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Mãe de anjo: falta humanização dos profissionais de saúde

Viviane Bandeira lembra o atendimento insensível que teve no momento da perda gestacional. Para eterizar o filho ela fez uma tatuagem.

02/11/2019 13:28

Os profissionais da saúde têm um papel fundamental no momento de uma perca gestacional. Por não saber qual o contexto que envolve a morte da criança ou o processo que a família estava passando na gestação, qualquer palavra pode trazer prejuízos irreparáveis.

Viviane Bandeira  lembra o atendimento insensível que teve naquele momento. “Quero chamar atenção aqui para a necessidade de humanização dos profissionais de saúde. O médico ultrassonografista me deu a notícia dizendo ‘aqui não tem mais nada, tá morto’. E isso foi de uma crueldade que eu nem consigo mensurar. Para ele, era um feto. Para mim e para meu marido, era nosso filho amado. A gravidez tinha pouco mais de um mês, mas era o nosso filho”, descreve.

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Após a notícia, Viviane esperou alguns dias para fazer a curetagem. O procedimento foi realizado em uma clínica particular e, de acordo com ela, os profissionais da instituição não sabiam como se portar diante do luto da família.

“Imagina entrar num centro cirúrgico pra fazer uma curetagem e nas salas ao lado ter várias mulheres parindo seus bebês. Imagina você sair de lá sem o seu bebê, com o barulho e choro dos bebês de outras famílias em seus ouvidos. É muito sofrido”, diz Viviane Bandeira.

“É importante legitimar o sofrimento da família”, orienta psicóloga

Segundo a psicóloga Julia Gomes , é importante lembrar que a mulher que perde um bebê sempre vai ser mãe daquela criança. No momento de luto, é importante legitimar o sofrimento da família, reconhecer, acolher e se colocar à disposição para escuta, pois o luto é um processo de montanha russa, onde os pensamentos vão e voltam, e as mulheres precisam falar sobre o assunto. Esta é exatamente a sensação que Viviane Bandeira passou. 

No primeiro momento, ela preferiu ficar quieta. Mas depois percebeu que falar sobre o momento poderia ajudar muitas mães. Então, ela começou a escrever para um blog no PortalODIA.com, intitulado “Cá entre mães”, onde compartilhava seus momentos e de outras mães de anjos.


Viviane Bandeira fez uma tatuagem para eternizar o filho. Arquivo Pessoal

 “Também fiz uma tatuagem pra eternizar minha estrela, Maria/Lucas, na minha pele. Ano passado, no aniversário de quatro anos da passagem de Maria/Lucas, fiz terapia de ressignificação do luto, encarando essa dor para seguir melhor”, revela Viviane. Como recomendado pelas psicólogas, falar é a melhor forma de trabalhar o luto. 

Na casa da Viviane Bandeira, o assunto não é tabu. Ela conversa com suas filhas e inclui o bebê que não está fisicamente entre eles. “Luísa tem três anos e sabe que é irmã de uma estrela, que essa estrela viveu na barriga da mamãe e não nasceu e foi brilhar no céu. Elas olham o céu à noite e dizem ver nossa estrelinha. Mas pouca gente entende essa nossa forma de encarar a perda. A nossa escolha é incluir nosso filho que não nasceu e permanecer no amor”, conclui

Edição: Virgiane Passos
Por: Sandy Swamy - Jornal O Dia
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