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Bola da Copa 'volta às origens' para ficar mais redonda e estável

Veja como a tecnologia precisou voltar às origens para deixar a bola de futebol mais redonda e estável do que nunca para o Mundial de 2018.

08/06/2018 15:02

Imagine uma esfera perfeita. Um chute e ela iria para qualquer lugar, menos para onde você pensou. O que faz com que isso não aconteça são os gomos, pequenas estruturas que se encaixam e fazem a bola mais equilibrada sem deixar de ser redonda. Esta é a história destas peças.

Relembrando as bolas das Copas

As 21 Copas do Mundo foram marcadas por uma bola em cada edição. Embora parecidas, elas nunca foram iguais e evoluem, a cada quatro anos, em busca da melhor performance.

URUGUAI - 1930 - T‑Model: As seleções escolhiam entre duas bolas para jogar na primeira Copa. A bola acima foi a mais usada, mas na final houve uma divisão. A Argentina abriu 2 a 1 com a escocesa 12 Panel no 1º tempo, e o Uruguai virou para 4 a 2 no 2º tempo com a inglesa T-Model.

ITÁLIA - 1934 - Federale 102: Num momento de nacionalismo, a Itália fez questão de produzir a bola da Copa. O couro dos cadarços foi substituído por algodão, mas por problemas de insuflação, a final foi jogada com uma bola inglesa. O título, contudo, ficou com os italianos.

FRANÇA - 1938 - Allen: Após a Itália produzir a bola do seu Mundial, a França fez o mesmo. Apesar dos cantos dos gomos mais arredondados, ela tinha as mesmas características de sua antecessora, inclusive o problema com o insuflação, o que causou sua troca em alguns jogos.

BRASIL -1950 - Duplo T: Os cadarços, que machucavam a cabeça dos jogadores, foram eliminados nesta inovadora bola. Pela primeira vez nas Copas foi usada uma esfera de couro totalmente fechada. Porém, em campos molhados, ela absorvia água em excesso e ficava pesada.

SUÍÇA 1954 - Swiss World Champion: A tradição do país-sede produzir a bola do Mundial se manteve. Pintada de amarelo para melhorar sua visibilidade, ela tinha gomos costurados a mão com contornos em forma de zig-zag. A média de 5,4 gols por jogo daquela Copa ainda é recorde.

SUÉCIA - 1958 - Top‑Star: Foram 102 concorrentes no primeiro concurso para fazer a bola de uma Copa do Mundo. A empresa sueca vencedora produziu a bola com mais gomos até então. Feita nas cores marrom, amarelo e branco, seu couro era encerado para resistir a água.

CHILE - 1962 -Crack Top Star: Muito rejeitada, principalmente pelas seleções europeias, foi substituída pela bola da Copa anterior em várias partidas. Sua maior inovação foi o uso de uma válvula de látex, ideia que foi utilizada em modelos posteriores.

INGLATERRA - 1966 - Challenge 4‑star: Depois do desastre da bola de 1962, jurados de um concurso escolheram uma bola parecida com a de 1958, sugerida por uma empresa inglesa. A única diferença foi a existência de um gomo a mais, onde fica a válvula.

MÉXICO -1970- Telstar: Com nome e forma inspirados num satélite que transmitiria pela primeira vez os jogos da Copa, suas cores facilitavam o contraste nos televisores. Porém, a “TELevision STAR” tinha outras versões, incluindo uma toda branca.


ALEMANHA - 1974 - Telstar Durlast: Durlast, camada que protege o couro da água, ficou mais densa neste modelo do que na Telstar de 1970. Fora isso, as bolas eram iguais, sendo que a Fifa passou a permitir o uso das marcas impressas nas bolas nos jogos da Copa.

ARGENTINA - 1978 - Tango: A mudança de desenho nos gomos marcou esta bola, que foi popular e copiada nas décadas seguintes. Os triângulos formavam 12 círculos que causavam efeito quando em movimento, ideia que permaneceu por mais cinco Copas.

