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A vida como um Jardim

Artigo adaptado de texto González Pecotche

07/12/2019 09:42

Os homens vivem em todas as partes do mundo: uns estudando, outros trabalhando; uns lendo, outros escutando, e outros sem fazer nada; mas, entre a enorme quantidade de seres que se movem e cumprem suas atividades na ordem rotineira dos afazeres diários, promovem-se experiências instrutivas para o governo individual.

Todos, sem exceção – uns mais, outros menos –, devem sentir diariamente, e algumas vezes de forma crua, a realidade dessas experiências, cujo valor é muito grande. Pois bem, extrai-se devidamente o fruto de tais experiências? Faz-se delas o uso adequado? É disto, também, que vamos tratar nesta oportunidade.

Vida como um jardim. Foto: Arquivo O DIA.

Geralmente, não se faz qualquer uso e, quando alguém recolhe os resultados delas e os utiliza em suas atuações, o faz de forma egoísta, reservando os benefícios obtidos unicamente para si. Os que por algum motivo triunfaram ou vêm triunfando na vida, raramente dizem de que meios se valeram nem quais experiências lhes foram

de maior utilidade para corrigir sua conduta; enfim, guardam para si o que, segundo eles, conquistaram à custa de muitos sacrifícios, de muitas preocupações ou de muitas amarguras.

Assim, pois, todos – visto que quem priva outros de auxílio sofre, por sua vez, as consequências do mesmo erro por parte de seus semelhantes –, ficam em uma total orfandade, desamparados pela mesma ignorância de tantos conhecimentos que poderiam ser conquistados por meio de tais experiências. Na verdade, se cada um oferecesse a seu próximo o conhecimento que delas se depreende, muitas experiências bastante dolorosas poderiam ser evitadas.

Não existem escritas, em parte alguma – porque possivelmente a ninguém foi dado abarcar semelhante empresa –, as inúmeras experiências pelas quais o ser humano está exposto a passar durante sua vida. Daí que a juventude se encontre completamente órfã de conhecimentos e carente de quem possa guiá-la com verdadeiro acerto pelo mundo no qual penetra, evitando-lhe dar tropeço após tropeço e livrando-a, com isso, do que costuma afetar enormemente o coração, a mente e o espírito nessas ternas idades. Não quero dizer com isso que se deva oferecer-lhe a mais absoluta facilidade, aplainando totalmente o caminho a percorrer, pois isso seria tão absurdo como o anterior; mas sim, facilitar-lhe em parte o percurso desse caminho, ajudando-a nos momentos difíceis com a luz do conhecimento extraído das experiências, com o objetivo de evitá-las. Isto seria uma obra grande, capaz de chegar a infundir muita confiança na humanidade.

A maioria dos seres, para não dizer todos, entra no mundo, repito, às escuras, sem saber aonde vai nem o que quer: os desejos de hoje são as torturas de amanhã; as aspirações se mesclam com as paixões que as anulam, alternando as fortes comoções internas com as inclinações naturais do ser. Que possibilidade se pode ter, então, de encaminhar a vida para uma determinada finalidade, quando se ignora o que se deve fazer e com o que se deverá contar para alcançá-la?

É evidente que se confia ao acaso o que deveria ser confiado ao conhecimento de tais coisas; não digamos à própria experiência, porque, quando chega o momento de confiar nela, já se caminhou muito e a familiaridade com as dificuldades é tal que as experiências se tornam meros incentivos de treinamento para manter ágil a recordação das passadas. É quando o homem, já capacitado, poderia oferecer a seus semelhantes seus conselhos acertados. Isto seria um ato generoso, caridoso, de grande valor.

Não se deve esquecer que, assim como o ser humano está carente de conhecimentos, com muita frequência supre essa carência com um enorme volume de vaidade, orgulho, soberba e superestimação pessoal. E é aí, justamente, quando se equivoca; quando seus passos encontram as pedras que o fazem tropeçar, pois quando a cabeça se ergue impulsionada pela soberba, os olhos não podem ver por onde se caminha.

Encaminhar a vida não é tarefa fácil; não é tarefa simples. É necessário abrir primeiro o entendimento para que os eflúvios do conhecimento penetrem nele; mas abri-lo gradualmente, em uma absorção progressiva de luz que, iluminando a inteligência, ajude a compreender o verdadeiro valor das coisas, que não é o que comumente se lhes atribui. É preciso chegar ao equilíbrio no juízo dos valores para poder discernir, em relação direta consigo mesmo, qual é o valor real que cada coisa possui. É habitual aumentar a dimensão de um valor e diminuir a de outro, conforme as conveniências ou as circunstâncias; mas isso não altera em absoluto seu valor efetivo. Aquele que o aumenta ou diminui é quem se expõe a sofrer as consequências. Assim, por exemplo, alguns costumam dar um valor excessivo a algo determinado e lhe dedicam grande parte de sua vida; tanto, que até chegam a deixar que esta seja absorvida integralmente.

Mas eis que essa vida, ao ser absorvida por esse algo a que foi concedido um valor desmedido, se deprecia quanto à produção de valores positivos, porque o ser perdeu a plena consciência do equilíbrio sobre o valor das coisas.

É possível que nesse instante minhas palavras não sejam compreendidas com clareza. Isto é lógico, visto que estou tratando de um tema profundo; mas, naturalmente, elas devem propiciar um despertar, uma inquietude. Eu apresento uma pergunta e promovo

uma inquietude sobre ela; cabe, portanto, aguçar o entendimento para alcançar seu significado.

Bem, voltando ao pensamento que estava desenvolvendo, acrescentarei que existem pessoas que passam a vida dedicadas ao culto de um valor e, quando envelhecem, se dão conta que esse não era o único, nem o melhor, nem o maior, nem o que mais lhes convinha, e que, ao mesmo tempo que prestavam culto a esse valor, podiam ter feito

o mesmo com muitos outros, consagrando a seu cultivo idêntico empenho, constância e entusiasmo. Digo isto porque, apesar de os seres terem a sensação de que quando deixam de respirar já não existem, posso assegurar-lhes que não é assim, que tal coisa é uma ilusão, porque a existência não pode se reduzir a uns tantos anos de vida. O que acontece é que, quando se deixou de respirar aqui, se começa lá, para onde se deve evitar ir carregado com muitas coisas, uma vez que essa carga impedirá elevar-se mais rapidamente.

Edição: Carlos Bernardo González Pecotche
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