), Le Monde (França), Bild (Alemanha) e Corriere della Sera (Itália).

Três índices foram utilizados para se chegar às conclusões quantitativas e qualitativas sobre a imagem do Brasil nas reportagens estudadas: valor, gestão e relacionamento. Esses índices variam entre +5 (quando a análise constata que o objeto de estudo é referência, um modelo a ser seguido) e -5 (quando a sobrevivência do objeto analisado está em risco devido à crise).

O índice de valor diz respeito à avaliação moral da sociedade analisada. Neste caso, o Brasil recebeu avaliação de -0,87, ou seja, vulnerável. O atributo mais percebido nesta categoria, após análise de trecho a trecho das notícias veiculadas no período nos jornais observados, foi irresponsável, em 20,6% do material analisado.


Durante queimadas na Amazônia, Brasil foi visto como vulnerável, diz análise. Reprodução

Já na gestão, que trata dos resultados mensuráveis e das ações práticas, o país recebeu avaliação de -1,27, o que o coloca em zona de risco, segundo a metodologia utilizada. O atributo mais percebido neste índice foi vulnerável (42,77%). Isso se deve, segundo os autores, à negligência do governo ao conduzir sua política ambiental e à demora para agir diante das queimadas e incêndios que atingiram os estados amazônicos em agosto deste ano.

Quanto ao índice é relacionamento -o quanto as declarações e ações do governo dividem ou unem o público-, o Brasil recebeu avaliação de -0,85, que também equivale a vulnerável. Dois atributos chamam a atenção nesse caso porque a percepção observada pela pesquisa aponta para um governo impulsivo, segundo 9,48% dos trechos analisados, e arrogante, em 9,02%. Outros atributos, como tolerante, cooperativo e confiável, mesmo somados não chegam aos 2%.

No geral, todos os dez jornais que tiveram suas notícias analisadas projetaram quadros negativos para o Brasil. Os ingleses The Guardian e The Economist, entretanto, foram os mais críticos. Levando em consideração apenas esses dois veículos, o país apresenta índice geral superior a -4, ou seja, está em crise com necessidade de resgate de terceiros.

Mesmo os jornais que tiveram índices menores, como o Wall Street Journal (-2,99) e o Financial Times (-2,11), o valor ainda é expressivo. Na prática, esses resultados mantêm o país na zona de crise.

Apesar disso, dos dez veículos analisados, os que mais publicaram notícias sobre a crise do desmatamento e das queimadas foram El Pais, com 22,16% do total, e Washington Post, com 18%; os índices iVGR desses jornais foram, respectivamente, -3,30 e -3,34, o que sugere ocorrência de uma crise que demanda ações emergenciais.

A avaliação foi feita manualmente por analistas que, ao término do processo, deveriam emitir um relatório no qual explicam os critérios utilizados. "Ao fim da identificação há uma nota do analista para cada trecho e para os títulos das matérias, com exceção daqueles que são genéricos. Temos algumas variáveis, como se há porta-voz do governo brasileiro na matéria ou dados oficiais", explica Emerson Couto, consultor de imagem e reputação da Curado & associados.

"Nós temos parâmetros rigorosos e, se um analista coloca uma nota incompatível com algum atributo, o sistema não aceita a nota. As análises são auditadas", diz Olga Curado, jornalista e sócia-fundadora da empresa.

Questionada sobre o porquê de promover o levantamento, Curado disse que viu reportagens e comentários sobre como a imagem do Brasil em matérias de jornais estrangeiros era negativa e decidiu confirmar a impressão.

No fim de setembro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, viajou para países da Europa para explicar as ações do governo diante do aumento do desmatamento e das queimadas e buscar apoio financeiro para a preservação da floresta nos estados amazônicos. O ministro viajou a Paris, a Alemanha e ao Reino Unido após participar da Assembleia Geral da ONU.

Antes, Salles já havia dito que sua pasta havia falhado na comunicação durante a crise. "Nós falhamos na comunicação. Esse é o ponto mais importante. A comunicação das ações, daquilo que estava sendo feito e tudo mais. A comunicação podia ser melhor e, agora, vai ter de ser melhor. Isso é algo que a gente precisa reconhecer, é um fato. E, daqui para a frente, se dedicar mais", disse à Folha em 11 de setembro.

Sobre a mais recente crise ambiental do governo brasileiro, Curado diz que pretende analisar a imagem do governo no exterior diante do surgimento das manchas de óleo no litoral do Nordeste.

"Já podemos ver o mesmo padrão de resposta brasileira às queimadas na resposta às manchas de óleo.Primeiro há a negação, depois a lentidão e então a dificuldade de relacionamento com órgãos públicos. Há um mesmo padrão [de atuação do governo]. Nós ainda não tivemos a mesma intensidade de matérias sobre o óleo nos veículos que analisamos, então estamos estudando como faremos essa pesquisa, mas queremos fazer", afirma.

Procurado pela reportagem, o governo federal disse que não se pronunciará sobre o assunto.

Fonte: Folhapress
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