ESPANHA - 1982 - Tango España: O revestimento Durlast não foi mais necessário nesta bola, pois uma aplicação de borracha nas costuras a deixou mais resistente à água. A impressão, no entanto, era igual à da versão anterior, exceto pela logomarca do fabricante.

MÉXICO - 1986 - Azteca: Os triângulos tinham desenhos em homenagem aos antepassados dos mexicanos, mas a grande inovação foi o fim do uso do couro. Revestida de poliuretano, a bola ganhou impermeabilidade, além de ficar mais resistente e durável.

ITÁLIA - 1990 - Etrusco Unico: Com desenhos que fazem alusão à civilização etrusca, os triângulos mantiveram a homenagem ao país-sede. Foi a primeira bola com espuma interna de poliuretano, usada para dar mais elasticidade e resistência à água.

ESTADOS UNIDOS - 1994 - Questra: O tema espacial foi uma homenagem aos 25 anos da missão Apolo 11, que levou o homem à Lua em 1969. Uma camada externa de espuma de poliestireno foi sua principal inovação, o que melhorou seu controle e deu mais velocidade ao jogo.

FRANÇA - 1998 - Tricolore: A primeira bola colorida das Copas trouxe as cores da bandeira do país-sede e um desenho em referência ao galo, símbolo da seleção francesa. A inclusão de uma camada de espuma sintética melhorou a durabilidade e a performance da bola.

JAPÃO E COREIA DO SUL - 2002 - Fevernova: A última bola com 32 gomos trouxe novos materiais que diminuíram seu peso em busca de precisão e performance. Feita com espuma especial na parte interna e revestida com poliuretano e borracha natural, foi criticada por alguns jogadores.

ALEMANHA - 2006 - Teamgeist: A substituição das costuras pela selagem quente fez desta a primeira bola completamente à prova d’água. O novo desenho com menos gomos e sulcos a deixou mais redonda que as anteriores, mesmo assim foi alvo de reclamações.

ÁFRICA DO SUL - 2010 - Jabulani: Com ainda menos sulcos e gomos que sua antecessora, esta foi a bola mais moderna de seu tempo, sendo a primeira que ganhou uma textura externa. Como era muito leve e arredondada, perdia estabilidade, o que lhe rendeu duras críticas.

BRASIL - 2014 - Brazuca: Depois das reclamações à sua antecessora, esta bola passou por vários processos de testes rigorosos. Após ouvir jogadores do mundo inteiro, chegou-se a um elogiado modelo equilibrado, com o menor números de gomos até então.

RÚSSIA - 2018 - Telstar 18: A ideia de apenas um tipo de gomo replicado seis vezes, que deu certo no modelo anterior, se repetiu, desta vez com ainda mais sulcos e uma textura diferente. A novidade foi a inserção de um chip, que deixou a bola interativa.

Comparando todos os gomos

Foram 25 tipos diferentes usados para montar todas as bolas das Copas até hoje. Ironicamente, os mais modernos têm quase o mesmo tamanho dos gomos usados na bola do primeiro Mundial, em 1930.

De Platão a Arquimedes

Sólidos são formas básicas derivadas da esfera. Nas bolas de futebol, a organização dos gomos faz com que cada uma delas se assemelhe a uma versão arredondada de um sólido específico. Na antiguidade, Platão e Arquimedes foram pioneiros no estudo dos sólidos. Abaixo estão alguns que levam seus nomes e formam a estrutura das bolas das Copas.

O cubo

A composição de gomos em seis lados esteve presente nas bolas das oito primeiras Copas. Depois de uma pausa de 48 anos, o “cubo” voltou ao torneio em 2014, no Brasil, com a revolucionária Brazuca. A bola com o menor número de gomos (seis) de todos os Mundiais originou a Telstar 18, que será usada na Copa da Rússia.

