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Medo de perder direitos impulsiona casamentos LGBTs no Piauí

Casais revelam que, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018, resolveram acelerar os trâmites matrimoniais. Dados do IBGE comprovam aumento

11/12/2019 10:58

A união civil entre casais LGBTs aumentou 85% em 2018 e uma das motivações seria o resultado das eleições presidenciais no Brasil. Segundo casais homoafetivos, a onda de conservadorismo que emergiu com a eleição de Jair Bolsonaro, os deixaram apreensivos quanto a possível perda de direitos.   

A advogada Mishelle Coelho, de 35 anos, e a auxiliar de veterinária Vivianne Avila, de 29, tinham planos de oficializar a relação de cinco anos com uma cerimônia não só para celebrar o amor, mas também pelo “receio de perder o direito de casar, ter os mesmo direitos de um casal considerado normal devido à onda de conservadorismo”. Elas casaram no dia 9 de novembro de 2018, pouco tempo depois que Jair Bolsonaro foi eleito o 38º presidente da república do Brasil.

“Primeiramente eu me casei por amor. Eu já convivia com a minha esposa há cinco anos e completamos um ano de casadas no mês passado. Nós oficializamos nossa relação justamente por esse receio que, neste ano de 2019, algumas mudanças que foram discutidas durante a campanha presidencial fossem cumpridas. Uma delas era diminuir os direitos dos casais homoafetivos em virtude da conservação da família tradicional”, afirma Mishelle, em entrevista ao Portal O Dia.

Durante a corrida presidencial em 2018, Mishelle e Vivianne acompanharam as declarações do então candidato Jair Bolsonaro sobre os direitos LGBT e, consequentemente, a definição do conceito de família.

“O nosso casamento tem também esse viés político, mas foi por amor, por querer constituir uma família, foi por querer construir uma vida juntas e oficializar uma situação que a gente já vivia. Muito embora nós sejamos casadas, quando vamos falar para as pessoas que somos casadas, elas acham que não é algo oficial. Às vezes, precisamos até comprovar mostrando nossa certidão de casamento”, aponta Mishelle, que casou no auditório da Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi), juntamente com mais de 200 casais heterossexuais.

Para Mishelle, além de passar um recado contra o conservadorismo vigente, o casamento entre pessoas do mesmo sexo faz com que pessoas LGBT se sintam encorajadas para tomar a decisão de casar. “Eu acredito que existem muitas pessoas que não têm coragem de assumir, de casar e assumir pra sociedade em geral que estão vivendo uma relação homoafetiva por receio do preconceito, retaliações. Após meu casamento, três amigas também se casaram por minha influência”, completa.


Dados

Dados do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na última quarta-feira (04), mostram que casamentos entre pessoas do mesmo sexo aumentaram 87,5% no Piauí entre 2013 a 2018.

Mesmo com o número expressivo, em comparação ao total de matrimônios oficializados no Piauí no mesmo período, casais LGBT representam apenas 0,45% de acordo com a pesquisa.

Os dados também mostram que a variação do casamento LGBT realizado no intervalo de 2013 e 2018 entre cônjuges masculinos foi de 325%. No mesmo período, houve crescimento de 55,56% no número de casamentos nos quais os cônjuges eram mulheres.


Matizes preparou casamento comunitário em Teresina

No ano passado, também temendo a perda de direitos, diversos casais LGBTs oficializaram as relações durante um casamento coletivo realizado pelo Grupo Matizes - organização não-governamental que atua na prestação de assessoria jurídica para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros no Estado.

A vice-coordenadora do grupo, Marinalva Santana, disse ao Portal O Dia que, à época, as pessoas estavam se sentindo ameaçadas e por essa razão procuraram oficializar a união.

“Quando realizamos os casamentos naquela época, as pessoas estavam se sentindo ameaçadas e nos procuraram para oficialização da união logo após o presidente Jair Bolsonaro ser eleito. As pessoas tinham receio de perder seu direito de matrimônio após 10 e 15 anos de relação e, muitas delas, casaram. O Dado do IBGE com certeza é um retrato disso”, avalia.

Sobre o casamento LGBT

O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar em 2011. Porém, uma resolução aprovada em 2013 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) obriga que os cartórios de todo o país realizem o casamento civil e converta a união estável homoafetiva em casamento. 


Edição: Virgiane Passos
Por: Jorge Machado - portalodia.com
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