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Fundos pedem destituição do Conselho de Administração da BRF

movimento é decorrente da aguda crise da empresa, que registrou prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2017

26/02/2018 08:43

Os fundos de pensão da Petrobras e do Banco do Brasil enviaram carta ao Conselho de Administração da BRF, líder do mercado de processamento de alimentos no país, pedindo realização de assembleia extraordinária destituir todos os seus membros -a começar por Abilio Diniz, presidente do órgão desde 2013.

A correspondência foi protocolada neste sábado (24). O movimento é decorrente da aguda crise da empresa, que registrou prejuízo de R$ 1,1 bilhão em 2017. Os fundos -Petros (Petrobras) e Previ (BB)- detêm mais de 20% do capital da empresa, e estão articulando votação em conjunto com acionistas estrangeiros, como o britânico Aberdeen (5%), que apoia a mudança.

Os talvez 8% nas mãos de antigos donos da Sadia, marca que se fundiu à Perdigão em 2009 para dar origem à BRF, também se alinham aos fundos. Com isso, a pressão para saída de Abilio e do fundo Tarpon (ambos donos de cerca de 9% da BRF) cresce. Abilio, que não comentou o caso, tem oito dias para responder à convocação. Se não o fizer, a assembleia pode ser realizada à sua revelia.

Segundo se comenta na empresa, a relação dele com o Tarpon, seu aliado durante quase todo o período à frente da BRF, está estremecida. Em nota, a Petros disse que a gestão da BRF precisa ser reformulada. "Infelizmente, a estratégia implementada até aqui não surtiu resultados desejados", disse o diretor de Investimentos do fundo, Daniel Lima.

Só na sexta (23) a BRF perdeu 8,33% de seu valor de mercado na Bolsa devido à divulgação do prejuízo. Foto: Reprodução

Já a Previ ressaltou que "está preocupada com os resultados negativos recorrentes e a desvalorização da empresa". O valor da ação da BRF, que chegou a bater R$ 70 sob Abilio/Tarpon, voltou ao nível o início de 2011 -estava em R$ 28,40 na sexta (23).

A cobrança liderada pelos fundos públicos marca uma mudança de posição política também. Desde a gestação da BRF no governo Luiz Inácio Lula da Silva, a empresa esteve próxima da órbita do PT. A entrada de Abilio no negócio contou com a bênção de Dilma Rousseff.

Na gestão Michel Temer (PMDB), o mercado identifica no poderoso Eliseu Padilha (Casa Civil) o principal ponto de apoio de Abilio no Planalto. O ministro minimizou, por exemplo, o impacto de uma carta de governadores de Estados em que a BRF tem atuação reclamando da gestão da empresa em 2017, conforme a Folha de S.Paulo revelou.

Um aliado de Temer disse que o presidente não irá tomar partido e que os fundos devem buscar o que considerarem melhor negócio. Governadores signatários da carta de 2017 comemoraram o pedido de destituição. No ano passado, uma série de fatores pressionou a BRF, tanto do ponto de vista de gestão quanto político. A empresa foi alvo da Operação Carne Fraca, o que enfraqueceu uma posição já exposta no mercado.

Um ex-conselheiro foi preso pela Operação Lava Jato, dois outros são investigados sob acusação de serem infiltrados da rival JBS e o braço direito de Abilio teve de ser afastado por ter sido condenado em um processo.

Por fim, em agosto foi anunciada a saída do presidente da empresa desde 2015, Pedro Faria, que voltou para o Tarpon. Seu sucessor, José Drummond, apoiado por Abilio e pelo fundo, agora tem sua posição disputada. Só na sexta (23) a BRF perdeu 8,33% de seu valor de mercado na Bolsa devido à divulgação do prejuízo. Em conferência naquele dia, Abilio disse ter sido "surpreendido".

Além disso, conselheiros questionam a relação da BRF com a rede de supermercados Carrefour, da qual Abilio é o terceiro maior acionista. Embora o Conselho Administrativo de Defesa Econômica tenha aprovado o acúmulo de posições em 2015, alguns veem conflito de interesse.

Fonte: Folhapress
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