O icosaedro truncado

O goleiro dinamarquês Eigil Nielsen, medalhista de bronze em Londres 1948, trabalhava numa fábrica de sapatos e couro para ganhar um dinheiro extra. Aprendeu o ofício e montou sua própria empresa, a Select, onde, em 1962, criou a primeira bola montada com 32 gomos (20 hexágonos e 12 pentágonos). A estrutura associa equilíbrio com redondeza, aumentando a performance e a qualidade do jogo, pois como a bola tem lados mais semelhantes, seu comportamento depende menos de onde o chute é aplicado nela. O bom balanceamento desta forma foi também comprovado na arquitetura com as cúpulas geodésicas do arquiteto americano Richard Buckminster Fuller.

A proposta arredondada de Nielsen era tão boa que foi desenvolvida pela Adidas para a Eurocopa de 1968, desta vez com as cores preto e branco para facilitar o contraste nas transmissões de TV. Anos mais tarde, cientistas descobriram que o Carbono 60, uma estável molécula do carbono, tinha o mesmo formato tridimensional desta bola e ganhou dois nomes: “Fulereno”, em homenagem a B. Fuller, e “Futeboleno”.

O cubo truncado

Com a ajuda de programas 3D, designers partiram em busca de formas mais arredondadas. Os gomos feitos com linhas poligonais clássicas deram lugar a desenhos mais orgânicos. Foi uma volta ao modelo cúbico, desta vez truncado com 14 faces, que abrigava dois tipos de gomos. Apesar das críticas que recebeu por conta do peso e da instabilidade, a +Teamgeist apresentou a primeira mudança estrutural depois de 36 anos e que permitiu um avanço em busca da bola perfeita.

O tetraedro truncado

A bola mais polêmica das últimas Copas manteve os gomos arredondados, mas mudou de forma. Os encaixes de suas oito faces a permitiram ter menos fendas que suas antecessoras, o que fez dela a bola mais inovadora até então. Porém, essa aproximação da esfera perfeita, aliada ao seu leve peso e à baixa profundidade dos sulcos, a fez perder estabilidade, mesmo com a textura dos modernos materiais pela primeira vez aplicados em seus gomos. Houve quem amasse e quem odiasse a Jabulani, e isso resultou num passo definitivo na volta ao cubo.

A influência dos sulcos

Todas as bolas modernas passam por processos de testes mecânicos, mas uma coisa foi essencial na sua evolução: “a Jabulani nos ensinou a ficar mais tempo testando diretamente com jogadores”, afirma Roland Rommler, diretor de categoria de equipamentos de futebol da Adidas. Foi assim que eles entenderam a diferença dos sulcos. “A bola de 32 gomos ainda era a mais confiável para alguns jogadores, até a Brazuca. Foi quando descobrimos que quanto mais linhas de separação entre gomos tivermos, mais estável é a bola”, diz Rommler, que afirma ainda que a diminuição no número de faces também facilita a manufatura das bolas, deixando os erros de encaixe menos prováveis.

FONTE: Dados publicados pela School of Aerospace, Mechanical and Manufacturing Engineering RMIT University, de Melbourne, Austrália; e pelo Journal of Sports Enginering and Technology, de Westminster, Reino Unido.

Em 2006, com a +Teamgeist, as costuras foram substituídas por uma selagem quente. Essa nova técnica ajudou a deixar a bola mais redonda e menos sujeita a erros na produção em grandes quantidades. Na Jabulani, a inclusão da textura foi um avanço também replicado nas bolas seguintes.

Até que a bola da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, mostrou uma ideia usada apenas em um Mundial, justamente o do Brasil de 1950: a utilização de apenas um tipo de gomo na bola inteira. A inovadora Duplo T foi a primeira bola sem cadarço e tinha 12 gomos.

Mais de 60 anos depois, foi preciso voltar ao encaixe em cubo das primeiras bolas para dar um passo adiante. “Um tipo de gomo, replicado seis vezes, ajudou a deixar a bola mais homogênea e melhorou a performance dos jogadores”, conclui, Rommler.

Nas voltas que a bola dá, uma coisa é certa: ela sempre anda para frente.

Fonte: Globo Esporte
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