Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Mães revelam os sentimentos que permeiam a perda de um filho

Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 20% das gravidezes diagnosticadas evoluem para interrupção espontâneas

02/11/2019 08:36

“Soubemos da gravidez no dia 13 de setembro. Dia 15 de outubro, ao chegar do trabalho para almoçar na casa da minha mãe, vi que havia uma mancha de sangue na calcinha. Eu sabia que meu filho estava ali. Tentei ficar calma, pra acalmar minha mãe. Chamei meu marido, fomos ao médico e a ultrassonografia confirmou que já não havia batimentos cardíacos. Nosso filho havia morrido”. Este é o relato da jornalista Viviane Bandeira, mãe de Laura, Luísa e da estrela Maria ou Lucas. 

Leia também:

Mãe cobra humanização por parte dos profissionais de saúde 

“Têm dias que acordo naquela fase de raiva e revolta”, diz mãe 

Piauí pode ter Dia Estadual de Sensibilização à Perda Gestacional e Neonatal 


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 20% das gravidezes diagnosticadas evoluem para interrupção espontânea e são considerados abortos espontâneos se feto pesar menos de 500 gramas e ter aproximadamente de 20 a 22 semanas de gestação. 

Os casos ocorrem, principalmente, com idade gestacional entre 8 e 12 semanas; destas, 50% são causadas por anormalidades. Algumas das principais causas são: idade materna avançada, alcoolismo, tabagismo, peso materno, aborto espontâneo prévio e fatores genéticos. Já a morte neonatal acontece nas primeiras 4 semanas de vida ou 28 dias incompletos. Enquanto a morte pós-neonatal é considerada nos meses seguintes até um ano de idade. 

Viviane conversa com suas filhas e inclui o bebê que não está fisicamente entre eles (Foto: Acervo pessoal)

Porém, a morte de um bebê na fase gestacional ou neonatal não chega a ser tratada como luto válido por pessoas que acreditam que não houve um período suficiente para criar um vínculo. É o que descreve a psicóloga Fernanda Rangel. “O luto são reações que as pessoas têm diante da perda que é importante pra ela. O entendimento das pessoas é que se a criança não nasceu ou nasceu e, logo em seguida, morreu, é como se não existisse história e as pessoas não conseguem entender o porquê da dor”, afirma. 

Por outro lado, de acordo com a psicóloga Julia Gomes, isso acontece porque falar sobre morte ainda é um tabu Mães de anjos: o luto silenciado na sociedade. As pessoas não são preparadas para saber lidar com o luto. A tendência é se afastar ou se isolar. “Quando se perde o bebê, existe um impacto muito  forte, porque as pessoas se afastam ou tentam minimizar o que foi vivido. É como se as pessoas quisessem que a mãe esquecesse o bebê e a existência dele. Mas é preciso entender o luto como um processo não que tem um começo e um fim. É algo que precisa ser vivido e que vai ser um processo de adaptação emocional, física, social e espiritual a uma nova realidade. Se os sintomas se prolongarem e trazerem dificuldades nas atividades do dia a dia, pode ser preciso uma atenção mais intensa. Mas o luto precisa ser vivido”, alerta a psicóloga.

Vínculo é real

A jornalista Viviane Bandeira ressalta que a falta de um filho que não nasceu ou nasceu e morreu pouco tempo depois é tão forte quanto de uma pessoa querida que viveu durante muitos anos. “O fato de as pessoas acharem que porque nossos filhos não nasceram ou porque nasceram e morreram ainda muito pequenos, nós não tenhamos o direito ao luto. Somos mães. Somos pais. Nossos filhos morreram. Não importa se nasceram ou se ainda estavam sendo gestados. São nossos filhos. Nós os amamos e sentimos sua falta”, desabafa Viviane. 

Edição: Virgiane Passos
Por: Sandy Swamy - Jornal O Dia
Mais sobre: