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Homens negros são mais vulneráveis ao câncer de próstata

Com menos casos da doença que os Estados Unidos, brasileiros têm índice de mortalidade duas vezes maior que o país norte-americano

27/08/2019 11:47


As razões ainda não são claras, mas os negros apresentam risco ao câncer de próstata de duas a três vezes maior que o restante da população masculina, bem como o dobro da probabilidade de morrer por conta da doença. Além disso, a ocorrência desse tipo de câncer nos homens brancos acontece em geral a partir dos 50 anos, ao passo que em negros se dá entre cinco e dez anos mais cedo. Os dados confirmados pelo oncologista Fernando Maluf, diretor médico do Centro Oncológico da Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Hospital Israelita Albert Einstein e Diretor do Centro de Oncologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, alertam ainda para outros fatores de risco, como os genéticos e ambientais.



“Se você tem um parente de primeiro grau com a doença, a probabilidade de você desenvolver [o câncer de próstata] é duas vezes maior; dois parentes de primeiro grau, quatro vezes; três parentes, seis vezes. Então, o risco vai aumentando de acordo com o número de parentes acometidos pela doença, a proximidade e a idade em que aquele parente teve câncer de próstata”, explica Maluf, acrescentando que a obesidade é outro agravante da doença. “Além da parte familiar, tem a obesidade, e não só pelo risco de ter a doença, mas o obeso tem a doença pior; a raça negra tem mais câncer de próstata e mais agressivo, e a idade, pois raramente o câncer de próstata vai acometer alguém abaixo de 40, 45 anos”, completa.



O oncologista apresenta ainda outros dados alarmantes. Enquanto nos Estados Unidos a estimativa de novos casos de câncer de próstata é de cerca de 200 mil e de cada 10 casos diagnosticados, um vem a óbito; no Brasil, espera-se a ocorrência de 70 mil novos casos de câncer de próstata por ano, no entanto, de cada 10 casos diagnosticados, dois morrem. Ou seja, a mortalidade no Brasil é o dobro que do registrado nos Estados Unidos, onde há mais casos diagnosticados da doença.

Para Fernando Maluf, a justificativa para este cenário passa pela cultura resistente do homem em buscar ajuda médica. “No Brasil, os pacientes chegam, com frequência, tardiamente ao diagnóstico. Uma pesquisa da SBU [Sociedade Brasileira de Urologia] mostra que a quantidade de pacientes com doença avançada no diagnóstico é de duas a três vezes maior que nos EUA. Se você olhar para os negros, ou para as pessoas mais pobres, esse risco aumenta de quatro a cinco vezes. Então, nosso tumor é igual ao dos americanos, o nosso problema chama-se doença social, não doença só da doença”, pondera o oncologista, citando que os homens vão oito vezes menos ao médico espontaneamente que as mulheres no Brasil e eles vivem sete anos a menos que elas no país.


Exame do toque: “desconforto é muito mais na cabeça que na parte física”

O rastreamento da saúde da próstata deve começar aos 50 anos. Todavia, se o homem tiver algum dos fatores de risco, o acompanhamento deve começar aos 40 anos. Para tanto, o urologista irá solicitar a realização do exame de toque retal e o exame de sangue para avaliar a dosagem do PSA (antígeno prostático específico).

Segundo o oncologista Fernando Maluf, os dois exames são complementares e o resultado de um não anula a necessidade de realização do outro. “O exame de toque demora uns sete segundos, praticamente indolor. O desconforto é muito mais na cabeça que na parte física. E é importante lembrar que o toque complementa o PSA. Há casos em que o PSA dá baixo, mas o toque retal dá alterado e, em geral, esses são os piores tumores, aqueles que não expressam em PSA”, alerta.

Ainda sobre a prevenção da doença, o médico indica hábitos de vida saudáveis e a ingestão de alimentos como chá verde, cúrcuma, tomate, alho, pimenta, romã, além de ômega 3 e vitamina D. Ele ressalta que o licopeno, pigmento carotenoide e fitoquímico encontrado principalmente no tomate e seus derivados, sendo o responsável pela cor vermelha intensa dele e de outras frutas, também é um importante aliado na prevenção da patologia. Ademais, deve-se evitar a ingestão de embutidos, frituras, alimentos condimentados e carnes vermelha em excesso.


Diagnóstico e formas de tratamento

Caso sejam constatadas alterações suspeitas no exame de toque e PSA, o médico, então, solicita a biopsia e, dependendo do resultado anátomo-patológico, confirma-se ou descarta-se o diagnóstico de câncer de próstata. Em caso positivo para a doença localizada, os tratamentos mais comuns são cirurgia e radioterapia.

“A cirurgia pode causar um pouco mais de chances de desenvolver incontinência urinária que a radioterapia, e a chance de impotência é parecida nas duas modalidades. Já a radioterapia pode causar um pouco mais de inflamação, é mais demorada, pois leva de sete a oito semanas para ser concluída. Os dois tratamentos têm prós e contras, mas são super corretos”, explica Fernando Maluf.

Já quando a doença se apresenta em estágio avançado, os tratamentos são: a castração, que é diminuir a produção de testosterona nos testículos, pois ela é o alimento vital das células cancerígenas; além da quimioterapia, imunoterapia ou radioterapia injetável. “No entanto, é possível que, após a castração, as células cancerígenas aprendam a se alimentar de outra substância, e aí vêm outras alternativas, como drogas, tratamentos hormonais, etc.”, completa.











Homens encaram com desespero e medo o diagnóstico da doença

Em um país cuja masculinidade foi socialmente construída sob a virilidade do homem, enfrentar o diagnóstico de câncer de próstata pode trazer sérios impactos à saúde emocional e mental dos pacientes. 

Segundo a psicóloga Luiza Polessa, membro da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO), ao receber o diagnóstico da doença, este homem começa a viver na iminência de vários sentimentos. “É tudo tão intenso, tão avassalador que é como se ele tivesse caindo no vácuo, com muita preocupação financeira, alteração de sono, depressão, casos de ideação suicida, bloqueio emocional e cognitivo, descrença e desesperança de cura”, descreve.

E a família também sofre neste processo. “A família também é impactada com sentimentos de pesar, angústia, medo e até ambivalência de sentimentos, porque nem sempre esse familiar é um querido, muitas vezes ele não foi um bom pai, um bom marido, um bom irmão ou um bom colega de trabalho. E ao mesmo tempo que vem o pesar, vem o distanciamento, a desqualificação”, ressalta a psicóloga.

Um reflexo desses impactos emocionais e mentais no paciente também foi descrito pela pesquisa do Instituto Ipsos, a pedido da Janssen. O levantamento aponta que aproximadamente duas vezes mais pacientes metastáticos (31%) procuraram apoio psicológico em comparação àqueles que não tinham metástase (17%).

“É necessário olhar o aspecto psicossocial da doença, uma vez que a pessoa pode, de repente, deixar de ser produtiva socialmente ou intelectualmente. Além disso, os indivíduos precisam lidar ainda com outras questões associadas ao câncer, como disfunção erétil, que descaracterizam a identidade do homem de uma maneira muito significativa”, completa Luiza Polessa.

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Por: Virgiane Passos - Editora enviada a São Paulo
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