Com 1.637 mortes decorrentes de complicações da Covid-19, o Piauí atingiu nesta terça-feira (18) um patamar preocupante não apenas pelo avanço da doença, mas também porque os casos relacionados à pandemia já ultrapassam números de outras enfermidades bastante conhecidas da população. De acordo com os dados do Painel Registral da Covid-19, compilados pelo Portal da Transparência, o coronavírus já matou mais pessoas no Piauí do que doenças cardiovasculares, por exemplo.

Os números apontam que de 16 de março a 18 de agosto de 2020, o Piauí teve 640 registros de óbitos lavrados em cartório nos quais constam como causa mortis principal a Covid-19. A quantidade é superior, por exemplo, aos registros de óbito por doenças cardiovasculares (401), acidente vascular cerebral (AVC) (478) e infarto (463).

No que respeita à faixa etária, as principais vítimas fatais da Covid-19 no Piauí entre aquelas do sexo masculino são os idosos entre 70 e 79 anos. São 118 óbitos decorrentes da Covid-19 nesta faixa de idade devidamente registrados em cartório. Para efeito de comparação, as mortes atribuídas às doenças cardiovasculares de homens nesta mesma faixa etária no Piauí somam apenas 47 entre março e agosto de 2020. Ou seja, o coronavírus matou mais que o dobro de homens idosos no Estado do que as doenças associadas ao coração.

^{(Foto: Divulgação/Ascom FMS)}

Já entre o público feminino, as mulheres de 70 a 79 anos são as que mais morreram por complicações do coronavírus no Piauí e que tiveram em seus registros de óbito a Covid-19 como causa mortis. Para comparar: nesta mesma faixa de idade, as doenças cardiovasculares aparecem em apenas 30 registros de óbitos. Entre as mulheres de 70 a 79 anos, o coronavírus fica atrás apenas do AVC como causa mortis mais frequente registrada em cartório no Estado nestes oito meses de 2020.

Covid é a doença respiratória que mais mata no Piauí em 2020

Um outro dado que chama atenção no Painel Registral do Portal da Transparência é o de que a Covid-19 também já matou mais que síndromes respiratórias graves e pneumonia no Piauí em 2020. Por exemplo, foram 640 registros de óbito com coronavírus atribuída como causa principal do falecimento no Estado de 16 de março a 18 de agosto. No mesmo período, foram apenas 41 registros com causa mortis atribuída à Síndrome Respiratória 

Aguda Grave (SRAG) e 607 por pneumonia e 541 por insuficiência respiratória.

Na curva das doenças respiratórias registradas nas certidões de óbito lavradas nos cartórios piauienses em 2020, a Covid-19 deu uma disparada em meados de junho e se manteve assim até a metade julho. O pico de registros de mortes em decorrência da doença se deu em 29 de junho no Estado, dia no qual os cartórios do Piauí lavraram 17 óbitos em 24 horas. Para efeito de comparação, neste mesmo dia, não houve nenhum registro de morte por Síndrome Respiratória Aguda Grave e apenas um óbito por pneumonia.

Situação em Teresina

De acordo com o Painel Registral da Covid-19, Teresina possui 356 registros de óbito lavrados em cartório nos quais constam como causa mortis principal o coronavírus. O pico de registros aconteceu no dia 17 de junho, quando em apenas 24 horas, os cartórios da Capital emitiram 13 certidões de morte em decorrência da doença. De 19 de julho até esta terça (18), o número vem decaindo, chegando a apenas dois registros de óbito tendo como causa principal do falecimento a Covid-19.

É importante lembrar que os dados do coronavírus constantes no Painel Registral diferem dos números oficiais divulgados diariamente pelo Governo e Prefeitura, porque se baseiam nas Declarações de Óbito registradas nos Cartórios Piauienses relacionadas à Covid-19, sendo apresentada apenas uma causa para cada óbito. Quando na declaração houver menção de Covid-19, coronavírus ou novo coronavírus, considera-se como causa Covid-19 (suspeita ou confirmada) e então o óbito entra para a estatística do Painel.

Se há menções a outras doenças como Síndrome Respiratória Aguda Grave, Pneumonia, Sepse ou Insuficiência Respiratória, mas sem mencionar a Covid-19, ela não é atribuída como causa mortis.

Leia também: Covid-19: mais de 80% das pessoas que morreram tinham doenças crônicas 

Óbitos no Piauí: julho foi o mês com mais registros de mortes em 2020

No Piauí, o mês de julho de 2020 foi o que mais teve registros de óbitos este ano, contabilizando 1.360 falecimentos. As cidades com mais registros são Teresina (325) e Parnaíba (139). No Brasil, este mês também registrou o maior número de mortes na série histórica dos Cartórios de Registro Civil, iniciada em 2002. De acordo com dados do Portal da Transparência do Registro Civil, foram 133.620 registros de óbitos em todo o País, um aumento de 11,5% em relação ao mesmo período de 2019, quando houve 119.837 falecimentos.

O recorde também é confirmado na pesquisa histórica Estatísticas do Registro Civil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também utiliza como fonte primária os dados dos Cartórios brasileiros.

O segundo mês com maior registro de óbitos no Piauí foi junho, com 1.282 registros, sendo 371 na Capital, Teresina; 51 em Floriano e 50 em Parnaíba as cidades com mais registros. O mês de abril teve 1.261 óbitos, destacando-se as cidades de Teresina (363) e Campo Maior (43) com mais registros. O mês de janeiro teve 1.122 registros de falecimentos, seguido de fevereiro (996); maio (989 e março (901).

Apesar dos números, se considerarmos os registros de óbitos feitos no mesmo período do ano passado, observamos que em 2019 o número de falecimentos foi maior que o registrado este ano. Enquanto o mês de julho de 2020 teve 1.360 registros de óbitos, em 2019 foram 1.396 registros, ou seja, 36 registros de falecimento a mais.

Os meses de janeiro (1.387), fevereiro (1.90) e março (1.195) de 2019 também apresentaram mais registros do que este ano. Já os meses de abril (1.290), maio (1.448) e junho (1.184) de 2019 se destacam por terem registrado mais casos do que em 2020.

No ano de 2018, o Piauí registrou 765 óbitos durante o mês de julho. Em 2017 foram 480 óbitos e em 2016 foram registrados 563 falecimentos.

Óbitos e pandemia no Brasil

A pandemia do novo coronavírus teve importante papel no aumento do número de mortes verificado no último mês de julho com relação a qualquer mês anterior. No Brasil, do total de óbitos registrados em Cartórios de Registro Civil no período, 119.990 ocorreram por causas naturais - ou seja, excluem-se aquelas consideradas violentas e que são decorrentes de causas externas (como, por exemplo, traumas, acidentes, assassinatos, etc.). Desse número, 48,4% dos óbitos (58.023) foram causados por doenças respiratórias - dentre elas, a Covid-19 que, sozinha, causou 27.744 mortes no mês.

Os demais óbitos ocorreram por Pneumonia (10.920), Septicemia (10.860), Insuficiência Respiratória (6.317), Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) (1.475) e Causas Respiratórias Indeterminadas (707). Ainda dentro das mortes registradas por causas naturais estão 8.141 ocorridas por Acidente Vascular Cerebral (AVC), 7.735 por Ataque Cardíaco (Infarto), 8.296 por Causas Cardiovasculares Inespecíficas e, ainda, 37.795 por outras doenças.

Por: Maria Clara Estrêla e Isabela Lopes