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Fantasia de unicórnio é mania de blocos de carnaval

Animal mitológico faz sucesso em fantasias, festas de criança, cabelos, maquiagens e virou até forma de viver; conheça curiosidades e as origens do mito.

22/02/2017 14:17

O carnaval nem começou oficialmente, mas os blocos pré-feriado já mostraram qual é uma das fantasias mais populares entre os foliões neste ano: o unicórnio. Tiaras, chifres e produções mais elaboradas representando esse ser mitológico são um sucesso nos blocos infantis e de adultos.

E essa onda cor-de-rosa não para por aí. A imagem do unicórnio tem sido uma constante em estampas de roupas, objetos de decoração, temas de festas infantis, coloração de maquiagens e cabelos e até no estilo de vida de um grupo.

Fernanda Hartmann (de blusa verde) com grupo de amigos fantasiados com tiara de unicórnio em bloco de São Paulo no sábado (18) (Foto: Arquivo pessoal/Caroline Petrasso)

Uma análise das pesquisas no Google mostra um crescimento notório das buscas pela palavra “unicórnio” no Brasil nos últimos meses, especialmente a partir de dezembro de 2016. O pico de buscas em um período de três anos ocorreu em 19 de fevereiro deste ano.

 (Foto: Editoria de arte/G1)

Dona de uma marca de acessórios para a cabeça, Fernanda Hartmann começou a fazer tiaras de unicórnio há alguns meses, inspirada em uma amiga que gosta do tema e em referências que encontrou na internet. De repente, viu a procura explodir neste pré-carnaval. “Comecei a fazer até saias de tule com cores do arco-íris, para combinar”, conta ela, que saiu fantasiada com a tiara junto com um grupo de amigos em um bloco no último fim de semana.

Segundo a artesã Selma Reis, que também faz tiaras por encomenda, a de chifre de unicórnio é, de longe, a mais vendida neste ano. “Vendo para adulto, criança, mãe e filha. Acabei de mandar uma encomenda de 30 tiaras para Salvador e de fazer outras 45 para uma festa em São Paulo. Nunca vendi tanto como agora”, afirma.

Tiaras e enfeites de cabelo que imitam chifre de unicórnio lideram as encomendas de artesãs neste carnaval (Foto: Divulgação/Borbofante )

Desde que fez o primeiro bolo de unicórnio em outubro do ano passado, a confeiteira Mariana Pretti também notou um aumento recente nos pedidos com esse tema. “Nesses últimos dois meses, já fiz três festas com o tema e enviei mais quatro orçamentos. Há um ano ninguém procurava”, conta ela, que além do bolo com o chifre faz macarons (um tipo de biscoito francês) e cupcakes temáticos.

Outra confeiteira, Luciana Trafani, recebeu encomendas de bolos e doces de unicórnio inclusive para festas de adultos. “Tenho uma cliente agendada na faixa etária de 30 anos. Fiquei admirada, as pessoas amam esse tema. Aqui no Brasil a moda começou há uns três meses, mas fora do país acredito que tenha mais tempo.”

Bolos, macarons e cupcakes em festas de aniversário com tema de unicórnio (Foto: Divulgação/Luck Cupcake e Mari Pretti)

De onde vem a moda dos unicórnios?

Luciana tem razão. Um dos movimentos que influenciaram mundialmente o surgimento da moda do unicórnio foi o chamado seapunk, que é de 2011. “É um movimento da internet, do Tumblr, em que os adolescentes passaram a fazer montagens com referências como golfinhos, sereias e também o unicórnio”, explica Lydia Caldana, analista de tendências da Box 1824.

Entre 2011 e 2012, cantoras pop como Azealia Banks, Lady Gaga, Miley Cyrus e Kesha incorporaram o unicórnio e outros elementos do seapunk em seus clipes ou shows. Cores do arco-íris em tons clarinhos, glitter e holografia – a chamada “estética unicórnio” – começaram a aparecer mais. Com o tempo, o tema do unicórnio foi se tornando mais massificado fora do Brasil, e no ano passado chegou com tudo por aqui.

Caldana cita uma série de marcas estrangeiras e brasileiras que incorporaram o símbolo aos seus produtos. Há inclusive uma empresa de maquiagem só de produtos com a “estética unicórnio” e outra com “pincéis unicórnios” em tons do arco-íris e formato de chifre. Também surgiu um tipo de manicure que imita chifres de unicórnio nas unhas e a “trança unicórnio”, feita bem no topo da cabeça.

O cabeleireiro Alex Sudati, da Galeria Recorte, conta que também há pessoas colocando um molde de espuma ou de papel para fazer um chifre de cabelo. Segundo ele, cabelos coloridos em tons “lavados”, inpirados em unicórnios, estão “super em alta”. “A procura está aumentando bastante”, diz. Mas nem sempre é possível realizar o desejo do cliente. “Muitas vezes o cabelo da pessoa está danificado e não aguenta tanta descoloração”, alerta.

