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Economia da Cidade do Cabo é atingida por crise de água

A ameaça do famoso "œdia zero" ou "œsem água na torneira" e a perspectiva de um racionamento das populações, que as autoridades insinuam há meses, foi descartada este ano

17/03/2018 15:55

Na sua propriedade, nos arredores da Cidade do Cabo, Marlize Jacobs está cada vez más preocupada. A seca histórica que atinge a segunda cidade de África do Sul levou suas vinhas ao limite e ameaça toda a sua atividade.

“Nossa tonelagem retrocede pelo quarto ano consecutivo e a escassez de vinho nos ameaça”, lamenta a viticultora, instalada há mais de dez anos na costa verde de Vergenoegd. “Os gastos ligados à água quase duplicaram”, suspira. “Só utilizamos a água estritamente necessária para manter as vinhas vivas, nem uma gota a mais”.

A Cidade do Cabo e sua região sofrem há três anos uma seca excepcional que as tem privado de suas chuvas de inverno. A ameaça do famoso “dia zero” ou “sem água na torneira” e a perspectiva de um racionamento das populações, que as autoridades insinuam há meses, foi descartada este ano a custo de uma drástica redução do consumo de particulares.

Os residentes usam mais de dois terços (70%) da água consumida pela cidade, mas as restrições necessárias ao consumo não evitaram que a economia se visse afetada.


Foto: Reprodução

Desde janeiro, a agência de classificação de risco Moody’s advertiu que rebaixaria a nota da região para “especulativa” se a crise da água se prolongasse. As autoridades da província de Cabo Ocidental tampouco são muito otimistas e reconheceram que “a seca persistente prejudicou suas previsões de crescimento em relação ao resto do país e ameaça o emprego”.

Alta de preços

A agricultura, e especialmente a viticultura, orgulho do país e fonte de trabalho para dezenas de milhares de pessoas, enfrenta um duro desafio. A queda de suas atividades por causa da seca contribuiu, entre outros fatores, para levar a África do Sul a uma recessão “técnica” no começo de 2017. O setor cresceu desde então e a região pôde respirar um pouco.

Em 2016, a região do Cabo produziu sozinha 20% do vinho e 15% do suco de fruta consumido no restante dos países africanos. As vinhas atraem igualmente para a região um alto número de visitantes estrangeiros, cujo gasto é vital para a economia: 300.000 pessoas da região vivem do turismo.

A seca também afetou o setor das obras públicas. Algumas obras só puderam ser terminadas com água trazida de longe, enquanto outras foram simplesmente suspensas.

O grupo Rabie começou a reciclar água usada para fabricar seu cimento nas obras da Cidade do Cabo, com o investimento que isso implica. “Isso aumenta o preço da construção”, resume seu chefe, Miguel Rodrigues.

Em 2016, 94% das empresas locais haviam mencionado a falta de água como um risco para suas atividades. Ao contrário dos particulares, os profissionais se livraram, em grande medida, dos limites diários de consumo recomendados pelas autoridades.

Estratégias

“Trata-se de evitar criar outra crise dentro da crise”, defende o vereador encarregado da Segurança, J.P. Smith. “O setor de obras públicas já é muito frágil, se ainda cortarem a água, claramente haverá um risco para o emprego”.

Para convencer os consumidores a reduzirem seu consumo de água, a Prefeitura chegou a recorrer a especialistas em ciências do comportamento. Uma iniciativa aparentemente exitosa, visto que o consumo dos particulares caiu 60% em três anos. Até mesmo os industriais desenvolveram estratégias alternativas para economizar água.

Christopher Smith, um engenheiro da central nuclear de Koeberg (a 30 km ao norte da Cidade do Cabo), explica que colocou em atividade uma usina dessalinizadora de água do mar para utilizá-la nos sistemas de esfriamento dos reatores. “Não tínhamos eleição, foi preciso dar um jeito”, diz.

A direção da fábrica local da fabricante de cerveja AB InBev não quis comentar as consequências da seca para suas atividades, mas outros integrantes do setor admitiram que um “dia zero” seria catastrófico.

“Se não houver mais água, toda a indústria da restauração morrerá”, disse Raphael Clistini, sul-africano de 28 anos que abre bares por todo o mundo.

Seu novo estabelecimento, na Cidade do Cabo, serve um gim produzida em uma destilaria da cidade que poderia ser obrigada, dentro de pouco tempo, a utilizar água trazida de Johannesburgo, a 1.400 km dali. “Isso fará que os preços subam ainda mais”, lamenta.

Fonte: Isto É
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