Portal O Dia - Notícias do Piauí, Teresina, Brasil e mundo

WhatsApp Facebook Twitter Telegram Messenger LinkedIn E-mail Gmail

Suicídio desafia sociedade a exercitar empatia e cuidados com a saúde mental

Em situação de desespero, as pessoas precisam ser amparadas, não julgadas.

23/06/2019 07:51

“O suicídio é um fenômeno complexo e multicausal, ou seja: algo muito simples não pode explicá-lo”. O destaque é feito por Marcelle Beatriz, psicóloga terapeuta de casal e família e pós-graduanda em prevenção e posvenção ao suicídio. A especialista faz o destaque para que se encare o tema com a complexidade que ele se apresenta, por isto, neste cenário, julgamentos, busca por culpados ou negação, não contribuem para que a sociedade lide, de forma saudável, com as vidas que se perdem ou são afetadas em conseqüência deste fenômeno.

“A pessoa quando comete suicídio não quer tirar sua própria vida, ela quer minimizar a dor que está sentido, ela se vê sozinha, não se vê compreendida e a gente vive em uma cultura que dá muito valor as pessoas quando ela se vão”, explica a psicóloga. 


Especialista mostra necessidade de cuidar do outro - Foto: Poliana Oliveira/O Dia

Partindo deste entendimento, a profissional lembra que, em situações de desespero, as pessoas têm de ser amparadas, não julgadas. Isto talvez possa fazer a diferença entre salvar uma vida ou perdê-la. “A coisa que a gente menos deve fazer é julgar aquela pessoa, a gente vai tentar o máximo acolher o sofrimento dela, tentar entender o que ela está passando. Não usar religião ou uma cultura para fazer aquele tipo de indicação: você não acredita em Deus? Você não acredita que Deus pode te salvar? Imagina como tua família vai se sentir? Esse tipo de coisa só faz a pessoa se sentir mais culpada e mais errada, tudo isso pode intensificar aquela situação. Então, o momento é de não atribuir culpa”, considera.

A orientação serve como base para que pessoas que não tenham um conhecimento aprofundado sobre o tema saibam lidar com alguma inesperada situação, mas, é claro, que é através da intervenção de um profissional da saúde a forma mais correta de lidar com qualquer tipo de situação.


“A coisa que a gente menos deve fazer é julgar aquela pessoa, a gente vai tentar o máximo acolher o sofrimento dela, tentar entender o que ela está passando" - Marcelle Beatriz


“Para ajudar, acolher, você precisa conhecer, não pode tratar um tema tão complexo sem buscar entender os sinais de alerta, a forma de abordagem. Mas é claro que não vamos capacitar toda uma sociedade para lidar com isso, mas nós, como sociedade, não podemos ficar alheio ao problema do outro. Precisamos entender, porque ninguém está alheio a essa temática. Precisamos nos cuidar para cuidar do outro”, finaliza.

Atenção a frases alarmistas

Há um mito dito com recorrência que as pessoas que falam em cometer o suicídio não farão mal a si próprias, pois querem apenas “chamar a atenção”. Além de não contribuir com o debate, o pensamento é um conceito falso, como alerta a cartilha do Centro de Valorização da Vida (CVV).

Existem diversas dicas que podem indicar que uma pessoa possa estar enfrentando esse tipo de problema e planejando cometer suicídio e as frases de alarme podem denunciar a situação: “A vida não vale a pena”, “Nada mais importa”, “Não ficarei magoado mais pois não estarei mais aqui”, “Vão sentir a minha falta quando eu me for”, “Você se sentirá mal quando eu me for?”, “Não aguento a dor”, “Não consigo lidar com tudo isso – a vida é muito difícil”.

Parentes, amigos ou pessoas que convivam no ciclo social de indivíduos que deixam tais alertas devem permanecer abertos para ajudar a lidar com a situação.


Centro de Valorização da Vida treina pessoas para liderem com o tema - Foto: Elias Fontinele/O Dia

CVV na rede de amparo

Para contribuir com este contexto, o CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, no número 188; email e chat 24 horas (https://www.cvv.org.br) todos os dias.

“O que fazemos é uma escuta ativa, uma conversa que pode contribuir para a pessoa que esteja precisando ser ouvida e poder estimular que ela busque solucionar seus problemas”, explica Eyder Mendes, atendente e coordenador de divulgação do CVV Piauí.

As pessoas que querem ser voluntárias do CVV tem que fazer parte de um treinamento, que dura em média três fins de semana, e ter disponibilidade de 4h por semana em qualquer horário. 

Por: Glenda Uchôa - Jornal O Dia
Mais sobre: