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"Quando lhe incapacita, o transtorno já está generalizado"

Especialista orienta que aos primeiros sinais de ansiedade é preciso procurar ajuda, a partir de terapias e autoconhecimento.

31/08/2019 08:57

“A ansiedade pode iniciar com sinais pequenos de preocupação com o futuro. A pessoa passa a ter palpitações, falta de ar, febre, até chegar ao nível de ficar impossibilitada de fazer atividades simples”. A descrição é da psicóloga e coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), Elizandra Pires, e reforça a importância de não se ignorar os sintomas da ansiedade. 

“A ansiedade é uma coisa natural do ser humano, mas, quando isso passa a atrapalhar sua vida, você tem que ficar em alerta, como por exemplo, se você fica preocupado com tudo, com medo e se isso lhe paralisa. Muitas vezes, as pessoas pensam que vai passar, ficam deixando para depois e, quando vai em busca de ajuda, já está com Transtorno Generalizado de Ansiedade”, explica. 

Elizandra destaca que o transtorno pode ser prevenido a partir de terapias e autoconhecimento, adotando um estilo de vida com mais qualidade, com práticas de lazer, esporte, educação e saúde. Ela comenta que os transtornos, como ansiedade e depressão, são desencadeados quando algumas áreas da vida passam por mudanças, afetando, assim, o psicológico do indivíduo.

“No mundo, o Brasil é o 1º país com casos de ansiedade, o 2º em estresse e o 5º em depressão. Nós somos recorde na América Latina, então o que está acontecendo? Quando a gente vai fazer essa análise é algo multifatorial, são as nossas questões socioeconômicas de moradia, de transporte, a vida nas cidades grandes, a forma como você se alimenta. É precisa ter o ócio, o momento de você não fazer nada”, indica a coordenadora do Caps AD.


Foto: Folhapress

Elizandra Pires explica ainda as principais diferenças entre a ansiedade e outros transtornos que acometem a população. Entenda:

Ansiedade X Depressão

“Quem tem transtorno de ansiedade está a um passo para a depressão, pois alguns sintomas coincidem. Só que a ansiedade é uma preocupação exagerada com o futuro, já a depressão é relacionada a perdas do passado não trabalhadas”, explica Elizandra Pires, destacando que a depressão é a doença mais incapacitante, pois deixa a pessoa menos produtiva. 

A psicóloga também cita os sintomas em comum. “Com ansiedade, a pessoa tem dificuldade de concentração, assim como na depressão. Você se sente paralisada, não consegue fazer as coisas porque tem medo, só que a depressão ela vem associada da sintomatologia da ansiedade, como a apatia, tristeza constante, choro fácil e desinteresse pelas coisas”, explica.

Girassol, por exemplo, descobriu que tinha ansiedade ainda no Ensino Médio e, sem os cuidados necessários, suas crises pioraram e passaram a ser mais intensas. Segundo ela, o início da depressão ocorreu justamente por não entender que sofria com ansiedade.

“Procurei ajuda, fui em uma terapia para entender o que estava acontecendo, mas eu negligenciei. Fui em uma sessão e não fui mais e passei a conviver com isso, mas sempre percebia algo, mas não dava importância à ansiedade. No meio do curso, comecei a perceber que tive de novo crise de ansiedade, entendi que era porque eu estava querendo voltar a morar com meus pais. E voltei”, conta.

Ansiedade x Síndrome de Burnout

Trabalhar além do limite, não ter vontade de fazer as atividades, se sentir desmotivado e desvalorizado são algumas das características da Síndrome de Burnout, que pode ser desencadeada com mais facilidade em pessoas já ansiosas, como explica a psicóloga Elizandra Pires.

“Se uma pessoa tinha meta de atender 100 clientes em um ou dois dias e começa a diminuir essa produção, então ela começa a ficar com medo. Percebe-se que era uma pessoa que tinha boa relação interpessoal e intrapessoal, mas, do nada, seu rendimento começa a cair”, cita.

Nesses casos, a especialista alerta que as empresas devem estar atentas. É preciso observar os sinais que os funcionários repassam por meio de seus coordenadores e, assim, buscar alternativas para contornar essas crises e criar mecanismos para manter seu colaborador ativo. Algumas empresas estão criando o Núcleo de Saúde do Trabalhador, onde são trabalhadas ações preventivas, como ginástica laboral, meditação, atendimento médico e psicológico.


Nesses casos, a especialista alerta que as empresas devem estar atentas. É preciso observar os sinais que os funcionários repassam por meio de seus coordenadores e, assim, buscar alternativas para contornar essas crises


“Têm várias empresas que trabalham a qualidade de vida e saúde do trabalhador. Antes de a produção cair, o funcionário dá alguns sinais, como falar que não está bem ou diminui a interação com os colegas. É assim que a ansiedade evolui, juntando à ansiedade, o estresse e outras sintomatologias. Quando a pessoa desenvolve o Burnout, já é algo extremo, que ela não consegue mais fazer nada, começa a chorar, ficar nervosa, se tremer, se achar incapaz, que não consegue mais e começa a ter sintomatologias físicas, como dor de cabeça, dor de estômago e dificuldade para dormir. A insônia é bem característica de quem tem ansiedade, depressão e Burnout”, ressalta a Elizandra.

Margarida, de 26 anos, faz parte do grupo de risco do Burnout. “A pressão do dia a dia conta muito. Tenho diagnóstico do transtorno de ansiedade e já faço acompanhamento desde a morte da minha mãe, em 2011. Na minha área de atuação você depende muito dos outros e se eles não te dão retorno, conta muito para o psicológico. É como se você estivesse deixando de fazer o seu trabalho e é complicado. Essa pressão para produzir não é legal”, pontua.

Elizandra Pires adverte ainda que qualquer pessoa precisa fazer terapia. “Todo mundo tem questões existenciais e comportamentais que precisam ser trabalhadas, afinal, ninguém vem ao mundo com manual de instrução. Os pais procuram dar o melhor, mas a gente nem sempre acerta e você vai criando questões emocionais, um padrão de comportamento que a sociedade não aceita no trabalho e a tendência é contrair problemas, então quando isso é trabalhado antes de desenvolver o transtorno, é melhor”, completa.

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Por: Sandy Swamy - Jornal O Dia
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