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Covid-19 matou quase cinco vezes mais que a violência no Piauí

Dados comparam números relativos às mortes violentas registradas no Estado de março a dezembro de 2020 e aquelas causadas pela doença

20/02/2021 09:47

O ano de 2020 foi considerado de provação e de enfrentamento a algo até então desconhecido. O novo coronavírus impôs um desafio à ciência e à saúde não só por ser um agente sobre o qual pouco se sabia, mas sobretudo por causa de sua letalidade. A velocidade de disseminação e o poder de ação dentro do corpo humano causou espanto em autoridades no assunto e na sociedade como um todo.

Havia aqueles que diziam que a preocupação com a disseminação do coronavírus no Brasil e no mundo era alarmismo. Que muito mais gente morria todos os anos por outras causas e que ninguém falava sobre o assunto. Só que a realidade apontava outro caminho: nunca tanta gente havia morrido em tão pouco tempo no mundo e pela mesma causa.

Foto: Divulgação/Sesapi 

No mundo, 110.306.280 pessoas já foram diagnosticadas com o coronavírus. Destas, 2.441.610 perderam a vida para a Covid-19. Em nível de Brasil, já são mais de 10 milhões de infectados e mais de 240 mil mortos. E no Piauí a situação não é diferente: o Estado amanheceu na sexta-feira (19) com 168.403 casos confirmados de Covid e 3.232 óbitos decorrentes da doença.

Mas o que chama atenção é que, em 2020, a Covid-19 matou quase cinco vezes mais do que a criminalidade no Piauí. Os dados do Monitor da Violência, produzido pela USP, comparados com o boletim da Secretaria Estadual de Saúde (Sesapi) de 01 de janeiro de 2021, que trouxe dados fechados do ano passado, revela que 606 pessoas foram assassinadas de março a dezembro no Piauí, enquanto que as mortes por Covid somaram 2.848 registros.

O número de vítimas fatais do coronavírus no Piauí de março a dezembro de 2020 foi 4,69 vezes maior que a quantidade de pessoas vítimas da criminalidade no mesmo período. Significa dizer que a Covid-19 tirou mais vidas que armas de fogo, armas brancas, latrocínios, homicídios e lesões corporais ao longo do ano passado no Estado.

Para efeito de comparação, durante o mês de julho – quando o Piauí chegou ao pico da pandemia – a média móvel de mortes por Covid-19 no Estado ficou na casa dos 18 registros por dia. No dia mais crítico, 08 de julho, essa média chegou a 26 óbitos em 24 horas. No mesmo mês, o Piauí contabilizou 59 mortes violentas. Um média de 1,9 por dia. Isso significa dizer que durante o mês de julho, pico da pandemia, a Covid-19 matou quase dez vezes mais que a criminalidade no Estado.

Doença também matou mais que acidentes de trânsito

Em 2020, o Piauí perdeu 813 vidas em acidentes de trânsito, segundo o anuário do Seguro DPVAT. Foram 7.901 ocorrências com vítimas (entre feridos e mortos) em todo o Estado. O número é considerado alto pelos analistas da seguradora responsável pelo pagamento do DPVAT, mas ainda não foi maior que as mortes por Covid-19 também registradas ao longo do ano.

Comparando os dados de acidentes com as mortes por Covid-19, percebe-se que o coronavírus matou 3,5 vezes mais que as ocorrências de trânsito no Piauí em 2020. É como se para cada pessoas mortas por atropelamento ou colisões entre veículos, quase quatro morressem por Covid no Estado.

Protocolos devem ser seguidos até alcançar ‘imunidade de rebanho’

Infectologista ressalta necessidade de manter medidas sanitárias e acompanhar a comprovação, na prática, da eficácia da vacina O coronavírus pegou a comunidade científica de surpresa com sua velocidade de transmissão e taxa de letalidade. Durante os meses mais severos da pandemia, em que a curva de casos era uma crescente, a principal recomendação das autoridades em saúde era justamente evitar contato presencial uns com os outros e permanecer em isolamento social até que a situação se amenizasse ou se chegasse a uma medida mais eficaz contra o vírus, como um medicamento e uma vacina.

Quase um ano depois dos primeiros casos serem diagnosticados no Brasil e aqui no Piauí, a vacinação contra a Covid-19 ainda segue a passos lentos e as autoridades em saúde reiteram que enquanto não houver imunidade de rebanho e a comprovação na prática da eficácia da vacina, os protocolos sanitários não podem ser ignorados.

“Essas medidas restritivas são importantes, porque ainda não deu tempo de ver a eficácia da vacina na prática. Precisa de um tempo e esse vírus ainda é uma coisa nova e já mostrou que é potente. E ele sofre mutações, o que é uma dificuldade a mais no processo. Não sabemos ainda quanto tempo a imunidade dura, se vai ser preciso vacinar todo ano como a gripe ou se precisará de mais alguma dose no futuro”, explica a infectologista Amparo Salmito.

A médica destaca que o coronavírus veio com uma força de destruição e letalidade nunca antes registrada na história e o classifica como “uma peste de proporções catastróficas” que escancarou as diferenças sociais e econômicas e desafiou os sistemas de vigilância no mundo todo.

“É uma doença nova e que deve ficar mesmo depois da vacina, então temos que ter um sistema de vigilância muito bom, eficaz e rápido, porque outras situações podem ocorrer”, finaliza a infectologista.

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