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Tribunal da internet: Fenômeno do "cancelamento" impacta a vida das pessoas

Mas a plataforma que une é também a que segrega.

28/03/2020 09:00

Com a pandemia do coronavírus em todo o mundo, as redes sociais, que já eram massivamente usadas como ponte entre as pessoas, se tornaram a principal ferramenta para manter contato. Mas a plataforma que une é também a que segrega. A chamada "cultura do cancelamento" não para de ganhar força na grande rede. Mas o que acontece dentro da internet impacta também quem está fora.

"Cancelar" uma pessoa é sinônimo de boicote e costuma ser aplicado a figuras públicas que tenham feito ou dito alguma coisa considerada ofensiva, preconceituosa ou polêmica. O fenômeno acontece, de forma mais intensificada, desde o ano passado. O termo “cultura de cancelamento” foi eleito como um dos mais destacados do ano pelo Dicionário Macquarie, um dos responsáveis por selecionar anualmente as palavras e expressões que mais moldaram o comportamento humano. É uma eleição que leva em conta a língua inglesa, mas que, por meio das redes sociais e da comunicação, sempre acaba escorrendo para outros idiomas — comofoi o caso do Brasil.

Mês passado, no Carnaval, a atriz Alessandra Negrini foi alvo de ataques duríssimos nas redes sociais e, também, #cancelada por usar um cocar em um bloco de carnaval de rua e ser acusada de apropriação cultural.


Tribunal da internet: Fenômeno do "cancelamento" impacta a vida das pessoas. Reprodução

Já ano passado, quem viveu algo da mesma dimensão foi a cantora Anitta, que decidiu chamar Nêgo do Borel ao palco de uma apresentaçãodo Bloco das Poderosas.  A plateia, no local, vaiou a presença do músico e nas redes sociais uma enxurrada de críticas apareceram. Isso aconteceu porque ele já tinha sido cancelado, após ter feito comentários considerados transfóbicos para Luisa Marilac, que é transexual.

Muito expostos, os artistas são alvos comuns dos boicotes. Mas não apenas eles. Atualmente, com a transmissão de mais uma edição do reallity show Big Brother Brasil, os anônimos que entram na casa também são expostos ao julgamento do público. O mais recente deles, o gaúcho Daniel, foi alvo de constantes ataques nas redes sociais e foi eliminado do programa com mais de 80% de rejeição.

A especialista em direitos da mulher Loretta Rossnão é contra apontar ações e discursos preconceituosos. Ela só acredita que o linchamento virtual (antigamente, público e figurado) não é a melhor maneira de apontar erros alheios. Em um texto de opinião intitulado (em tradução livre) "Eu sou uma feminista negra. Eu acho que a cultura do cancelamento é tóxica", publicado no jornal New York Times, ela argumenta que há maneiras melhores de se fazer justiça social.

Por: Glenda Uchôa - Jornal O Dia
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