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Mãe de Anjo: "œTêm dias que acordo com raiva e revolta", diz mãe

A narrativa é da professora Daniela Gomes, que perdeu seu bebê no período pós-neonatal. Ele tinha dois meses quando teve complicações de saúde e faleceu.

02/11/2019 13:45

“No início da gestação, participava de um grupo, no WhatsApp, de mães; onde trocávamos experiências, tirávamos dúvidas, era um suporte nessa nova etapa da minha vida. Com a perda do meu pequeno coração (Otávio Augusto), eu já não fazia mais parte daquele grupo. Como ele tinha me feito tão bem, senti a necessidade de procurar um grupo de mães que passaram pelo que eu passei, para dividir os meus sentimentos e saber como caminhar após a perda”. A narrativa é da professora Daniela Gomes, que perdeu seu bebê no período pós-neonatal. Ele tinha dois meses quando teve complicações de saúde e faleceu.

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Daniela sentiu o desejo de saber como lidar com a saudade do filho. E ao buscar por redes sociais que falavam sobre ‘mães de anjos’, encontrou a conta no Instagram @entremaesdeanjos . Lá ela pode perceber que não está sozinha neste momento de luto, que muitas mães passam por perdas diariamente.

“É um grupo que está sempre atualizado, isso nos faz sentir acolhida! Porque a maioria da sociedade pensa que, quando a gente perde um bebê pequeno, não sofre, porque o tempo foi curto pra criar laços”, fala.

Para Daniela, além do grupo de mães que vivenciam a mesma dor, a sua família é essencial neste período de luto, que dura pouco mais de um mês. “É muito difícil! Têm dias que acordo naquela fase de raiva e revolta, com a cabeça cheia de porquês; em outros dias, entro na fase da aceitação. E com isso percebi que a dor entre as mães á a mesma, mas cada uma passa pelo momento de forma diferente”, expõe.

Grupos de apoio ajudam mães de anjos

“Muitas mulheres têm perdas gestacionais, mas acabam silenciando as suas dores por terem a sensação de que não serão compreendidas e sofrem sozinhas. É importante que a mulher busque grupo de apoio, em que tem outras pessoas que passaram pela mesma experiência; assim a mãe vai se sentir segura. Os grupos podem auxiliar nesse processo de elaboração do luto”, argumenta a psicóloga Julia Gomes

O grupo Entre Mães de Anjos , por exemplo, foi criado pela pedagoga Daniela Rezes, que iniciou as reflexões em sua conta pessoal, com relatos sobre a sua filha. E a partir da hashtag #mãesdeanjos foi ganhando mais visibilidade e seguidores. “Quando eu cheguei a três mil seguidores, não era mais a conta da Daniela Rezes. Mas da Dani Rezes, que escreve para as mães de anjos. Foi então que eu mudei o nome para Entre Mães de Anjos. A minha conta é mais direcionada a perda de bebês, seja perda gestacional (abortos espontâneos, retidos e perda tardia) e perdas neonatais (bebês prematuros)”, explica. 

Daniela Rezes teve uma perda e o motivo não foi diagnosticado. A partir da sua experiência, ela ajuda outras mães a aprenderem a conviver com a saudade do filho. Para trabalhar os casos mais complicados, Dani Rezes conta com o apoio da psicóloga Fernanda Rangel,  que realiza bate-papos com as mães através de vídeo ao vivo nas redes sociais e encaminha as mães para grupos de apoio em suas cidades. 

“As falas são as mesmas, mudam apenas o endereço. São falas como ‘me pedem para eu esquecer, que vai doer menos’; ‘meu esposo me deixou’; ‘não tenho compreensão’; ‘minha família não me escuta, pede para eu não falar do bebê’. Violência obstétrica e negligência médica. ‘O que fazer com as coisas do bebê?’; ‘Dani, chorar ajuda a aliviar?’. E muitas querem apenas conversar”, descreve. 


Daniela Rzes dona da Página @entremaesdeanjos, perdeu o bebê com 36 semanas e 06 dias.  Arquivo Pessoal

Para Daniela Rezes, utilizar falas de amor com essas mães é um dos caminhos para amenizar a dor. Mas trabalhar com essa temática e com pessoas tão fragilizadas neste momento é complexo. Assim, a pedagoga teve que fazer mudanças pessoais, ter acompanhamento psicoterápico e se conhecer melhor para se envolver na causa e auxiliar cada vez mais mulheres.

Edição: Virgiane Passos
Por: Sandy Swamy - Jornal O Dia
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