Nos salões de beleza, aumentou a procura por cabelos em tons que lembram o universo dos unicórnios (Foto: Arquivo pessoal/Alez Sudati)

Crise econômica e fuga da realidade

Um dos motivos para a mania dos unicórnios ter pegado no Brasil, de acordo com os especialistas em tendências, é a crise econômica e a necessidade de fuga dos jovens para um mundo de fantasia. “O unicórnio, o mundo de fantasia, é um refúgio para o jovem que vive um momento complicado”, afirma Lydia Caldana.

Para Bruno Pompeu, coordenador do curso de coolhunting do Istituto Europeo di Design e sócio da Casa Semio, essa é a chave para entender a tendência de cultuar esses seres mitológicos e toda a estética “algodão doce” que os acompanha.

“Na história, sempre que ocorrem contextos muito críticos, as manifestações de fuga são muito fortes também. O que está por trás da ideia do unicórnio? É esse sentido mais infantil, mais lúdico, de pureza, de fuga, de escapar da realidade”, afirma.

Ele lembra que o apego aos símbolos de fuga vem de bastante tempo, mas com outra cara. “Há sete, oito anos, era a saga Crepúsculo, os vampiros, a noite, essa coisa mais sombria. Agora o escapismo em outra cara, mais leve, mais doce”, diz.

O pesquisador ressalta que, diferentemente de outras tendências, que surgem nos meios de comunicação de massa, o retorno do símbolo do unicórnio é um fenômeno digital, surgido nas redes sociais. “Por isso foi uma surpresa para algumas pessoas sair na rua e ver tantos unicórnios juntos”, diz.

Pompeu acredita que o fenômeno já esteja chegando a um fim. “As tendências surgem lá atrás e se propagam mais lentamente até chegar à passarela, ao editorial de moda, aos formadores de opinião. Quando elas vão parar em fantasias de blocos de carnaval estamos falando de China, de barraca de camelô, de algo totalmente massificado a ponto de virar bugiganga. Pelo que conhecemos de outras tendências, essa não deve durar muito mais tempo.”

'Sou unicórnio'

Para algumas pessoas, o unicórnio vai muito além da fantasia de carnaval. É praticamente uma forma de viver. Elas se autodenominam unicórnios, pintam o cabelo e se vestem com cores que remetem a esse universo.

O artista plástico Leandro Dário, de 34 anos, que mora em São Paulo, se considera desse grupo e tem vários amigos que também se definem assim. Ele se inspira nesses seres mitológicos para se vestir, tingir o cabelo e até definir sua sexualidade. “As pessoas usam no carnaval o que eu uso todo dia”, diz, rindo.

Ele conta que sua identificação com os unicórnios vem da estética colorida e do fato de se tratar de um ser sem gênero. “O unicórnio foi apropriado pelo grupo LGBT por ser assexuado. É um símbolo do questionamento ao gênero binário, usado por quem não ser se rotular como masculino, feminino, transgênero. A brincadeira é dizer que você não é nada disso, você é unicórnio”, diz.

Leandro também gosta da origem milenar do mito do unicórnio, ligado à pureza e à magia, e usa esse símbolo em algumas de suas criações artísticas.

“Acho que ser unicórnio é um jeito de deixar o mundo que a gente vive mais alegre e colorido. A vida já é tão dura que vale à pena tentar um pouco de magia, né?”, finaliza.

O UNICÓRNIO...

NA MITOLOGIA

Acredita-se que a lenda do unicórnio tenha se originado em 298 a.C., com a menção pelo médico grego Ctesias de um animal indiano com corpo branco, cabeça vermelha, olhos azuis e um chifre com propriedades curativas. Em outras épocas, o unicórnio passou a ser associado à pureza e à castidade, e acreditava-se que ele só poderia ser domado por donzelas virgens.

NA CIÊNCIA

Pesquisas mostram que o unicórnio pode ter existido de verdade e convivido com o homem – na verdade, trata-se do Elasmotherium sibiricum, um rinoceronte de chifre comprido extinto há tempos e apelidado de "unicórnio siberiano".

NAS EMPRESAS

O termo unicórnio é usado no meio empresarial para designar start-ups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais.

NO SEXO

Em relações poliamorosas, quando uma mulher bissexual se relaciona com um casal já estabelecido, sem se envolver na vida social da dupla, ela é chamada de “unicórnio”.

NA ARTE

Uma das obras mais famosas de arte medieval é a série de tapeçarias “A dama e o Unicórnio”, que mostram uma mulher nobre ao lado de um unicórnio e representam os sentidos. Estima-se que tenham sido tecidos no século 15.

Tapete da série A Dama e o Unicórnio, tecido no século 15 (Foto: Museu de Cluny/Creative Commons)

NA BÍBLIA

Unicórnios são mencionados algumas vezes na Bíblia, mas acredita-se que se trata de um erro de tradução do hebreu para o grego.

NO REINO UNIDO

O unicórnio é o animal oficial da Escócia e está presente no brasão de armas do Reino Unido simbolizando esse país, ao lado do leão, símbolo da Inglaterra.

(Foto: Editoria de arte/G1)

Fonte: G1
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